Em Pequim, Lula defende multilateralismo: ‘não queremos nova Guerra Fria’
Presidente destacou papel decisivo da China no combate à desigualdade na América Latina
Em seu discurso durante a abertura do IV Fórum CELAC-China nesta madrugada, o presidente Lula ressaltou a força da parceria chinesa na região e fez uma contundente defesa do multilateralismo.
Ao lado do presidente chinês Xi Jinping e dos presidentes Gabriel Boric do Chile e Gustavo Petro da Colômbia, o líder brasileiro ressaltou que a China já é o segundo maior parceiro comercial da CELAC.
“Recursos oriundos de instituições financeiras chinesas superam créditos oferecidos pelo Banco Mundial ou pelo BID”, mencionou, ao lembrar o papel decisivo da China para os avanços expressivos na redução da pobreza e da desigualdade na região.
Lula também qualificou como “decisivo” o apoio da China na área de infraestrutura “para tirar do papel rodovias, ferrovias, portos e linhas de transmissão”.
Paz e multilateralismo
Sem mencionar diretamente a guerra comercial propalada pelos Estados Unidos, o presidente brasileiro mencionou que “sempre existiram distorções no comércio internacional, especialmente no intercâmbio de produtos agrícolas” e que “a imposição de tarifas arbitrárias só agrava essa situação”.
“Nossa região não deseja ser palco de disputas hegemônicas. Há mais de uma década, a CELAC declarou a América Latina e o Caribe como zona de paz. Não queremos repetir a história e encenar uma nova guerra fria”, afirmou.
“Nossa vocação é ser um dos eixos de uma ordem multipolar, na qual o Sul Global esteja devidamente representado”, complementou.

Ricardo Stuckert / PR
O presidente brasileiro também alertou aos países da região: “não há saída para nenhum país individualmente”.
“Nós temos 500 anos de histórias que provam isso. Ou nós nos juntamos e procuramos parceiros que queiram, junto conosco, construir um mundo compartilhado, ou a América Latina tenderá a continuar sendo uma região que representa a pobreza no mundo de hoje”, afirmou.
Futuro
Lula falou sobre o futuro. Ele destacou que “o desenvolvimento da Inteligência Artificial não deve ser um privilégio de poucos” e que “uma transição justa para uma economia de baixo carbono exige amplo acesso a tecnologias de energia limpa”.
Ressaltando a possibilidade de a COP30, em Belém, ser um ponto de virada na implementação de compromissos climáticos, ele pontuou que “a América Latina e o Caribe e a China podem mostrar ao mundo que é possível conter a mudança do clima sem abdicar do crescimento econômico e da justiça social”.
Lula também defendeu o apoio do bloco à eleição de uma mulher na Secretária-Geral da ONU, “honrando, assim, o legado da Conferência de Pequim sobre os direitos das mulheres”.
“A governança global já não espelha a diversidade que habita a Terra. Esse anacronismo tem impedido que se cumpra o propósito de evitar o flagelo da guerra, inscrito na Carta das Nações Unidas”, afirmou.
Após a cerimônia de abertura do IV Fórum China-Celac, os chefes de Estado e suas delegações participam da sessão plenária, realizada a portas fechadas, que será concluída com a adoção de uma declaração conjunta.
Confira a íntegra do discurso de Lula.
