Os efeitos da crise internacional sobre a economia canadense têm levado mais pessoas a recorrer a postos de distribuição de comida para garantir sua alimentação, de acordo com um relatório lançado no mês passado pela ONG Daily Bread Food Bank. Desde o agravamento da situação, em setembro de 2008, o desemprego no Canadá registra fortes altas, ao mesmo tempo em que o número de assistidos por programas de distribuição de mantimentos não para de subir.
De acordo com o documento, de janeiro a março deste ano aumentou 17% o número de pessoas que procuraram os postos de distribuição gratuita de alimentos mantidos pela entidade na Grande Toronto, em comparação com o mesmo período do ano passado – uma média de 85 mil atendimentos por mês. Só no mês de março de 2009, por exemplo, a procura foi 23% maior do que em março de 2008.
O documento aponta o desemprego como principal motivo do aumento da demanda por alimentos. Dentre as duas mil pessoas entrevistadas para a produção do relatório, 35% afirmaram que recorreram aos bancos de comida porque perderam seu trabalho. Outras 6%, porque tiveram sua jornada diária reduzida.
Clientela
“Desde setembro, a procura aumentou e tem muitos novos clientes [assistidos]”, diz Christine Hewit, agente social da Daily Bread e uma das responsáveis pelo posto que funciona em uma igreja do bairro de Sherbourne, região central de Toronto. “Um diretor financeiro que perdeu seu emprego em um banco por causa da crise, agora vem aqui todo mês. Nunca tinha visto uma situação como esta”.
Omar Musa, 43 anos, é um dos desempregados que tem recorrido ao banco de alimentos de Sherbourne ultimamente. Na semana passada, ele enfrentou alguns minutos na fila para receber um pacote de macarrão, molho de tomate, leite e outros mantimentos. “Qualquer coisa ajuda”, diz ele, enquanto aguarda ser chamado pelos voluntários.
Musa nasceu no Sudão e vive no Canadá há cinco anos. Foi demitido da fábrica em que trabalhava empacotando DVDs em junho do ano passado e, desde então, tem feitos alguns trabalhos temporários. “O dinheiro não é suficiente. Tenho que vir pegar comida pelo menos uma vez por mês” conta. “Está difícil conseguir um trabalho fixo por aqui”.
Deficiências
Para o diretor da Daily Bread e coordenador do relatório da entidade, Michael Oliphant, a tamanha demanda nos bancos de comida mostra que os programas sociais canadenses não estão funcionando como deveriam. Segundo ele, apesar do número de beneficiários do seguro-desemprego ter saltado de 550 mil para 750 mil nos quatro primeiros meses deste ano, só 17% dos desempregados que procura os bancos de comida diz receber o benefício.
“As regras do seguro-desemprego passaram por reformas que dificultaram o acesso da população”, explica Oliphant. “Os requisitos para obter o seguro aqui em Toronto, por exemplo, onde a taxa de desemprego é historicamente mais baixa, são muito rígidos. Poucos desempregados conseguem”.
Desemprego
Em maio, a taxa de desemprego da economia canadense subiu 0,4 ponto percentual e atingiu 8,4% _ a maior taxa dos últimos 11 anos. Dados do governo apontam que em um mês foram cortadas 41 mil vagas de trabalho ou 0,2% de toda a população economicamente ativa (PEA) do país.
Desde de janeiro do ano passado, quando o desemprego baixou ao menor nível dos últimos anos e atingiu os 6% da PEA, o percentual de trabalhadores sem trabalho aumentou cerca de 40%.
Neste mesmo período, o PIB (Produto Interno Bruto) canadense também registra resultados negativos históricos. No primeiro trimestre de 2009, a soma das riquezas produzidas no país caiu 1,4% _ o maior recuou desde 1991. No trimestre anterior, o PIB já havia recuado quase 1%.
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