O governo francês convocou nesta sexta-feira (17/09) seus embaixadores nos Estados Unidos e na Austrália para consultas sobre o acordo militar firmado entre Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, chamado de AUKUS (sigla em inglês que leva as iniciais dos países), anunciado na última quarta-feira (15/09).
Em nota, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, afirmou que a decisão foi tomada pelo presidente Emmanuel Macron diante da “gravidade dos acontecimentos”.
“A pedido do presidente da República, eu estou convocando a Paris, sem atrasos, nossos embaixadores nos Estados Unidos e na Austrália para consultas. Essa decisão excepcional é justificada pela gravidade dos anúncios feitos em 15 de setembro pela Austrália e pelos Estados Unidos”, disse a chancelaria francesa.
O acordo militar anunciado pelos três países visa fortalecer as capacidades navais no Pacífico e permitirá que a Austrália tenha submarinos de propulsão nuclear. Na ocasião, a França classificou a aliança como uma “punhalada pelas costas”, já que o país europeu tinha um acordo de produção de submarinos com os australianos desde 2016.
Segundo o ministro francês, o cancelamento do programa de submarinos da classe Attack, que vincula a França e a Austrália, e o anúncio de uma nova parceria com os Estados Unidos “constituem comportamento inaceitável entre aliados e parceiros, cujas consequências afetam diretamente a visão que temos de nossas alianças, de nossas parcerias e da importância do Indo-Pacífico para a Europa”.
Présidence de la République/Flickr
Chanceler afirmou que a decisão foi tomada pelo presidente Emmanuel Macron diante da "gravidade dos acontecimentos"
Após o anúncio do novo acordo militar, o Ministério das Relações Exteriores francês já havia dito, em comunicado, que se tratava de uma decisão contrária à carta e ao espírito de cooperação que prevaleceu entre França e Austrália e que a escolha dos EUA pela remoção de um aliado e um parceiro europeu como a França “marca um sinal de falta de coerência do qual [o país] não pode mais do que lamentar”.
Em entrevista à France Info, o ministro Jean-Yves Le Drian se disse “irritado” e “cheio de amargor” com o acordo, acrescentando que o anúncio “foi uma punhalada nas costas”, já que “nós tínhamos uma relação de confiança com a Austrália e essa confiança foi traída”.
Le Drian foi o líder das negociações que, em 2016, fechou o “contrato do século” entre os dois países: por 56 bilhões de euros, seriam produzidos 12 submarinos convencionais (não nucleares) pelo Naval Group. À época, o francês era o ministro da Defesa.
“Nós soubemos de maneira bruta, com uma declaração do presidente Biden, que o contrato firmado entre França e os australianos não será mais feito, e que os EUA fizeram uma proposta nuclear, do qual não sabemos o conteúdo, aos australianos. É uma coisa que não se faz entre aliados. Até há pouco falávamos de tudo isso com os EUA e agora chega um rompimento. É algo insuportável”, disse.
A atual responsável pela pasta da Defesa, Florence Parly, também fez duras críticas à aliança Aukus em uma entrevista para para a mesma agência, dizendo que era uma “péssima notícia em relação às palavras dadas”.
“Nós estamos lúcidos sobre a forma com a qual os EUA tratam os seus aliados e os seus parceiros. Estudaremos todas as vias. Precisaremos de esclarecimentos e os australianos precisaram nos dizer para sair”, acrescentou Parly.
Já a União Europeia, através do porta-voz do Serviço Europeu para Ação Externa, Peter Stano, afirmou que o bloco foi surpreendido pelo anúncio. “A UE não foi informada da aliança entre EUA, Reino Unido e Austrália. Estamos em contato com os parceiros para saber mais e vamos discutir com os Estados-membros da UE para entender as implicações”, se limitou a dizer.