Uma aliança de partidos de direita impediu que o Parlamento espanhol aprovasse nesta quarta-feira (22/01) um amplo pacote de medidas sociais apresentado pelo governo do primeiro ministro Pedro Sanchez, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE).
Com isso ficou suspenso o reajuste anual das aposentadorias e pensões, o subsídio de 50% ao transporte público, vigente desde 2022, e anulada a suspensão dos despejos de pessoas em situação vulnerável.
O governo do PSOE propunha um aumento geral de 2,8% de todas as pensões e aposentadorias, de 6% para as pensões mínimas e 9% nas pensões assistenciais e de renda mínima (Ingresso Mínimo Vital-IMV).
Foi cancelado também o aumento do salário mínimo para 1.134 euros em 14 pagamentos ao ano. O pacote incluía ainda ajudas para a reconstrução de Valência, devastada pelas inundações, e da ilha de Las Palmas, destruída por uma erupção vulcânica.
Foi determinante para a derrota do pacote o alinhamento dos independentistas catalães de direita (Junts per Catalunya) com o principal partido de oposição, o direitista Partido Popular (PP). O ultradireitista Voz e a União do Povo Navarro também votaram contra as medidas que acabaram derrotadas por 177 votos a 171.
A votação evidenciou a fragilidade do governo socialista espanhol, que só conseguiu formar governo depois de muitas concessões a um heterogêneo grupo de partidos independentistas.
Apoio parlamentar incerto
Muitos consideram que um governo com uma maioria parlamentar tão frágil não poderia reunir tantos temas tão diversos em um único pacote. Mas essa vem sendo a estratégia de Sánchez, exatamente para conseguir aprovar medidas sociais menos consensuais em um Parlamento em que seu partido não tem maioria e suas alianças são frágeis.
A avaliação geral é que o objetivo da maior parte dos que votaram contra foi exatamente castigar o governo e obter mais concessões à direita. Prova disso é que PP governa a Comunidade Valenciana, uma das grandes prejudicadas pela derrota do conjunto de medidas, que incluíam inúmeras ajudas para a reconstrução das áreas devastadas pelas enchentes.

O presidente do governo espanhol Pedro Sánchez
Diante de um pacote que incluía mais de uma centena de medidas, o PP justificou sua oposição apenas por discordar da concessão de um palacete parisiense ao Partido Nacionalista Vasco (PNV). A concessão foi feita depois que uma investigação oficial comprovou que o edifício foi comprado pelo PNV em 1936, confiscado pela Gestapo durante a invasão nazista e entregue então ao governo espanhol fascista de Francisco Franco. O imóvel continua propriedade do governo e atualmente abriga o Instituto Cervantes de Paris.
PSOE quer que o PP enfrente a reação popular
O governo socialista deve apresentar agora propostas de lei em separado ou pacotes mais específicos. Mas isso levará algum tempo porque o PSOE quer que para a direita colha o impacto que seu voto terá junto à opinião pública. O governo acredita que esse impacto será especialmente negativo no que diz respeito às pensões e ao preço do transporte público. Afinal, 12 milhões de espanhóis aposentados e pensionistas cobrarão menos em fevereiro do que em janeiro, quando o reajuste entrou provisoriamente em vigor.
“Quando as pessoas recebam suas pensões mais baixas em fevereiro, que saibam que foi por causa do PP em companhia de outros”, disse Féliz Bolaños, principal negociador de Pedro Sánchez no parlamento. “E quando, amanhã, o transporte público aumente, que saibam que foi o PP”, acrescentou. O PSOE acredita que o debate público sobre o tema é positivo porque explicita que as pensões subiram muito mais no governo do PSOE do que durante a gestão anterior, do PP, na qual ficaram alguns anos congeladas.
Para Bolaños, é impossível esperar que o PP recue em sua posição de rechaço a medidas como o reajuste das pensões e o subsídio ao transporte público. Mas ele acredita que o governo poderá recuperar o apoio de Junts para o aumento das pensões e do salário mínimo. Não existe, entretanto, nenhuma garantia porque Junts está insatisfeito com o governo porque este não cumpriu o acordo de transferir para o governo da Catalunha (a Generalitat) os temas relacionados à imigração.