O governo golpista de Honduras deu prazo de três dias a funcionários da embaixada da Venezuela para deixarem o país “por ameaças de uso da força feitas ao governo, assim como intromissão em assuntos internos e desrespeito à integridade” hondurenha, informou a chancelaria em Tegucigalpa.
Carta assinada pela vice-chanceler de facto Martha Lorena Casco dirigida hoje (21) ao embaixador da Venezuela, Armando Laguna, pede “a retirada em 72 horas do pessoal diplomático, administrativo, técnico e de serviços da missão da Venezuela”. Em reciprocidade, a chancelaria hondurenha anuncia a retirada de todos os funcionários em Caracas.
Ariel Vargas, representante diplomático do governo venezuelano, disse não estar surpreso com a notícia. “Eles já haviam anunciado que fariam isso no sábado”, afirmou à agência AP, que divulgou a carta.
O governo de Caracas, assim como o restante da comunidade internacional, não reconhece o governo golpista de Roberto Micheletti.
O jornalista venezuelano Enrique Gonzalez, colunista do jornal Proceso, simpático ao governo de Hugo Chávez, analisa que a administração de facto de Honduras usa a Venezuela como bode expiatório dos argumentos para a tomada de poder de forma ilegal.
“A facção de direita que deu o golpe tenta basear sua legitimidade e suposta estratégia constitucional na guinada à esquerda do presidente Zelaya, esta sim constitucional, e usa Chávez e a Venezuela como elementos de medo e criminalização”, afirmou ao Opera Mundi.
Ele se refere à aproximação entre Zelaya e Chávez, citada pela oposição hondurenha como principal erro do presidente deposto. Em agosto do ano passado, o país aderiu à Alba (Alternativa Boliviariana para as Américas).
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O presidente da Venezuela disse hoje, em ato transmitido em cadeia nacional de rádio e
televisão, que o golpe em Honduras foi consumado por “conspiradores” que dizem que “não derrubaram Manuel Zelaya
do governo por ele, mas por Chávez”.
Israel
Questionado sobre o fato de a Venezuela também ter expulsado um embaixador este ano – o de Israel, em janeiro, por causa do ataque a Gaza –, Enrique Gonzalez apresentou o seguinte argumento: “O governo golpista de Honduras é ilegítimo, condenado por todos os países e organizações internacionais. A expulsão dos diplomatas israelenses foi uma ação de um governo legítimo, constitucional e democrático contra políticas que ignoram as leis internacionais”.
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Depois do golpe, os golpistas hondurenhos detiveram por uma noite 11 membros da equipe do canal de televisão venezuelano Telesur, acusados de circular num veículo roubado de uma loja de aluguel de carros, segundo a imprensa local.
Hugo Chávez também advertiu hoje que os Estados Unidos e seus aliados Colômbia e Israel configuram “todo um quadro de agressão” contra seu país, o que poderia gerar uma guerra.
O presidente disse que esse quadro é formado pela chegada iminente de “milhares de soldados ianques” a quatro novas bases militares na Colômbia, país que compartilha 2.219 quilômetros de fronteira terrestre com a Venezuela.
“Deus nos livre de uma guerra (…), mas isso não depende de nós (…) Estamos prontos para morrer, a Venezuela jamais voltará a ser colônia ianque, nem colônia de ninguém”, disse Chávez.
As denúncias de Israel de que a Venezuela protege “terroristas, como eles (os israelenses) classificam o Hizbollah”, também fazem parte das “agressões”, além das declarações de Washington de que “Chávez apoia o narcotráfico e o terrorismo”.
Até a postagem desta reportagem, a chancelaria venezuela não havia se manifestado sobre a expulsão de sua representação em Tegucigalpa.
*Colaborou Charlie Devereux, de Caracas
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