Mais de cem países aprovaram hoje (21) uma resolução que determina o combate à xenofobia e à intolerância, durante a Conferência Mundial sobre o Racismo na sede da ONU (Organização das Nações Unidas) em Genebra, Suíça.
Representantes dos países reunidos chegaram a um consenso após intensa discussão. Da proposta original, foram retiradas exigências feitas por países islâmicos. A delegação palestina teve de abrir mão de uma parte que mencionaria o recente ataque israelense à Faixa de Gaza.
Foi incluída no documento, no entanto, a rejeição ao sentimento de ódio ou repúdio a muçulmanos e ao islã, conhecido como islamofobia. Também foi acrescentado um parágrafo sobre a importância de não ser esquecido o Holocausto, que causou a morte de mais de 39 milhões de pessoas, sendo 6 milhões de judeus, além de comunistas, homossexuais, ciganos, eslavos, deficientes e outros grupos considerados indesejados pelo regime nazista.
A declaração reafirma princípios acordados na primeira conferência, oito anos atrás, em Durban (África do Sul), quando Estados Unidos e Israel se retiraram porque muitos participantes exigiram do Estado judeu retratações sobre o tratamento dado aos palestinos. Na ocasião, Israel foi citado nominalmente no documento final.
Dessa vez, as delegações norte-americana e israelense decidiram não participar, assim como as de outros sete países. As contribuições de alguns países asiáticos qualificam as políticas israelenses em relação aos palestinos como “novo apartheid”, “um crime contra a humanidade” e “uma forma de genocídio”.
Ontem, o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, referiu-se a Israel como um “governo totalmente racista” e disse que o país foi fundado “sob o pretexto do sofrimento judeu e o abuso da questão do Holocausto”. Várias delegados deixaram o recinto em protesto contra o discurso.
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O governo brasileiro criticou o presidente iraniano. Em nota divulgada hoje, o Ministério das Relações Exteriores afirma ter tomado conhecimento, “com particular preocupação, do discurso do presidente iraniano, que, entre outros aspectos, diminui a importância de acontecimentos trágicos e historicamente comprovados, como o Holocausto”. Diz considerar que manifestações dessa natureza “prejudicam o clima de diálogo e entendimento necessário” e que aproveitará a visita de Ahmadinejad ao Brasil, prevista para 6 de maio, para reiterar suas opiniões.
O encontro termina sexta-feira (24) e, embora os representantes possam discursar livremente nos próximas dias, a carta não poderá ser modificada. Oficiais da ONU esperam que o rápido consenso sobre o texto, negociado durante meses, fará com que o foco da conferência seja direcionado para questões como as ligações entre pobreza e discriminação e as formas para prevenir ataques xenófobos contra trabalhadores estrangeiros.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, elogiou a resolução: “O documento é muito equilibrado e estabelece um marco concreto de ação em uma campanha global na busca da justiça para as vítimas do racismo no mundo”.
A alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, agradeceu a “flexibilidade” de palestinos e países da Organização da Conferência Islâmica “em assuntos cruciais para eles”. “Invoquei repetidamente a plena participação dos Estados-membros da ONU e pedi que não percam de vista que o objetivo da conferência é conseguir sociedades livres de discriminação”.
Boicote
Nove países não participaram do encontro, alegando que poderia se tornar um ato anti-semita: Israel, Estados Unidos, Canadá, Itália, Austrália, Holanda, Polônia, Nova Zelândia.
“Temos razões para temer que a conferência possa ser usada de novo como uma plataforma para divulgar opiniões contrárias ao espírito de respeito em relação a todas as nações e religiões”, declarou o governo polonês em comunicado oficial.
O Departamento de Estado norte-americano também se pronunciou por nota oficial, dizendo: “O texto ainda contém uma linguagem que reafirma a Declaração e o Programa de Ação de Durban, de 2001, que os Estados Unidos há tempos dizem não ter condições de apoiar”.
Ban Ki-moon afirmou que “algumas nações” que decidiram não participar da reunião deveriam ter deixado as diferenças de lado e comparecido.
Clique aqui para ler o rascunho do documento aprovado hoje.
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