Cerca de 4,2 milhões de salvadorenhos vão escolher amanhã (15) seu próximo presidente, numa eleição em que Mauricio Funes, candidato de esquerda pela Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), aparece como favorito contra o governista Rodrigo Ávila, da Aliança Republicana Nacionalista (Arena), segundo as pesquisas de opinião confiáveis.
Caso vença, Funes conseguirá tirar a conservadora Arena do poder depois de 20 anos. Mas precisará implementar uma política de concertação se quiser governar e melhorar o país, fazendo frente aos efeitos da crise econômica mundial, que abalou um dos principais pilares da economia local: as remessas enviadas dos Estados Unidos.
Políticos opinam que o candidato da FMLN deverá agir rapidamente e restabelecer a institucionalidade e o Estado de direito.
José Morales Erlich, ex-ministro de Agricultura e Agropecuária durante o governo democrata-cristão do falecido presidente Napoleón Duarte nos anos 80, acha que Funes precisará governar com todas as forças políticas, econômicas e sociais da nação centro-americana, de menos de 21 mil quilômetros quadrados – um pouco menor que Sergipe, o menor estado brasileiro – e 5,7 milhões de habitantes.
“Funes precisará formar um governo participativo que gere tranqüilidade e respeito à Constituição, para logo se dedicar a resolver os problemas de marginalidade, alto custo de vida, pobreza, redução das remessas e violência que agonizam os salvadorenhos”, declarou Erlich, agora dirigente do partido de centro-esquerda Mudança Democrática (CD).
Ele acrescentou que, para alcançar esse objetivo, é necessário um “pacto fiscal” que permita uma melhor distribuição da renda nacional.
Subemprego
De acordo com o Banco Central de Reservas (BCR) de El Salvador, este país recebeu cerca de 3 bilhões de dólares (quase 7 bilhões de reais) em 2008 em remessas, principalmente dos Estados Unidos, onde, estima-se, vivem 90% dos 2,9 milhões de salvadorenhos no exterior. O dinheiro enviado por eles representa 17,1% do PIB (Produto Interno Bruto).
Esse fluxo decaiu 8,4% em janeiro de 2009, em comparação com o mesmo mês de 2008, passando de 275,5 milhões de dólares para 252,4 milhões.
Cifras oficiais de 2006 apontam uma taxa de desemprego de 6,6%, inferior à do Brasil, mas 43 de cada 100 pessoas da população economicamente ativa sobrevivem de subempregos, como vendedores ambulantes e em trabalhos ocasionais.
Funes, que tem 49 anos e foi correspondente da CNN, precisará de “muita criatividade e liderança” para construir pontes com todos os setores e criar um pacto nacional, onde todos ponham sua cota de “sacrifício”, considera Joaquín Samayoa, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Fundação Empresarial para o Desenvolvimento Educativo.
Então, na opinião dele, terá de dedicar-se a resolver os problemas mais urgentes: impacto da crise, redução da produtividade e disponibilidade de crédito, diminuição do nível de emprego e insegurança.
Apesar do favoritismo de Funes, Jeannette Aguilar, diretora do Instituto Universitário de Opinião Pública, acha que não é seguro dizer quem ganhará a eleição, já que a Arena, no poder desde 1989, conta com todo o aparato estatal e pode usá-lo de forma arbitrária.
A disputa, que deixou dezenas de feridos de ambas as partes, desenvolveu-se no meio de uma intensa “campanha de medo” contra a FMLN.
Se vencer, Funes será o primeiro presidente de esquerda da história do país, governado por conservadores, liberais e militares desde a fundação da república, em meados do século XIX.
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