Parlamentares e ativistas mexicanos denunciaram nesta segunda-feira (18/10) existência de “esquadrões da morte” responsáveis por parte dos 28.500 assassinatos registrados em quase quatro anos de luta armada contra o narcotráfico, desde a posse do presidente Felipe Calderón.
O senador de esquerda Ricardo Monreal, que pertence ao minoritário PT (Partido do Trabalho) e é ligado ao ex-candidato presidencial Andrés López Obrador, afirmou que no mês passado o Senado solicitou formalmente ao Cesen (Centro de Investigação e Segurança Nacional) informações detalhadas sobre os “esquadrões”.
“Estes grupos atuam na margem da lei com cumplicidade, reconhecimento ou tolerância do Estado mexicano”, assinalou Monreal, ex-governador do estado de Zacatecas, no centro do país, e líder da bancada de seu partido na Casa.
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O parlamentar apontou que milhares de soldados e oficiais desertores do Exército, além de policiais demitidos por corrupção, formaram organizações de “paramilitares treinados”.
Entre os suspeitos de contratar os grupos irregulares estariam Mauricio Fernández, prefeito do município de San Pedro Garza García, em Nuevo León, nas proximidades da capital do estado e principal centro econômico do México, Monterrey.
“Esse prefeito não é o único. Os governadores têm grupos de extermínio, de 'limpeza', adestrados e selecionados como grupos de elite, e que atuam fora da lei”, denunciou Monreal. “Até agora o Senado está reconhecendo sua existência e estamos à espera da informação. Seria kafkiano dizer que não existem”, acrescentou.
De acordo com o legislador, empresários vêm contratando os esquadrões para frear a onda de assassinatos, sequestros e extorsões em grandes cidades dos estados de Jalisco, no oeste, Nuevo León, Coahuila e Tamaulipas, no norte. Organismos civis de diversas regiões mexicanas afetadas pelo narcotráfico também já se uniram às denúncias.
O advogado Miguel Angel García, líder da Frente Contra a Impunidade, ONG que atua no estado nortista de Sinaloa, disse que durante uma década reuniu evidências sobre a atividade de “esquadrões da morte, causadores de milhares de sequestros e homicídios”.
“A participação destes esquadrões é pública não só em Sinaloa, mas em todo o país”, declarou García, afirmando que os grupos “operam vestindo uniformes, como patrulhas, com armamento, identificações e códigos iguais aos das forças do Estado”.
Em 2001, o advo gado se mudou para o estado de Baixa Califórnia, na fronteira com os Estados Unidos, e formou a Associação Esperança, junto a familiares de desaparecidos. Em nove anos, a entidade documentou 1.800 casos de pessoas sequestradas por paramilitares, quatro vezes mais do que os números da procuradoria local.
“Em Baixa Califórnia, batizaram estes grupos de extermínio de 'comandos negros', cuja presença foi notável sobretudo a partir de meados de 2005”, afirmou García. Segundo ele, “muitas ações foram seletivas para assassinar pessoas, não só para sumir com elas”.
“Há desaparições políticas, mescladas à impunidade, produto de toda essa guerra fratricida, equivocada”, continuou o advogado, assinalando que há “um silêncio terrível” sobre os crimes cometidos pelos grupos paramilitares. “Ninguém conta o que realmente ocorre, e se forem reveladas as cifras negras, veríamos que não são 28 mil mortos, como diz o governo, mas mais de 40 mil”, assegurou García.
A intensa onda de violência que assola o México atingiu os níveis atuais depois que Calderón assumiu o governo, em dezembro de 2006, e mobilizou as Forças Armadas para combater os narcotraficantes. Recentemente, o presidente admitiu que sua estratégia de enfrentamento direto não vinha dando o resultado esperado, e anunciou mudanças.
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