A partir desta quarta-feira (01/08), entra em vigor na
Dinamarca a proibição para as mulheres muçulmanas deixarem de usar o nicabe e a
burca, vestimentas islâmicas que cobrem o rosto, determinação que poderá se
estender para o hijab (o véu que cobre apenas o cabelo e o pescoço). A
legislação dinamarquesa segue exemplo do que ocorre na França, Bélgica,
Bulgária, Letônia, Áustria e regiões da Suíça, Itália e Alemanha.
A multa pela desobediência pode chegar a mil coroas dinamarquesas, cerca de R$
590. Porém, as muçulmanas da Dinamarca resolveram enfrentar a lei e
protestar. Convocaram para esta quarta-feira uma manifestação pacífica em
favor da liberdade religiosa e do direito de usar os trajes do Islã.
Para Francirosy Campos Barbosa, antropóloga e especialista
em estudos do Islã, professora do departamento de Psicologia da Universidade de
São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, há um processo de alijamento dos muçulmanos,
acentuando a islamofobia e o banimento dos seguidores do Islã.
“Eu me pergunto quantas são as mulheres muçulmanas que usam
nicabe e burca na Dinamarca? Ainda não encontrei esses dados”, reagiu. “É uma
lei totalmente arbitrária e que atinge diretamente as mulheres, pois muitas
usam o véu desde os 10, 12 anos. Adultas, sem o uso do nicabe [cobertura da
cabeça aos pés, incluindo o rosto], não se sentem à vontade.”
NULL
Lei que proíbe uso de nicabe e burca entrou em vigor nesta quarta-feira (01/08) na Dinamarca (Foto: Chris Beckett/Flickr CC)
A lei aprovada pelo Parlamento da Dinamarca pretende
garantir que mulheres adultas ou jovens não sejam obrigadas a cobrir os rostos.
Os defensores da proposta afirmam que a proibição assegura a integração dos
imigrantes que pleiteiam asilo à sociedade dinamarquesa.
Discriminação
Estudiosa do tema, a professora Francirosy Barbosa alerta
que uma legislação que veta o direito à cultura religiosa para encobrir
preconceitos tem um objetivo: o da exclusão. “O sentido é deixar os muçulmanos
cada vez mais coagidos para provar que eles não são ‘daquele lugar’. É um
disparate.”
O protesto organizado pelo grupo Kvinder I Dialog (Mulheres
em Diálogo), na Dinamarca, pode servir como advertência sobre o respeito e a
preservação dos direitos das mulheres como um todo, segundo a especialista.
“Temos muito o que avançar quando se trata de direitos das
mulheres, mas isso não é a particularidade de uma cultura ou religião, isto tem
que ser uma mudança mundial, mas que deve partir, sobretudo, das mulheres”,
disse. “Nossa luta é para que cada uma encontre sua maneira de ser respeitada
dentro do seu universo, dentro da sua religião, respeitando a sua identidade, a
noção de pessoa e não necessariamente tem que ser moldada pelas ou pelos
ocidentais.”