O ex-chanceler e atual ministro da Defesa, Celso Amorim, classificou a diplomacia implementada pelo Brasil até o início do governo Lula, em 2003, como “excessivamente domesticada e facilmente domesticável”. Ovacionado por uma plateia formada basicamente por centenas de estudantes, Amorim contou uma série de casos para mostrar a maior autonomia da política externa brasileira nos oito anos em que esteve na chefia do Itamaraty.
Vitor Sion/Opera Mundi
“Antes do presidente Lula, havia uma concepção, que talvez tenha sido acertada em algum momento, mas não quando assumimos, de que Brasil não poderia tomar as decisões que queria por não ter excedente de poder. Era uma visão excessivamente domesticada e facilmente domesticável”, argumentou.
De acordo com o ex-chanceler, o objetivo da diplomacia brasileira sob o governo Lula era “contribuir para uma nova ordem política internacional”, sem se submeter a nenhuma potência. “Na política externa, você pode reagir com uma agenda dada ou criar uma agenda própria que influencie a comunidade internacional, o que foi uma das características do governo Lula”, explicou.
“Eleição do Lula em 2002 ocorreu com aquele sentimento na população de que 'é possível mudar o Brasil'. Usamos essa ideia para mudar a nossa atitude nas relações internacionais”, analisou.
Uma das histórias lembradas pelo ministro diz respeito à criação do grupo “Amigos da Venezuela”, pouco depois da chegada do presidente Lula ao poder, para colocar fim à crise política no país vizinho, onde houve uma tentativa de golpe contra Hugo Chávez em 2002.
“Até então, todas as soluções eram discutidas na OEA [Organização dos Estados Americanos]. Para mim esse processo tinha um gosto ‘monroísta’ [em alusão à norte-americana doutrina Monroe, cujo lema é ‘A América para os americanos’]. Os EUA defendiam eleições antecipadas, mas nós decidimos pelo referendo revogatório, que era uma ferramenta prevista na Constituição do país”, lembra Amorim.
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Questionado por Opera Mundi sobre a possibilidade levantada pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, de que os EUA poderiam ter grampeado informação privilegiada sobre a compra de caças para a FAB (Força Aérea Brasileira), o ministro da Defesa disse “os comandantes das Forças Armadas não detectaram nenhum vazamento de dados sigilosos” sobre o assunto. “Não detectaram, mas se houve ou não houve ninguém nunca vai saber com certeza.”
Amorim também disse que, até esta semana, não tinha conhecimento da vistoria realizada por autoridades bolivianas ao avião que o levou para o país vizinho, em 2011. O ex-chanceler participou da última mesa de debates desta terça-feira (16/07) da conferência “2003-2010: Uma nova política externa”, na Universidade Federal do ABC, e foi o palestrante mais aplaudido do dia. O evento continua hoje e amanhã, quando o presidente Lula fará parte do ato de encerramento.