Quarta-feira, 26 de março de 2025
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O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participou nesta quarta-feira (26/02) da abertura da primeira reunião de sherpas dos países membros do BRICS, que é realizada na sede do Itamaraty, em Brasília.

Os sherpas são os negociadores enviados pelos países integrantes do BRICS para conduzir discussões que culminarão com a Cúpula de Líderes, agendada para os dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro. A reunião foi presidida pelo embaixador Mauricio Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores e sherpa do Brasil no BRICS.

Em seu discurso, Lula defendeu o papel do BRICS em garantir o multilateralismo global “frente à polarização e à ameaça de fragmentação”. Para ele, “a defesa consistente do multilateralismo é o único caminho que devemos trilhar”.

Ao falar sobre a Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente disse que é urgente reformar a organização seu Conselho de Segurança, responsável por atuar pela “manutenção da paz e da segurança internacional”, segundo o próprio órgão.

O encontro de sherpas do BRICS começou no dia 25 e termina em 26 de fevereiro, na capital brasileira. O Brasil assumiu em janeiro a presidência do bloco, composto também por Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Egito, Etiópia, Indonésia e Emirados Árabes Unidos – a Arábia Saudita também foi convidada para ser um dos países membros do bloco, mas ainda não manifestou oficialmente se aceita ou não seu ingresso ao bloco.

O presidente destacou o papel da China, ao dizer que o país, ao lado do Brasil, deu uma “contribuição importante” com a criação do Grupo de Amigos da Paz para o conflito na Ucrânia.

A respeito de Gaza, Lula afirmou que o conflito desperta “intensa preocupação e só será resolvido com o envolvimento dos países da região”.

Críticas a Trump

Em outro momento, o pronunciamento de Lula soou como uma mensagem indireta ao presidente dos Estados Unidos, sem mencionar diretamente o nome de Donald Trump, mas acusando os que pretendem “sabotar os trabalhos” da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que qualificou como “um erro com sérias consequências”.

“Fortalecer a arquitetura global de saúde, com a OMS em seu centro, é fundamental para garantir o justo e equitativo acesso aos medicamentos e vacinas necessários ao desenvolvimento sustentável de nossos países”, afirmou o mandatário.

O presidente explicou os trabalhos da presidência para o ano, destacando seis eixos de atuação, entre eles a cooperação em saúde, o fortalecimento do multilateralismo, o aprimoramento do sistema monetário e financeiro internacional e a crise climática.

A menção às mudanças no clima também soou como uma crítica a Trump, que decidiu retirou os Estados Unidos do tratado global, adotado em 2015 por 195 países, à época signatários da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

Ricardo Stuckert / Presidência da República
Lula encabeçou encontro que reuniu sherpas do BRICS

Crise climática e COP 30

O discurso de Lula deu ênfase à questão do aumento da temperatura mundial, destacando que esta já superou o limite crítico estabelecido pelo Acordo de Paris – 1,5º graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais.

“O planeta acumula recordes de temperaturas e de concentração de gases do efeito estufa. A omissão custa caro e não poupará ninguém. Enchentes, secas e incêndios drenaram mais de 2 trilhões de dólares da economia global na última década, além das milhares de vidas humanas tragicamente perdidas nesses desastres. O Acordo de Paris e todo o regime do clima estão sob ameaça”, comentou o presidente brasileiro.

Lula falou ainda sobre a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém do Pará, no próximo mês de novembro. Segundo ele, líderes mundiais terão o “imperativo de equacionar ambição e financiamento no enfrentamento à crise climática”.

“O BRICS tem a força política necessária para mobilizar resultados ambiciosos para a COP-30, garantindo que o crescimento econômico caminhe lado a lado com a justiça social e ambiental”, defendeu o mandatário.

O presidente disse também que dos 198 países atualmente signatários da Convenção da ONU para Mudança do Clima, apenas 17 enviaram contribuições nacionalmente determinadas (NDCs). Ele destacou, entre esses países, Brasil e Emirados Árabes Unidos.

Inteligência artificial

Lula ainda criticou “grandes corporações”, que “não têm o direito de silenciar e desestabilizar nações inteiras com desinformação”. A fala dialoga com o eixo quinto, referente a Inteligência Artificial.

“Ao mesmo tempo em que oferece oportunidades extraordinárias, a Inteligência Artificial traz desafios éticos, sociais e econômicos”, disse o presidente brasileiro. Para ele, a tecnologia “não pode se tornar monopólio de poucos países e poucas empresas”.

O mandatário também defendeu que não se pode permitir “que a distribuição desigual dessa tecnologia deixe o Sul Global à margem”.

Segundo Lula, é papel do BRICS, “sob amparo das Nações Unidas, tomar para si a tarefa de recolocar o estado no centro dos debates para a construção de uma governança justa e equitativa”.

Sobre o BRICS

Os países que compõem o Brics correspondem a 48,5% da população mundial e concentram cerca de 31,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de todo o mundo.

Além dos 10 países membros, desde a última cúpula do bloco em Kazan, na Rússia, foi criado o grupo de “países parceiros” composto por nove membros, sendo eles: Bielorrússia, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Nigéria.