A centro-direita confirmou sua condição de principal força do Parlamento europeu nas eleições do fim de semana, que também revelaram queda dos social-democratas e melhora no desempenho dos verdes. Mesmo com quatro cadeiras a menos que no pleito anterior, em 2004, o Partido Popular Europeu-Democratas Europeus (PPE-DE), que reúne os segmentos mais conservadores, continuará sendo o grupo mais numeroso. Em princípio, os conservadores contarão com 263 deputados de um total de 736. Os socialistas terão 161 representantes, os liberais, 80, e os verdes, 52.
De acordo com analistas ouvidos pelo Opera Mundi, não se pode apontar uma razão única para a consolidação da direita no continente. Em cada país, o comportamento do eleitor teve peculiaridades e motivações diferentes.
“Cada eleição teve a ver com o clima político do país. Na Inglaterra, há um tradicional bipartidarismo entre os partidos Conservador e Trabalhista, ou seja, ou se vota em um ou no outro. Com a recente onda de escândalos financeiros no Parlamento britânico, o primeiro-ministro Gordon Brown, trabalhista, ficou fragilizado. Os conservadores cresceram, assim como a extrema direita. Não é realmente um voto de adesão, e sim de rejeição”, explica Stephane Monclaire, professor de Ciências Políticas na Universidade Sorbonne, em Paris.
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O Partido Trabalhista ficou em terceiro lugar, com 16% dos votos. O Conservador conquistou 27% e o antieuropeu Ukip (Partido da Independência do Reino Unido, na sigla em inglês), 17%.
Pela primeira vez na história da Inglaterra, um partido de extrema direita conquistou assentos no Parlamento europeu. O BNP (Partido Nacional Britânico, na sigla em inglês) computou 8% dos votos e ocupará duas cadeiras.
Itália
“No caso da Itália, mesmo com o escândalo recente envolvendo o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, não houve rejeição popular. A consolidação da direita italiana se deveu mais a uma relativa incapacidade dos partidos de oposição de se recuperar, de refazer propostas e plataformas, após anos de falhas”, conclui Monclaire.
Para Donato di Santo, ex vice-ministro das Relações Exteriores do PD (Partido Democrático), tanto o PDL (Partido Povo da Liberdade), de Silvio Berlusconi, quanto o PD, de centro-esquerda, saíram perdendo.
“Berlusconi afirmava que a coligação conquistaria 40% dos votos, o que não aconteceu (o PDL teve 35,2%). É uma perda. Já há uma discussão forte dentro do partido, que ficou insatisfeito com o resultado. E o PD teve uma queda, mas não de forma tão catastrófica. Quem perdeu mais foram os partidos de extrema esquerda e quem ganhou, o de extrema direita, a Liga Norte. Em termos gerais, houve um retrocesso generalizado da esquerda da Europa”.
Com uma política anti-imigração, a Liga Norte, partido aliado a Berlusconi, conquistou 10% dos votos.
França
A esquerda também se deu mal na França. O PS (Partido Socialista) perdeu 10 pontos percentuais em relação a 2004, passando de 28,9% para 17,5%. Já os Verdes devem crescer de 7,7% para 14,8%.
“O PS está fragilizado pela falta de união e pelo crescimento da extrema esquerda. Não somente há uma queda de legitimidade do PS, mas também efeitos conjunturais como a crise e o desemprego. Como o PS não faz propostas críveis, há uma tendência de parte do eleitorado de se refugiar no voto à direita. O PS também é vítima do crescimento dos partidos verdes”, analisa Stephane Monclaire.
O partido de Nicolas Sarkozy, UMP (União por um Movimento Popular), conquistou 28% dos votos.
“Mas a vitória do UMP é pontual. Juntando o PS, a extrema esquerda e os verdes, há superioridade se comparado com o UMP. Nas próximas eleições nacionais, caso haja uma união entre essas forças de oposição e a escolha de um bom candidato, há chances de vitória”, diz o analista.
Outra grande surpresa foi o resultado ruim do MoDem (Movimento Democrático), que representa o centro. Seu líder François Bayrou, que se coloca há meses como o principal opositor de Nicolas Sarkozy, obteve somente 8,5% dos votos. “A campanha do partido foi centralizada em críticas a Sarkozy, o que foi mal visto entre seu eleitorado”, explica Monclaire. “O exemplo francês demonstra que não existe uma relação automática entre aumento do desemprego e evolução da extrema direita”.
Alemanha
A Alemanha também viu uma consolidação do grupo conservador, no qual a CDU (União Democrata Cristã) da chanceler Angela Merkel e seus parceiros bávaros da CSU (União Social Cristã) acumularam 42 cadeiras. As duas legendas alcançaram entre 38% e 38,5% dos votos, enquanto o SPD (Partido Social-Democrata), que faz parte da coalizão de governo, teria obtido entre 21% e 21,5%.
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