Um dos principais conflitos territoriais da América do Sul teve seu fim decretado nessa semana. Depois de 74 anos da Guerra do Chaco (1932-1935), os governos do Paraguai e Bolívia – com mediação da Argentina – assinaram em Buenos Aires um documento que conclui a demarcação entre os países fronteiriços, que se enfrentaram no passado pelo território localizado a noroeste do Paraguai e a sudeste da Bolívia, na junção dos rios Pilcomayo e Paraguai.
Ainda existem casos de tensão na região, mas em vez do uso de armas, como no passado, os países hoje recorrem à justiça. Em janeiro de 2008, o Peru levou o Chile à Corte Internacional de Justiça em Haia por entender que dezenas de milhares de quilômetros de território marítimo que estão sob domínio chileno são de direito peruano. Ambos os países se enfrentaram em 1879 na Guerra do Pacífico, da qual também participou a Bolívia. Segundo o governo chileno, o traçado dos limites se realizou de forma conjunta e está respaldado juridicamente, e por isso, a reclamação peruana é inconsistente.
A Bolívia, outro país prejudicado pela Guerra do Pacífico, já que perdeu a saída que tinha para o mar, rompeu relações diplomáticas com o Chile em 1978 e ainda não as restabeleceu. Com a posse do presidente Evo Morales, se estabeleceu uma agenda de trabalho para avançar nesse sentido. A demanda marítima é parte dos reclamos e a Bolívia não descarta levar o Chile ante os tribunais internacionais. “Estamos lidando com este tema de forma bilateral, mas não descartamos alternativas, não as descartaremos nunca”, disse em março o ministro das Relações Exteriores boliviano, David Choquehuanca.
Casos de sucesso
Por outro lado, há exemplos de acordos bem sucedidos. Em 1998, Peru e Equador firmaram um acordo de paz que pôs fim a uma disputa fronteiriça que se prolongou por quase 100 anos e motivou vários enfrentamentos armados, o mais recente em 1995. Em maio de 1999, Argentina e Chile firmaram um acordo que pôs fim ao conflito pelas geleiras continentais do sul.
A partir de dezembro de 2008, a Unasul (União de Nações Sul-Americanas ), que integra doze países da América do Sul, conta com um Conselho de Defesa pensado precisamente para resolver de forma pacífica este tipo de conflitos, que possivelmente mude o padrão das disputas atuais e futuras.
O caso mais recente, entre Paraguai e Bolívia, foi mediado pela Argentina – que se posicionou a época do conflito do Chaco de forma neutra. Também oficiaram Brasil, Chile, Estados Unidos, Peru e Uruguai. A presidente argentina, Cristina Kirchner, celebrou a resolução da disputa e culpou fatores externos pela guerra, em especial os interesses das empresas petrolíferas pelo controle da região, onde se supõe que existam importantes reservas de hidrocarbonetos.
Morales fez considerações parecidas. “A guerra entre o Paraguai e a Bolívia não foi provocada por seus povos, mas foi impulsionada pelas transacionais para controlar os recursos naturais”, afirmou. Ambos os países também disputavam o controle do rio Paraguai, fundamental para o acesso ao Oceano Atlântico.
Os mandatários afirmaram que a Guerra do Chaco é um exemplo para o futuro. Um exemplo de que a integração é necessária e de que não se deve admitir a ingerência externa. “Para que nunca mais na América do Sul as apetências externas nos enfrentem, aprendamos a extirpar as desconfianças que prejudicam as nossas relações”, declarou Lugo.
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