Mais um escândalo de abuso financeiro por um deputado no Reino Unido foi revelado hoje (21). O conservador Peter Viggers é acusado de ter pago com dinheiro dos contribuintes as despesas da construção de uma ilha flutuante para patos em seu sítio.
Segundo o jornal The Daily Telegraph – que publicou as primeiras denúncias de mau uso de dinheiro público no dia 8 de maio –, Viggers pediu o equivalente a 1,85 mil euros para uma ilha flutuante em sua casa de campo, além de outros 33 mil euros para despesas de jardinagem. O Partido Conservador divulgou um comunicado para anunciar que o deputado não vai disputar a reeleição, a pedido do líder da legenda, David Cameron.
Devido a esse e outros escândalos, como políticos que usaram verba pública para pagar filmes pornográficos, esterco de cavalo e coroas de flores para soldados mortos, além de utilizar o auxílio-moradia para reformar a própria casa e pagar prestações de imóveis, a Câmara dos Comuns, como é chamada a casa legislativa dos deputados, vem sofrendo grande pressão, tanto interna quanto da opinião pública.
Na terça-feira, o presidente da Câmara, o trabalhista Michael Martin, cedeu à pressão que vinha sofrendo e renunciou. Martin é o primeiro presidente do Parlamento forçado a deixar o cargo em mais de três séculos. Apesar de não se ter beneficiado das verbas, Martin foi criticado por ter criado um ambiente que permitiu o exagero ao tentar bloquear diversas vezes a publicação de detalhes sobre as despesas.
Brown pede desculpa
Também sob forte pressão, o premiê britânico, Gordon Brown, rejeitou ontem (20) a sugestão de antecipar as eleições legislativas, previstas para 2010, frente a crescentes pressões nesse sentido da oposição, que tenta atribuir ao governo responsabilidade pelo escândalo. Brown exortou todos os partidos a assumirem responsabilidade. “Todos os partidos devem assumir a responsabilidade. Eu a assumo. Peço desculpas ao povo pelo que aconteceu”.
Em entrevista a uma emissora de televisão, Brown disse que a convocação traria “caos” justamente no momento em que o país enfrenta a crise econômica global. O premiê defendeu, em vez disso, reformas no controle dos gastos parlamentares.
Brown afirmou que sabia do que acontecia na Câmara dos Comuns, e disse que haverá disciplina assim que o novo sistema de despesas for estabelecido. “Faremos uma limpeza, teremos disciplina, teremos um novo sistema”, ressaltou o primeiro-ministro, que destacou a necessidade de um organismo externo supervisionar as despesas. “Não acredito que o povo ficará satisfeito se não houver alguém independente que revise tudo e nos informe que a situação anda bem”.
Tanto o primeiro-ministro quanto o líder da oposição conservadora, David Cameron, comprometeram-se a impor mais controle sobre seus correligionários e devolver a dignidade ao sistema político.
Guinada à direita?
O Partido Nacional Britânico (BNP), legenda de extrema direita contrária à imigração e à União Europeia (UE), registrou um aumento de adesões desde o surgimento do escândalo das despesas parlamentares na Grã-Bretanha, de acordo com o líder do partido, Nick Griffin. Nas últimas eleições europeias, em 2004, a legenda conquistou quase 7% dos votos em alguns distritos, mas não obteve nenhum assento entre os 785 do Parlamento da UE.
Griffin, em campanha no noroeste industrial do país na corrida para as eleições europeias do dia 4 de junho, disse que ficou chocado com a dimensão da fúria pública com relação a membros do Parlamento. Segundo ele, os escândalos ampliaram a filiação a seu partido. “As coisas estão muito boas para nós nas ruas de Carlisle”, disse, referindo-se à cidade manufatureira do noroeste britânico. “A revolta ali é muito forte e a resposta que tivemos, muito boa, melhor até do que há três semanas. Atribuo isso aos escândalos das despesas”.
Em entrevista ao The New York Times, enquanto acompanhava a caminhada do BNP por Carlisle, uma senhora de 76 anos disse que não votará no partido Trabalhista nem no Conservador nas eleições européias. “É repugnante que eles digam que não fizeram nada de errado. Estou considerando a possibilidade de votar no BNP”, afirmou Sylvia Hodges.
Em outra caminhada, o deputado trabalhista Brian Simpson relatou a frieza com que foi recebido pelos eleitores no norte da Inglaterra. “É uma situação única em meus 30 anos de política. Era possível ver nos rostos das pessoas que elas estavam infelizes”.
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