El Salvador protagonizou uma polêmica na última semana, após o Congresso aprovar o envio de soldados do país para o Afeganistão. Um pedido da ONU (Organização das Nações Unidas), a participação de 22 oficiais no treinamento de forças afegãs provocou um racha entre o presidente de El Salvador, Mauricio Funes, e seu partido, a FMLN (Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional), que rechaçou a iniciativa, apoiada pela secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton.
Efe (25/08/2011)
Funes tomou a iniciativa de enviar soldados ao Afeganistão, mas foi criticado pela FMLN
O envio do grupo de militares, que fará parte da Isaf (Força Internacional de Assistência) no Afeganistão por 11 meses, ganhou apoio da direita conservadora do Congresso — o decreto foi aprovado pelos 45 deputados dos partidos de direita (Arena, Gana, PDC e PCN). Na década passada, sob um governo direitia, El Salvador foi o único país latino-americano que manteve presença militar no Iraque. Durante a missão, seis soldados salvadorenhos morreram e mais de 20 ficaram feridos.
“El Salvador tomou a decisão de participar porque as forças armadas têm experiência suficiente para assessoras as forças de segurança de outros países, especialmente um país como o Afeganistão, onde há uma evidente debilidade do tecido constitucional. Por isso, acreditamos que era conveniente colaborar frente a este chamado da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]”, afirmou Funes.
A decisão de Funes motivou um novo choque entre o presidente e seu partido. Em dois anos de governo, ambos têm se enfrentado pelos diferentes pontos de vista quanto à condução das políticas nacional e internacional do país.
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Para o deputado governista David Rodríguez, a missão viola a soberania do povo do Afeganistão, já que, segundo ele, “esta guerra não é uma luta contra o terrorismo, e sim uma invasão que servirá para que os aliados se apoderem dos recursos naturais do país islâmico”, como fontes de petróleo e água. “Nossa posição é contrária ao envio”, disse o legislador ao Opera Mundi.
Por sua vez, o analista e especialista em assuntos de segurança Roberto Cañas afirmou que o envio do contingente é uma ação que pode pôr em risco a população do país, assim como os soldados, que seriam enviados a um território desconhecido, onde não conhecem os costumes, o idioma e a complexidade do conflito.
“Obrigaram-nos a nos intrometer em uma guerra alheia. Hoje temos de incorporar como tema de acompanhamento obrigatório o que acontece no Afeganistão, pois podemos ganhar uma número nesta loteria que é a guerra intervencionista norte-americana que agora acompanha Mauricio Funes e os partidos de direita”, disse o analista.
Cañas também questionou a política diplomática de Funes ao atender a um pedido da secretária de Estado dos Estados Unidos. O analista o compara com seus antecessores de direita, Francisco Flores (1999-2004) e Elías Antonio Saca (2004-2009). Francisco Flores foi o primeiro governante a enviar tropas ao Iraque, em 2003, enquanto Antonio Saca foi o presidente que mais apoiou os EUA com os trabalhos militares na nação árabe.
Despachos do Wikileaks divulgados pelo jornal salvadorenho El Faro mostram as justificativas que Saca apresentou ao ex-embaixador do país norte-americano, Douglas Barclay, para manter o batalhão salvadorenho. Em documento datado de 7 de fevereiro de 2006, o ex-presidente afirma que “não estamos no Iraque pelas Nações Unidas, e sim porque apoiamos os EUA e nos consideramos seus aliados”.
Dependência dos EUA
Os EUA são o principal parceiro comercial do país centro-americano. Além disso, 2,5 milhões de salvadorenhos residem em território norte-americano e enviam dinheiro a seus parentes. As remessas são a principal base da economia salvadorenha, pois representam 16,4% do PIB (Produto Interno Bruto).
“Não temos nenhum compromisso com os EUA. Temos uma aliança estratégica e, por isso, colaboramos mutuamente da mesma forma como os EUA colaboraram em nossos planos de segurança”, disse Funes.
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Mas a FMLN tem outra leitura. Para o legislador efemelenista, as resoluções ditadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas não têm caráter obrigatório e cada país tem o direito de decidir cooperar ou não com os trabalhos de apoio nos países onde a OTAN mantém presença militar.
A decisão do bloco do governista de não acompanhar a petição do presidente baseou-se no respeito à “autonomia” do país islâmico e no risco da participação em um processo de invasão. “Consideramos que é um risco. Os povos dessa parte do mundo adotam represálias contra todos aqueles que consideram estar prejudicando sua autodeterminação. Por todas essas razões, dissemos não”, concluiu Rodríguez.
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