A América Latina entrará este ano em recessão, com retração de 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo o relatório semestral “Perspectivas Econômicas Mundiais”, divulgado hoje (22) pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). O documento afirma, porém, que em 2010 a região apresentará recuperação e crescimento de 1,6%.
O relatório prevê uma contração de 1,3% na economia mundial este ano, e a previsão para o PIB brasileiro é de crescimento de 1,8%. “Os números exibidos indicam que, em 2009, mais de 85 milhões de pessoas se encontrarão em estado de miséria”, disse Marita Hutjes, consultora de política sênior da Oxfam, grupo de organizações não governamentais quem tem como meta lutar contra a pobreza e a injustiça nos países pobres.
Para a economista da Unicamp Simone Silva de Deos, as previsões para 2009 estão próximas da realidade. “Infelizmente, os dados revelados pelo FMI retratam uma situação real. A análise leva em consideração o resultado da economia no ano passado, que foi bem ruim.”
Simone acredita, porém, que é difícil fazer previsões para 2010. “O próprio FMI já fez várias que estiveram longe da realidade, não há base para fazer previsões para o ano. Até porque as medidas adotadas para combater a crise demoram para mostrar os efeitos. As soluções apresentadas no fim do ano passado serão observadas, provavelmente, no segundo semestre deste ano”.
As previsões para a América Latina contrastam com as antecipadas pelo FMI em outubro do ano passado, quando foi previsto pelo Fundo um crescimento de 3,2% para 2009.
Os dados sobre a América Latina levam em consideração o impacto sobre as três economias mais fortes: a brasileira, a argentina e a mexicana, e que, segundo a economista, têm impacto maior sobre as economias mais dependentes.
De acordo com as estimativas mostradas hoje, o Brasil sofrerá com o corte nas importações e com o encolhimento do crédito. A organização elogiou as medidas políticas macroeconômicas, os cortes agressivos das taxas de juros e o estímulo fiscal promovidos pelo governo brasileiro.
Simone acredita que, ao contrário de situações anteriores, a atual crise encontra a América Latina com balanços mais fortalecidos e com uma menor vinculação ao setor financeiro dos países ricos que a de outros países em desenvolvimento.
“A América Latina enfrenta a crise de maneira mais resistente. E isto é novo. Desde a década de 1980, estes países sofrem com instabilidades. Mas essa é uma crise que não surgiu na periferia, mas sim no centro. Nós tivemos um crescimento econômico significativo, principalmente nos últimos cinco anos. Além disso, houve um aumento no volume de reserva, houve um acúmulo de divisas, e não de dívidas. Os países melhoraram a situação fiscal e o controle da inflação. Os países se ajustaram melhor na macroeconomia, e por isso enfrentam a crise com inédita resistência”, afirmou.
Efeitos da crise no mundo
Os diretores do FMI lembraram também que houve uma queda anual sem precedentes do PIB mundial, de 6% no último trimestre de 2008. “A economia mundial está sendo puxada por duas forças opostas. Uma delas tem um impacto positivo sobre a economia, enquanto a outra tem um efeito negativo. Infelizmente, a força negativa é a que está dominando”, disse Olivier Blanchard, consultor econômico e diretor do departamento de pesquisa do FMI.
Os representantes da organização também afirmaram que o índice de desemprego em âmbito mundial aumentará ainda mais, chegando a um patamar pior do que o verificado após a Segunda Guerra Mundial, e não apresentará melhoras em 2010.
*(Com reportagem de Ligia Hougland, de Washington)
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