A chegada da gripe A (H1N1) aos Estados Unidos foi tão repentina e sem avisos que há duas semanas, quando a equipe de segurança do aeroporto de Miami viu os primeiros passageiros vindos do México usando máscaras, pensou logo que se tratava de um ataque terrorista. O cenário não é um exagero, afirmou ao Opera Mundi um funcionário da Agência de Segurança do Transporte (TSA, na sigla em inglês).
Após receberem esclarecimentos, os guardas – assim como a maioria dos norte-americanos, ainda traumatizados com os atentados de 11 de setembro de 2001 – tiveram de recordar longas sessões de treinos e começaram imediatamente a responder à crise. “Não houve pânico, mas a princípio eles não perceberam o que estava acontecendo. Depois corrigiram a situação e começaram a ajudar na triagem epidemiológica”, disse a fonte, que pediu não ser identificada porque não está autorizada a falar com jornalistas.
Mas esta cena não foi verificada apenas em Miami. Episódios parecidos aconteceram por todo o país, junto a uma sociedade que facilmente se assusta ante o desconhecido. Houve aqueles que pediram o fechamento dos cinco pontos fronteiriços com o México e se falou inclusive de um “ataque” contra os Estados Unidos.
É o caso de Michelle Malkin, comentarista da cadeia Fox, que não duvidou em dizer perante as câmeras que “durante anos escrevi sobre a expansão de doenças contagiosas, vindas de todo o mundo por causa da imigração descontrolada”. Seu colega, Michael Savage foi mais longe. “Foram os estrangeiros ilegais que trouxeram a febre suína do México”, afirmou.
Mas o campeão da campanha xenófoba foi o locutor da emissora WTKK-FM96.9, de Boston, Jay Severin. “Os Estados Unidos são como um imã que atrai os primitivos mais baixos de todo o planeta. Não os culpo, apenas observo que são selvagens, que entram no nosso país vindo do México empobrecido e ocupam já metade dos Estados Unidos. São pobres, sem educação, sem idioma, sem cultura e que nunca foram vacinados”, disse Severin, seguido de fortes críticas de organizações de imigrantes.
O governo se negou a fechar as fronteiras. Em contrapartida, enviou ao México um laboratório portátil para fazer análises e identificar casos positivos do vírus H1N1. “Não vale a pena fechar a fronteira, porque já temos o vírus aqui dentro”, apontou a secretária de Segurança Nacional, Jannet Napolitano.
Segundo confirmou ontem (5) ao Opera Mundi, o porta-voz do Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês), Scott Bryan, neste momento estão identificados nos Estados Unidos 403 casos da gripe, espalhados por 38 estados. Já houve dois mortos.
Entre os estados afectados, encontram-se a Flórida (5), Texas (41), Califórnia (49), Geórgia (1) e Nova Iorque (90), todos com vários voos diários para cidades brasileiras.
Formas de combate
As autoridades sanitárias estão combatendo a pandemia das duas únicas formas possíveis neste momento, explicou Bryan: desenvolvendo um medicamento e identificando novos casos.
“Não vale a pena que nos concentremos numa vacina com urgência, porque já estamos sofrendo com a doença. É melhor procurar a cura porque uma vacina só serve para evitar a doença”, disse.
Trata-se de um processo que poderia demorar ainda duas semanas, uma vez que os cientistas já identificaram a variante da gripe A. Os Estados Unidos já dispõem de cerca de 50 milhões de vacinas, que estão guardadas a sete chaves numa base aérea no estado de Ohio, debaixo da vigilância da Guarda Nacional.
A ideia é começar a usar essas vacinas quando a pandemia diminuir, porque o verão costuma ser a época de maior casos de febre e constipações nos Estados Unidos. “Queremos evitar que a pandemia volte a ganhar força, nesse momento em que as pessoas têm baixas as defesas”, afirmou o director do CDC, Richard Besser, na semana passada.
No meio disto tudo, a venda de máscaras de proteção das vias respiratórias vai de vento em popa. Numa consulta ao site da Amazon, constata-se que estão sendo vendidas rapidamente, por um preço módico entre 15 e 25 dólares cada caixa de 20 máscaras. Há três modelos diferentes.
NULL
NULL
NULL