Qualquer dos possíveis resultados das eleições
parlamentares no Líbano pode levar o país a uma nova guerra civil. Esta é a
avaliação do de Mohamad Bazzi, pesquisador de Oriente Médio do Council on
Foreign Relations (CFR), centro de estudos sobre política externa dos EUA que
já teve em seus quadros o ex-vice-presidente Dick Cheney e o atual enviado
especial de Barack Obama ao Oriente Médio, George Mitchell.
Operamundi participou da entrevista coletiva concedida via
teleconferência nesta terça-feira pelo CFR. Além de Bazzi, o pesquisador sênior
da questão do Oriente Médio Steven Cook também falou aos jornalistas e avaliou
os possíveis resultados do pleito libanês, que acontece hoje (7).
São duas as facções principais que disputam as 128
cadeiras do Parlamento. De um lado, está o Movimento 8 de Março, que congrega
20 partidos, sob a liderança do grupo islâmico xiita Hezbollah. Do outro lado, está a Aliança 14 de Março,
com 11 grupos políticos sob a liderança de Saad Hariri, segundo filho de Rafik
Hariri, ex-primeiro-ministro do país assassinado em 2005.
Na visão dos especialistas do CFR, nenhum dos grupos
conseguirá uma ampla maioria. A vitória, seja para qual lado for, será apertada.
Assim, na avaliação de Mohamad Bazzi, “observar a distribuição dos assentos no
Parlamento será menos importante do que o desenrolar do período pós-eleitoral,
com a formação do gabinete e a indicação do premiê”.
A pequena vantagem em número de cadeiras
parlamentares forçará o grupo vitorioso a formar um governo de coalizão, tal
como existe hoje no Líbano. Desta vez, porém, os lados que se opõem devem
tornar a união mais difícil, de acordo com Bazzi:
Poder de veto
“Infelizmente, vejo um cenário com instabilidade política,
vença quem vencer. Se o Hizbollah tiver uma maioria neste parlamento e a
Aliança 14 de março resolver não participar do gabinete, haverá uma paralisia
política, com um lado tentando governar sem o outro. Caso a Aliança 14 de março
vença e Hariri se recuse a dar poder de veto ao Hizbollah, então, há novamente
um cenário de paralisia. Estes dois cenários nos levam a uma tensão e a uma
possível guerra civil”.
O poder de veto em questão já foi oferecido ao grupo
de Hariri, durante a campanha, por Hassan Nasrallah, líder do Hizbollah. Ele
garantiu que haverá um assento em seu gabinete para a Aliança 14 de março. O
adversário, no entanto, recusou publicamente a oferta e afirmou que não
participará de qualquer governo liderado pela organização xiita.
Bazzi avalia que a resistência de Hariri é discutível
e pode ter como objetivo dar um ultimato a seus aliados em busca da vitória,
transformando o processo eleitoral em um “tudo ou nada”. A estratégia, segundo
o analista, evitaria que líderes regionais dentro do país acabassem forçando a
oposição a participar de um governo sem comandá-lo efetivamente.
Além de um apelo aos aliados, no entanto, a recusa de
Hariri tem um componente pessoal, ainda na avaliação do pesquisador: o
assassinato de seu pai, Rafik Hariri, em 2005. Ex-premiê libanês, o pai do
atual postulante ao cargo foi morto em um atentado a bomba em Beirute.
A investigação do crime ainda não foi concluída, mas
os partidários de Hariri não têm dúvida de que houve participação do governo da
Síria no plano. Participar de um governo de coalizão liderado pelo Hizbollah –
abertamente pró-sírio – seria, então, uma “traição” à memória do ex-líder do
país.
A encruzilhada diante de Obama
Seja qual for o resultado das eleições parlamentares
no Líbano, a Casa Branca terá pela frente o desafio de apaziguar espíritos
descontentes. No tabuleiro que se apresenta diante do presidente Barack Obama
estão, por um lado, a reaproximação com outros países da região e, por outro, o
óbvio desconforto de lidar com um possível governo liderado por uma organização
considerada terrorista pelo Departamento de Estado norte-americano.
“Está claro que, se o 8 de Março vencer, haverá
muitas complicações para a administração Obama. Os EUA devem retirar apoio
militar ao exército libanês neste caso”, diz Steven Cook. A explicação é
ideológica: seria muito “desconfortável” para os EUA verem as armas fornecidas
ao Líbano caírem, placidamente, nas mãos do Hezbollah.
“Um pedido de muito tempo do exército libanês, por
exemplo, é de helicópteros de ataque. É muito pouco provável que o governo dos
EUA atenda a esta demanda caso o Hizbollah controle o governo”, conclui o
analista.
Ao mesmo tempo, no entanto, a administração Obama
busca uma reaproximação com, Irã e Síria, dois patrocinadores do Hizbollah.
Exemplo de tal esforço: George Mitchell, enviado especial da Casa Branca ao
Oriente Médio, já anunciou que deve desembarcar em Damasco nas próximas
semanas. Caso a Aliança 14 de março consiga formar o gabinete em Beirute, Obama
e sua equipe se verão caminhando sobre um muro entre posições radicalmente
opostas.
Cook explica que seria incoerente apoiar um governo
contrário ao Hezbollah, quando este “tem sido muito mais construtivo do que o
Hamas ao lidar com sua oposição política. Isso poderá tornar-se insustentável.
Se o movimento 14 de março vencer, a administração Obama deverá ser muito
cuidadosa e não tomar medidas de que possa se arrepender”.
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