Os 577 novos deputados eleitos para a Assembleia Nacional francesa reúnem-se nesta quinta-feira (18/07) para escolher o presidente da Casa. A votação pode sinalizar os rumos das alianças que se formarão para a legislatura que acaba de iniciar, após a realização de eleições antecipadas no começo de julho.
O assunto está nas capas dos principais jornais franceses nesta manhã. “Antes da escolha do primeiro-ministro, a batalha da presidência da Assembleia”, diz a manchete de Le Figaro. A votação ocorre em meio a uma situação política que permanece bloqueada no país, dois dias após a demissão do governo francês e 11 dias depois do segundo turno das eleições legislativas antecipadas.
O diário sublinha que “diversos nomes” foram evocados nos últimos dias, “mas nenhum é objeto de um grande consenso, muito pelo contrário”. Os partidos não chegam a um acordo nem internamente, dentro das próprias siglas, salienta o Figaro.
O tom é semelhante no jornal Le Parisien, que mostra os seis principais candidatos, representando as mais diversas linhas políticas que emergiram das urnas em 7 de julho: da esquerda radical à extrema direita, duas deputadas e quatro deputados brigam pela presidência da Assembleia, em uma eleição que ocorre com voto secreto. Podem ser necessários três turnos para uma decisão.
Esquerda escolhe candidato comunista
Em tese, o candidato comum da esquerda, o comunista André Chassaigne, tem mais chances de ser eleito, já que a coligação progressista Nova Frente Popular (NFP) ficou com a maioria relativa da Casa, com 190 deputados eleitos. Entretanto, as negociações entre os outros grupos políticos estão a todo o vapor para impedir a esquerda de eleger o presidente.
Le Parisien assegura que até mesmo deputados do Reunião Nacional, de extrema direita, estariam dispostos a apoiar a reeleição da candidata centrista, a atual presidente da Assembleia, Yael Braun-Pivet, para bloquear a esquerda. No entanto, ela é contestada até entre seus aliados, como o partido Horizontes, de centro-direita, que escolheu a candidata Naïma Moutchou.
“O resultado raramente foi tão incerto”, resume o jornal Libération. Em uma Assembleia dividida em três partes quase iguais, “cada campo político, envolvido há dias em conjecturas intermináveis, espera que o voto mostrará um feixe de luz da futura paisagem política no país”, indica o diário.
Crise política sem data para acabar
O cargo de presidente da Assembleia Nacional de deputados é altamente estratégico e, conforme o resultado desta votação, poderá tomar forma um projeto de coalizão governamental para os três anos restantes do mandato do presidente Emmanuel Macron.
Na terça-feira (16/07), o chefe de Estado aceitou a demissão da equipe do primeiro-ministro Gabriel Attal, após o seu fracasso nas eleições legislativas antecipadas. O governo, no entanto, permanece “responsável pelos assuntos atuais”, com um papel político limitado, provavelmente durante várias semanas até à nomeação de um novo premiê.
Nas eleições legislativas, convocadas por Emmanuel Macron após o fracasso do seu partido nas eleições europeias do início de junho, a Assembleia Nacional ficou dividida em três blocos, todos longe da maioria absoluta. A coligação da esquerda NFP conquistou o maior número de deputados, seguida pelo campo presidencial de centro-direita e pelo partido de extrema-direita Reunião Nacional e seus aliados.
Mas o NFP e até agora mostrou-se incapaz de propor um candidato comum para o cargo de primeiro-ministro, em meio a desacordos entre o partido França Insubmissa, de esquerda radical, e os socialistas e ecologistas.