Terça-feira, 10 de junho de 2025
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O secretário de Economia Solidária do governo Lula, Gilberto Carvalho, levou a experiência do Brasil ao 1º. Fórum de Economia Social da Asett, ocorrido entre 29 e 30 de maio, no País Basco. Ao lado de autoridades de diversos países, como Espanha, França, Congo, Senegal e México, ele apresentou um histórico da economia social, aqui chamada de economia solidária.

Carvalho defendeu que a economia solidária “não pode estar afastada do processo de mudança efetiva e civilizatória do país”. Ela tem de ser um “farol a nos ajudar a operar a transformação social”, afirmou.

Durante sua fala, Carvalho destacou as heranças corporativistas trazidas pelos imigrantes europeus ao Brasil, como uma “solução que os camponeses encontraram para melhorar as suas vidas e conseguir fazer compras de insumos e a venda melhor dos seus produtos”. Ao longo do tempo, essas cooperativas se transformaram em grandes empresas dando origem ao que chamamos de “cooperativismo empresarial”.

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Nossa primeira lei sobre cooperativismo data de 1971, quando ainda estávamos sob a ditadura militar (1964-1985). “Ela teve uma importância fortíssima na questão do agronegócio”, que representa parte importante do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Contudo, o corporativismo empresarial, ao contrário da economia solidária, “não é um sistema cooperativo que atende as necessidades de mudanças sociais no país”, ponderou.

“A economia solidária teve início nos anos 1990, quando o Brasil passou por um processo fortíssimo de desemprego, com a indústria da automação e a reforma do mundo do trabalho, e se construíram as bases de um grande movimento social”, relatou Carvalho.

Lei Paul Singer

A partir de 2003, o governo brasileiro criou a Secretaria Especial da Economia Solidária, dentro do Ministério do Trabalho, e começou a desenvolver uma legislação própria voltada a atender as demandas do cooperativismo solidário. “Foi uma luta, porque no Brasil tudo o que é para os trabalhadores é uma luta. Essa lei, denominada Lei Paul Singer, demorou 12 anos no Parlamento e, finalmente, conseguimos, em dezembro de 2024, aprová-la”, destacou.

A legislação leva o nome do sociólogo Paul Singer, pois foi um dos grandes impulsionadores deste outro modelo econômico em nosso país e que cunhou o termo “economia solidária”.

Hoje, existem no país 28 mil iniciativas, em torno de 15 mil informais e 13 mil formalizadas sob a forma de cooperativas. A lei reconhece o empreendimento econômico solidário, abrangendo cooperativas e associações informais de economia social. Ela tem como princípios “o desenvolvimento sustentável, agroecológico e do comércio justo, com foco na valorização do trabalho decente”, afirmou.

“A Lei Paul Singer estabelece um sistema nacional de economia solidária que trabalhe a formação de redes entre das cooperativas, a formação de um sistema de crédito em torno de mais de 250 bancos comunitários e a busca de tecnologias sociais, com formação técnica social e pesquisas”, relatou. Além disso, ela impulsiona a integração territorial, na medida em que a cooperativa desenvolve o território.

Desenvolvimento local

O Fórum da Asett abriu um importante espaço para que as administrações municipais brasileiras, como a prefeitura de Maricá, pudessem acessar outras experiências globais de economia solidária. Matheus Gaúcho, secretário de Economia Solidária e Empreendedorismo Social do município, destacou a importância do encontro.

“Maricá investe muito em economia solidária no governo do prefeito Washington Quaquá, que é a economia voltada às pessoas e famílias, e um eterno aprendizado para todos nós. Estamos aqui para conhecer as políticas internacionais e quem já faz esse grande trabalho. É um Fórum de extrema importância para aprendermos mais sobre economia solidária, colocando-a em prática e acrescentando ao que já desenvolvemos na nossa amada Maricá”, afirmou a Opera Mundi.

Além do Brasil, outros países do Sul Global marcaram presença no encontro, com a participação de cooperativas e empresas familiares, ministros e secretários de Estado de países africanos, como Senegal e do Congo, e dos latino-americanos México, Chile e Brasil.

Secretário de Economia Solidária, Gilberto Carvalho relatou experiência brasileira no Fórum da Asett
Tatiana Carlotti

A experiência do Senegal

Dione Aliou, ministro de Microfinanças e Economia Social e Solidária do Senegal, governado desde março de 2024 por Bassirou Faye, comemorou o fato do país ser o primeiro na África a ter “um Ministério plenamente ligado à economia solidária”.

“O Senegal tem um lugar específico no governo voltado à economia solidária”, destacou Aliou ao apontar os esforços do governo Faye na luta contra a pobreza, que duplicou durante o governo antecessor de Macky Sall. Ele mencionou o alto desemprego entre os senegaleses, responsável pelo aumento de imigrantes do país à Espanha.

Destacando a clivagem ideológica, entre liberalismo e socialismo, da economia social, Aliou apontou que a economia popular não pode ser estigmatizada. “O que está em jogo é o desenvolvimento humano global a partir de políticas centradas no desenvolvimento das comunidades”, afirmou, destacando suas imensas possibilidades, em particular, a dimensão da solidariedade, cooperação, governança democrática e responsabilidade social de suas práticas.

Em sua visão, o desafio da economia solidária é conciliar a inovação social com a economia do lucro. Ele também apresentou uma série de medidas governamentais “para todos os que se comprometam a respeitar os princípios da colaboração conjunta” no Senegal.

O país africano vem realizando um esforço de sistematização de suas cooperativas e utilizando a economia solidária para “empregar as pessoas, de forma massiva, a partir das cooperativas agrícolas e cooperativas produtivas solidárias”. Segundo Aliou, o país está fazendo uma “revolução econômica” ao relatar o projeto em curso de impulsionar dez mil cooperativas no país para contribuir com o serviço público, a partir de conhecimento tecnológico, formação de pessoas e apoio do governo na redução dos custos de produção.

Avanços no México

Outra experiência relatada, de grande impacto, vem do México. A delegação mexicana exortou os esforços do governo de Claudia Sheinbaum na promoção da economia solidária. Em sua fala, o senador mexicano Emmanuel Reyes contou as reformas em curso no seu país.

“É importantíssimo reconhecer os esforços do governo mexicano para levar novas sociedades cooperativas, principalmente de trabalho e crédito, que vem começando uma nova etapa de reformas com a chegada da presidenta do México, Claudia Sheinbaum”, apontou.

Entre as medidas, ele mencionou a lei que considera as sociedades associativas, um total de 18 mil entidades, “entes que prestam serviços ao governo mexicano”. Através da economia social, a gestão Sheinbaum pretende “potencializar as regiões econômicas do país, os polos de desenvolvimento e a implementação de parques industriais”.

Reyes também anunciou que neste ano de 2025, comemorado como o ano do cooperativismo, o México tornará  suas cooperativas um patrimônio cultural, com vários eventos, incluindo uma grande premiação entre suas cooperativas para dar visibilidade às iniciativas de economia solidária.

Leia a primeira reportagem da série: Economia solidária se articula contra a barbárie neoliberal.