Domingo, 20 de abril de 2025
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Em meio à crise do capitalismo que afeta o mundo como um todo, mais de 65 personalidades internacionais, entre intelectuais, líderes políticos e membros de movimentos sociais, em sua maioria do Sul Global, se reúnem no Brasil para participar da Conferência Dilemas da Humanidade: Perspectivas para Transformação Social. A quarta edição do evento ocorre em São Paulo, entre 7 e 10 de abril, e tem como objetivo a troca de experiências globais para a construção de políticas que superem a lógica do capital e do imperialismo.

“É uma conferência importante para conjuntura atual no mundo inteiro, porque vivemos nesse cenário de crise do capitalismo, uma crise estrutural que nossos países do Sul [Global] têm como característica principal uma pobreza que cresce todos os dias, um nível de desigualdade que não tem paralelo na história”, explicou Stephanie Brito, da Secretaria da Assembleia Internacional dos Povos.

A Opera Mundi, a analista política avaliou que, enquanto não houver debates sobre propostas concretas que envolvam reformas políticas e econômicas que lidem com as crises social e ambiental, não será possível garantir a manutenção da esquerda no mundo.

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“É um debate muito importante na América Latina, onde todos os governos progressistas estão enfrentando desafios, mas também um debate importante no mundo inteiro. Agora a crise não está só no Sul, senão no Norte também”, afirmou.

Experiências globais

A Conferência Dilemas da Humanidade: Perspectivas para Transformação Social conta com a presença de personalidades de diversas partes do mundo, como África, América do Sul, América do Norte, Oriente Médio, Ásia e Europa.

Brito destacou à reportagem as participações de Andreina Tarazona, ex-ministra da Mulher e Igualdade de Gênero da Venezuela; o pesquisador Charles Abogri, de Gana; Cosmas Musumali, secretário geral do Partido Socialista da Zâmbia; Najib Akesbi, economista de Marrocos; professora Lyu Xinyu, diretora de instituto de pesquisa em comunicação internacional da Universidade Normal do Leste da China; professor Yaroslav Lissovolik, da Rússia, diretor geral e chefe de pesquisa no Instituto Sberbank; engenheiro Hector Alonso Romero Gutiérrez, da Comissão Reguladora de Energia, do México; entre outros.

Em relação às presenças venezuelana e russa, Brito as descreveu como “muito importantes” pois configuram projetos que buscam construir alternativas ao sistema que os Estados Unidos têm moldado aos seus interesses imperialistas.

Mais especificamente em relação à gestão do atual presidente norte-americano Donald Trump, que tem alimentado uma guerra comercial por meio de medidas protecionistas, a analista política explicou que o comportamento do magnata é uma “demonstração clara” de que Washington tem como preocupação primordial a sua própria sobrevivência como nação hegemônica dentro um cenário de crise mundial.

“Hoje fica muito mais evidente que os Estados Unidos entendem que, nesse contexto de crise, o problema central não é só a queda de taxa de lucro, a falta de crescimento econômico, senão o fato de que a China está colocada para superar economicamente o país no prazo cada vez mais curto. Para os Estados Unidos o mais importante é manter a hegemonia a qualquer custo”, disse.

Nesse sentido, a analista entende que a conferência seja “um momento propício” para uma série de pautas da atualidade, argumentando que “as saídas da crise não vão ser construídas pelos Estados Unidos”.

Isso inclui também o tema do genocídio promovido por Israel, com financiamento norte-americano, na Faixa de Gaza. Da mesma forma como na edição anterior, o cenário palestino, que expõe “uma contradição da crise do sistema capitalista e da crise do imperialismo”, segundo Brito, será novamente abordado. “Sem dúvida, a gente não pode parar de falar do genocídio e do projeto sionista, e como ele configura uma das expressões mais evidentes da barbárie que hoje a gente vive como consequência da crise do capitalismo”, disse.

X/Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
A Conferência Dilemas da Humanidade: Perspectivas para Transformação Social ocorre em São Paulo, entre 7 e 10 de abril, reunindo intelectuais de todo o mundo

Brasil e o Sul Global

Questionada sobre as críticas do campo progressista que envolvem o Brasil e o alinhamento com o Sul Global, Brito avaliou que essa perspectiva foi alimentada principalmente por uma contribuição menos “expressiva” do governo de Luiz Inácio Lula da Silva com a construção e consolidação do BRICS, embora a gestão tenha indicado a ex-presidente do país, Dilma Rousseff, para chefiar o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).

A analista política associou a falta de prioridade do governo Lula em relação à agenda do Sul Global com uma “leitura que ele faz sobre o papel dos Estados Unidos”. 

“O peso de se envolver no BRICS talvez hoje em dia seja percebido como uma posição mais antagônica aos Estados Unidos e que pode carregar consequências”, explicou. “Lamentavelmente, embora os Estados Unidos não ofereçam hoje os mesmos caminhos para um desenvolvimento econômico que supere a desigualdade, que é urgente no Brasil, ainda há uma certa reticência para se colocar num papel de oposição aos Estados Unidos”.