O primeiro-ministro britânico, David Cameron, está sendo criticado por ativistas de direitos humanos no Reino Unido por ter se referido aos imigrantes que tentam chegar ao país como sendo um “enxame de pessoas”. Isto, porque a palavra em inglês swarm é usada para se referir especificamente a abelhas e insetos e, ao usá-la para caracterizar homens, mulheres e crianças que cruzam o Mediterrâneo em busca de uma vida melhor, ele estaria “desumanizando” os indivíduos.
“Você tem um enxame de pessoas que chega através do Mediterrâneo buscando uma vida melhor, desejando vir ao Reino Unido porque o país tem melhores os trabalhos, uma economia em crescimento, e é um lugar incrível para viver”, disse o premiê nesta quinta-feira (30/07), em declarações dadas durante visita ao Vietnã.
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Agência Efe
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Cameron ainda acrescentou: “Nós precisamos cuidar das nossas fronteiras trabalhando em conjunto com nossos vizinhos franceses e isso é exatamente o que estamos fazendo”. Ele disse ainda que fará “tudo o que for possível” para que, apesar dos problemas em Calais, os britânicos “possam sair de férias” e que é “preciso estabilizar os países” de onde os imigrantes vêm e “quebrar a ligação entre viajar e conseguir ficar na Europa”.
O Conselho de Refugiados foi o primeiro a condenar a expressão. A advogada da organização Lisa Doyle disse ao jornal The Guardian que “é extremamente decepcionante escutar o primeiro-ministro usar tal linguagem desumanizada para descrever homens, mulheres e crianças desesperadas fugindo de suas vidas através do mar Mediterrâneo”.
A líder interina do Partido Trabalhista, de oposição, Harriet Harman, disse que o primeiro-ministro “deve lembrar que ele está falando de pessoas, não insetos. Eu penso que isso é realmente preocupante porque ele parece preocupar-se em dividir e despertar as pessoas contra os imigrantes em Calais”.
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Já o diretor da Rede de Direitos Humanos dos Imigrantes, Don Flynn, disse que Cameron “ignora que eles [os imigrantes] são perfeitamente racionais, assumindo grandes riscos para fazer o que eles acreditam que trará uma vida melhor. Eles não são uma peste”. E ressaltou: “Nós precisamos retomar as bases humanitárias da política de refugiados”.
Crise em Calais
Ao contrário do que sugere Flynn, o governo britânico anunciou que vai gastar 7 milhões de libras (cerca de 10 milhões de euros) em medidas de proteção para caminhões com destino ao Reino Unido e a instalação de uma nova cerca de segurança. O governo francês, por sua vez, enviou 120 policiais à zona de Calais para deter os imigrantes que tentam chegar à Inglaterra.
Agência Efe
Um migrante morreu ontem ao ser atropelado enquanto tentava entrar em um caminhão
Centenas de imigrantes, sobretudo da África e do Oriente Médio, entraram ontem à noite nas instalações do túnel, o que terminou com cerca de 300 detenções, segundo fontes francesas, enquanto calcula-se que mais de 3,5 mil pessoas tentaram atravessar esta semana.
De acordo com autoridades do canal, foram detidos mais de 37 mil imigrantes, apenas em 2015.Nos últimos dois meses, dez imigrantes morreram no túnel e nos seus arredores, onde foi levantado um acampamento provisório de imigrantes.
Além da região de Calais, a Itália também enfrenta um problema humanitário devido à quantidade de imigrantes que tentam chegar ao país. Nas últimas 24 horas, mais de 1,3 mil imigrantes desembarcaram em diferentes portos do litoral italiano, após terem sido resgatados no Mediterrâneo. Nas últimas 48 horas, mais de 2,7 mil foram resgatados e 14 pessoas foram encontradas mortas.