Em recessão, Venezuela aposta em cooperação econômica com Irã
Em recessão, Venezuela aposta em cooperação econômica com Irã
A Venezuela está aproveitando a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, para buscar no país do Oriente Médio um parceiro com potencial de atrair investimentos enquanto busca se recuperar de uma recessão, a primeira do país em cinco anos. O presidente Hugo Chávez se reuniu hoje (25) com o colega iraniano em Caracas, para reforçar os laços econômicos bilaterais e aumentar os intercâmbios comerciais.
A economia da Venezuela contraiu 4,5% no terceiro trimestre do ano, em meio à queda dos preços do petróleo do mundo. O crescimento do país caiu 3,8 pontos percentuais em relação ao ano passado. Só no segundo trimestre de 2009, a economia da Venezuela contraiu 2,4%. Em resposta, o governo Chávez vem anunciando planos para aumentar investimentos em áreas como produção industrial e agricultura.
Neste esforço, os venezuelanos vêm contando com a ajuda dos países com os quais têm potencial de ampliar as relações econômicas, como o Irã. Na reunião de hoje em Caracas, os dois presidentes discutiram formas de reforçar a cooperação em áreas como energia, agricultura e indústria, segundo a agência de notícias estatal da Venezuela, ABN. Nos últimos anos, Caracas e Teerã vêm construindo uma estreita relação econômica, incluindo a criação de um banco de desenvolvimento binacional com um capital inicial de 200 milhões de dólares. O Irã tem investido pesado nos campos de petróleo da Venezuela, além de construir bicicletas e tratores no país.
Durante uma reunião com empresários iranianos na terça-feira, o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, disse que o reforço das relações permitirá “o desenvolvimento das economias emergentes da Venezuela e do Irã”. O governo de Chávez tem procurado alianças com países como Irã, Rússia e China, que visa limitar a sua dependência econômica em relação aos Estados Unidos.
O economista Pavel Gómez, professor da escola de negócios IESA, em Caracas, disse que alguns projetos irano-venezuelanos – como instalações conjuntas de montagem de automóveis na Venezuela – devem estimular o crescimento. Mas ele acrescentou que os outros provavelmente “não terão um impacto significativo” para superar a recessão. O governo Chávez também deve incentivar o investimento privado no setor soltando regulamentos governamentais rigorosos e oferecendo pacotes de estímulo para aumentar a produção, disse.
Mas o principal problema enfrentado pelo país é a queda da cotação do petróleo. O ministro da Economia, Ali Rodríguez, disse que a recessão da Venezuela foi em grande parte resultado de cortes de produção da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) para aumentar os preços do petróleo caindo ao redor do mundo, e que o país terá o modesto crescimento de 0,5% no próximo ano. Isso derrubou as exportações, já que o petróleo representa 93% das receitas de vendas externas e metade das receitas fiscais.
Recessão
Tecnicamente, economistas consideram que um país entra em recessão quando acumula dois trimestres consecutivos de contração da atividade econômica. No caso venezuelano, o resultado do terceiro trimestre foi pior do que o esperado. O governo ainda espera um crescimento “neutro” ou “positivo” para 2009. O BCV (Banco Central da Venezuela), porém, calcula que o retrocesso da atividade desde o começo do ano já atingiu 2,2%.
Para o presidente Hugo Chávez, esses números não são relevantes. Ele considera a Venezuela um país “em transição para o socialismo”, que requer novas metodologias para medir o PIB. Segundo ele, as ferramentas atuais são “marcadas pela ideologia capitalista”.
A última retração da Venezuela havia ocorrido em 2003. Na época, a queda de 20% seguiu-se à greve patronal do final daquele ano. O objetivo assumido dos empresários era provocar uma insurreição contra o presidente venezuelano, nos moldes das greves de caminhoneiros durante o governo de Salvador Allende no Chile, no começo dos anos 1970.
Atualmente, compensar a perda de renda com o petróleo vendendo outros produtos é difícil por causa da política cambial, que supervaloriza o bolívar. Para conter a inflação, que pode atingir 26% este ano, segundo o governo, a taxa de câmbio está mantida em 2,15 bolívares por dólar. Mas, no mercado paralelo, a cotação oscila entre 4 e 6 bolívares. Além disso, o governo limita a venda de dólares para os importadores, o que praticamente inviabiliza importações, já que o valor praticado no mercado negro é alto demais.
A situação encarece o preço das importações, principalmente de alimentos – a Venezuela importa praticamente tudo o que sua população come – e material de construção.
Doença holandesa
A falta de competitividade também inibe a produção local, o que se reflete na oferta interna, com alta dos preços. Os dois únicos setores que cresceram foram construção (4,3%) e telecomunicações (11,4%).
Sem fontes alternativas de divisas, o governo esta limitando ao máximo as importações, que caíram 25% este ano. A falta de dólares – concedidos de maneira parcimoniosa por um organismo chamado Cadivi (Comissão de Administração de Divisas) – impediu o setor privado de importar os componentes necessários para funcionar. Muitas empresas tiveram que fechar, por incapacidade de funcionar, provocando uma queda da atividade industrial de 9,5% no terceiro trimestre. A produção de veículos, dependente de produtos estrangeiros, diminuiu 23,7%.
O economista Alberto Ramos, analista sênior para América Latina do banco de investimentos Goldman Sachs considera que a “Venezuela esta apresentando cada vez mais sinais da chamada ‘doença holandesa’”: o declínio do setor industrial nos países dependentes da exploração de recursos naturais.
O analista lembra que a queda das exportações não é só um fenômeno recente vinculado à crise financeira mundial. “Nos últimos 15 trimestres, as exportações só aumentaram uma vez em relação ao ano passado”, lembra.
*Colaborou Lamia Oualalou, do Rio de Janeiro.
NULL
NULL
NULL
