O ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) Mohamed El Baradei, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2005 e ativista da oposição egípcia, chegou nesta quinta-feira ao Cairo para se unir aos protestos políticos contra o atual governo, os quais deixaram sete mortos, dezenas de feridos e centenas de detidos nos últimos três dias.
Em sua chegada ao aeroporto internacional do Cairo, El Baradei, que vinha acompanhando as manifestações, disse aos jornalistas que a mudança no Egito “é inevitável”.
“Acho que este é um momento fundamental para o futuro do Egito”, afirmou El Baradei em declarações aos jornalistas no aeroporto internacional do Cairo. “Quero garantir que nos dirijamos a um processo de mudança pacífico”.
El Baradei lidera o grupo opositor Assembleia Nacional pela Mudança e foi criticado por sua ausência no Egito. Ele volta com a intenção de dirigir a transição no país, caso o atual presidente, Hosni Mubarak, abandone o poder.
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“O povo se deu conta que o regime não está ouvindo nada e tiveram de sair às ruas. Vou continuar dando apoio ao povo”, destacou o ex-diretor da AIEA.
As manifestações contra o regime de Mubarak, no poder desde 1981, se intensificaram nesta quinta-feira nas cidades de Suez e Ismailia, depois dos violentos choques entre a Polícia e os manifestantes nesta quarta-feira, no Cairo.
Em Suez, cidade situada na entrada sul do canal de mesmo nome, manifestantes queimaram uma delegacia e enfrentaram a Polícia, em distúrbios que deixaram um saldo de pelo menos dez feridos.
O protesto, do qual participaram milhares de pessoas, ocorreu na praça principal da cidade, informaram à agência de notícias Efe fontes dos serviços de segurança. Segundo essas fontes, a Polícia tentou dispersar os manifestantes com balas de borracha e gás lacrimogêneo.
Confrontos semelhantes ocorreram na cidade de Ismaília, às margens do Canal de Suez, quando jovens militantes de grupos opositores, entre eles o Movimento 6 de Abril, tentaram se aproximar da sede do governo regional.
Este grupo, um dos organizadores dos protestos, indicou em comunicado que os egípcios estão “a poucos passos do sonho da liberdade” e que não têm “medo de ninguém”. “A mudança chega, não há retrocesso nem rendição”, ressaltou a nota.
As manifestações no Egito – inspiradas naquelas que levaram à queda do presidente tunisiano, Zine el-Abidine Ben Ali, na chamada “Revolução de Jasmim” – registraram até o momento sete mortes. A última das vítimas fatais morreu nesta quinta-feira na Península do Sinai em confrontos entre beduínos e as forças de segurança.
Novos protestos
Além de Suez e Ismaília, em Alexandria, segunda cidade mais importante do país, milhares de pessoas organizaram uma manifestação pacífica. Já no Cairo, embora tenha havido concentrações em vários pontos da cidade, o dia transcorreu em relativa tranquilidade.
Desde as últimas horas, as autoridades egípcias estão libertando dezenas de manifestantes detidos, mas outros estão sendo levados à Justiça para serem julgados por desordem pública e por subversão – tentativa de derrubar o regime de Mubarak.
Além dos distúrbios, o principal índice da bolsa de valores do Egito, o EGX30, sofreu uma expressiva baixa de 10,52% no pregão desta quinta-feira. A forte tendência de queda obrigou a bolsa a interromper o pregão durante 30 minutos.
Somada à queda da bolsa, houve ainda a desvalorização da moeda local, a libra egípcia, em relação ao dólar. A cotação da divisa americana nesta quinta-feira oscilava entre 5,84 e 5,86 libras egípcias, índice mais alto em seis anos.
Até o futebol se viu afetado pelos protestos. As autoridades esportivas do país decidiram nesta quinta-feira suspender as partidos do Campeonato Egípcio que seriam realizadas nesta sexta e sábado, por motivos de segurança.
Por sua vez, a legenda governista Partido Nacional Democrático (NDP) pediu calma, assegurou que apoia as exigências do povo egípcio e indicou acreditar na “promoção das liberdades públicas e ampliação da participação política”.
“O NDP sempre apoiou as reivindicações do povo, o diálogo, o entendimento e a adoção de políticas que aliviam o sofrimento, como os subsídios ao azeite e ao açúcar”, disse em entrevista coletiva no Cairo o secretário-geral do NDP, Safwat el-Sheriff, a primeira desde que eclodiram os protestos.
Já o presidente egípcio não fez comentários nem apareceu em público nos últimos dias.
Para esta sexta-feira, feriado no Egito, estão marcados novos protestos políticos no país, logo após as orações do meio-dia.
O Movimento 6 de Abril convocou os cidadãos para “manifestações e passeatas em todos os cantos do país, na sexta-feira da ira e liberdade”.
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