Quase 24 milhões de eleitores argelinos estão aptos a votar neste sábado (07/09), em eleições presidenciais antecipadas. O presidente Abdelmadjid Tebboune, tenta a reeleição contra dois candidatos, Abdelaali Hassani, engenheiro de 57 anos, líder do Movimento Sociedade pela Paz, e Youcef Aouchiche, de 41 anos, ex-jornalista e senador, à frente da Frente das Forças Socialistas, o mais antigo partido da oposição do país. Mas a principal questão nestas eleições continua a ser a taxa de participação.
O futuro chefe de Estado será responsável por governar um país de 45 milhões de habitantes e maior exportador de gás natural de África, a terceira maior potência econômica do continente e a maior em área.
Para o presidente Abdelmadjid Tebboune, uma participação forte é crucial para a sua legitimidade. Apoiado pelo antigo partido único, a Frente de Libertação Nacional (FLN), e pelo movimento islâmico El Bina, ele pretende continuar seu projeto de “nova Argélia” através de um segundo mandato.
Ele enfrenta nas urnas Abdelaali Hassani, que representa o Movimento Sociedade pela Paz (MSP), um partido que boicotou as eleições presidenciais de 2019. Por outro lado, Youssef Aouchiche, que lidera a Frente das Forças Socialistas (FFS), um partido histórico da oposição que participa nas eleições presidenciais pela primeira vez desde 1999.
Os dois candidatos prometem mais liberdades se forem eleitos. O candidato da FFS se compromete a “libertar os presos políticos através de uma anistia e a reexaminar as leis injustas”. O concorrente do MSP defende “o respeito pelas liberdades reduzido a nada nos últimos anos” após a extinção do Hirak, como foi chamado o grande movimento de contestação, primeiro contra a candidatura do Presidente Abdelaziz Bouteflika ao quinto mandato, depois contra o sistema no poder.
Apesar destas tensões, os três candidatos centram seu programa em questões socioeconômicas. Todos prometem melhorar o poder aquisitivo dos argelinos e diversificar uma economia ainda muito dependente dos hidrocarbonetos, que representam 95% das receitas do país.
Desemprego, direitos humanos e abstenção
Na Argélia, mais da metade da população tem menos de 30 anos, ou seja, 23 milhões de pessoas. O desemprego afeta quase um terço dos jovens, levando muitos deles a aceitar pequenos trabalhos e a sonhar com a emigração ilegal por falta de perspectivas profissionais.
Embora não existam dados oficiais disponíveis, os analistas concordam que uma grande maioria dos jovens argelinos provavelmente não irá às urnas no sábado. Desiludidos com os processos eleitorais, estes jovens, que formaram a base das manifestações exigindo uma mudança profunda no sistema político, perderam a fé na capacidade das eleições para trazer transformação.
Desde 2019, o sentimento de desilusão domina. Durante as últimas eleições presidenciais, a abstenção atingiu uma taxa recorde de 60% e, segundo os observadores, este valor poderá ser novamente ultrapassado este ano. Esta abstenção massiva seria uma forma de resposta à inação e à repressão do regime, que, segundo ativistas e ONGs de direitos humanos, se intensificou nas últimas semanas.
Num relatório publicado na segunda-feira (02/09), a Anistia Internacional critica as autoridades argelinas pela forma como administraram os direitos humanos no período anterior as eleições de 7 de setembro.
Segundo a organização, o governo continua a “sufocar o espaço público” e a manter uma “severa repressão aos direitos humanos”. O pesquisador e cientista político Hasni Abidi aponta também para um “déficit democrático” no governo de Tebboune, o que, segundo ele, constitui “um sinal de fragilidade para o futuro do país”.