Setores produtivos da Colômbia manifestaram hoje sua preocupação e rejeição às medidas anunciadas pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, que ordenou o congelamento das relações diplomáticas e comerciais entre Caracas e Bogotá.
“As decisões anunciadas pelo presidente Chávez preocupam”, disse o presidente da associação do setor automotivo Asopartes, Tulio Zuloaga. Ele pontuou que os empresários colombianos devem buscar novos mercados e mirar especialmente os países asiáticos e os centro-americanos. Zuloaga indicou que as relações comerciais não deveriam ser afetadas pelas situações políticas.
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Por sua vez, o presidente da SAC (Sociedade de Agricultores da Colômbia), Rafael Mejía, manifestou que a situação atual é preocupante, mas confiou que os canais diplomáticos trabalhem da melhor maneira possível para chegar a uma solução.
O presidente da Fedegan (Federação de Pecuaristas de Colômbia), José Félix Lafaurie, disse que “o comércio não pode ser um instrumento de retaliação política” e advogou para que os processos de intercâmbio comercial entre os dois países fluam.
A Cavecol (Câmara de Integração Econômica Venezuelano-Colombiana) pediu “prudência” aos governantes de ambas as nações, e os exortou ao diálogo.
“Devemos nos tranquilizar e pedir calma, que as autoridades se reúnam para conversar”, disse o presidente da Cavecol, Daniel Montealegre, em reportagem divulgada pelo jornal venezuelano El Universal. Segundo ele, as negociações devem incluir os dois governantes, que, entre outras coisas, devem se abster de fechar as alfândegas, porque caso contrário “os maiores prejudicados serão os povos”.
Ele relembrou que a Venezuela recebe da Colômbia importantes produtos, especialmente do setor alimentício, de confecções e manufatura, e que o mercado colombiano recebe ferro, alumínio e diversos produtos petroquímicos venezuelanos. A Colômbia é o segundo maior exportador de alimentos para a Venezuela, depois dos Estados Unidos.
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A Cavecol previu na segunda feira (27) que o comércio entre as nações, sem a crise que se instalou ontem (28), fecharia esse ano em cerca de cinco bilhões de dólares, em comparação aos 10 bilhões inicialmente previstos.
Javier Díaz Molina, presidente da Associação Nacional de Comércio Exterior (Analdex), afirmou ao El Colombiano que em 2008 os empresários colombianos obtiveram mais de 6,1 bilhões de dólares em exportações para o mercado venezuelano.
Segundo dados oficiais, as importações vindas da Colômbia somaram 2,62 bilhões de dólares somente no primeiro semestre. Ontem, Chávez disse que estas não eram “imprescindíveis”.
Intermediação do Brasil
Guillermo Montoya Gómez, da consultora em negócios internacionais Araújo Ibarra, disse ao jornal El Colombiano que acredita ser necessária neste momento a intermediação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, segundo ele, tem ascendência sobre a Venezuela e é amigo da Colômbia.
O analista econômico considera que o presidente Uribe fez certo ao colocar o tema do armamento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no cenário internacional, e que agora é prudente baixar o tom até que as “águas se acalmem” no país vizinho. Gómez lembra que a experiência demonstra que nem para a Colômbia é fácil buscar um mercado alternativo para suas exportações, nem para os venezuelanos encontrar um provedor tão próximo e confiável.
O presidente Chávez ordenou congelar as relações comerciais frente às acusações “irresponsáveis” de Bogotá sobre o suposto desvio de armas venezuelanas compradas na Suécia na década de 1980 para a guerrilha das Farc.
Chávez também ordenou a retirada do embaixador venezuelano na Colômbia, Gustavo Márquez, e advertiu que romperá definitivamente os laços com Bogotá ante uma eventual “próxima declaração verbal” da parte do presidente Álvaro Uribe que signifique una “nova agressão”.
Em viagem à Costa Rica, o presidente colombiano ainda não se pronunciou sobre a decisão de Chávez.
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