Deputada aliada de Milei revela projeto para libertar torturadores da ditadura argentina
Proposta foi vazada pela parlamentar Lourdes Arrieta e teria como objetivo defender a liberdade de repressores maiores de 70 anos, alegando ‘razões humanitárias’
A deputada argentina Lourdes Arrieta, integrante do partido de extrema direita A Liberdade Avança, revelou em suas redes sociais, entre sábado e domingo (24 e 25/08), as conversas de um grupo de WhatsApp onde ela e outros legisladores da sigla organizaram, em julho passado uma visita a ex-militares condenados por violações aos direitos humanos cometidas durante a última ditadura do país – que vigorou entre 1976 e 1983.
Em meio aos detalhes sobre a visita aos repressores da ditadura, as conversas também mostraram uma articulação entre os parlamentares para escrever um projeto de lei que defenderia a libertação de condenados por delitos contra os direitos humanos.
O projeto teria como objetivo libertar os militares presos com mais de 70 anos, alegando supostas “razões humanitárias”, devido à idade avançada dos mesmos.
No entanto, a iniciativa teria sido descartada pelo partido semanas depois, por causa da repercussão negativa que a visita dos parlamentares governistas aos repressores teve na imprensa, a qual teria afetado a popularidade do presidente Javier Milei.
‘Almoço’ com padre filho de repressor
As conversas aconteceram em um grupo de WhatsApp chamado “Almoço informal com o Padre Javier”, em referência ao sacerdote Javier Olivera Ravasi, considerado o principal articulador da visita e filho de um ex-militar condenado – Jorge Antonio Olivera, culpado dos crimes de sequestro, torturas e desaparecimentos forçados. O “almoço informal” seria o nome código da visita.
Olivera Ravasi também é ligado à vice-presidente argentina, Victorial Villarruel, também integrante do partido governista A Liberdade Avança e figura que, antes de entrar para a política, foi advogada de militares violadores dos direitos humanos.

Lourdes Arrieta vazou as conversas nas quais deputados aliados de Milei planejavam um projeto para beneficiar torturadores
Na visita dos parlamentares aos presídios de Ezeiza e Campo de Mayo, o grupo se encontrou com ex-militares como Alfredo Astiz, Raúl Guglielminetti, Carlos Suárez Mason e Adolfo Donda, todos eles considerados culpados por sequestros, torturas, assassinatos, desaparecimentos forçados, estupros e roubos de bebês cometidos durante a última ditadura argentina.
Na série de publicações com a qual vazou as conversas, Arrieta assegura que foi enganada por seus colegas de bancada e que não sabia de quem eram os presos visitados naquela jornada, alegando que nasceu em 1983 e que “nem era nascida quando isso (violações aos direitos humanos durante a última ditadura argentina) aconteceu”.
Violência de gênero
A decisão da deputada Arrieta de vazar as conversas teria acontecido após um caso de violência de gênero dentro do partido A Liberdade Avança, a legenda ultra libertária fundada pelo atual presidente da Argentina, Javier Milei.
O episódio teria ocorrido na última quinta-feira (22/08), em uma reunião que, segundo o diário Página/12, foi marcada por “gritos que se escutavam do lado de fora da sala fechada”, e após a qual Arrieta denunciou formalmente à Justiça um dos seus colegas de bancada, Nicolás Mayoraz.
Também segundo a imprensa argentina, a reunião em questão teria sido pautada pela polêmica relacionada à visita aos repressores, e também pelas derrotas que os governistas vinham acumulando recentemente no Congresso – como a aprovação de um projeto que reajusta as aposentadorias.
De acordo com alguns meios, o vazamento das conversas teria sido uma represália de Arrieta contra seu próprio partido, que teria ficado ao lado de Mayoraz e estaria cogitando sua expulsão da legenda após a mencionada reunião.
Com informações de Página/12.
