EUA: e-mail de Musk a servidores públicos gera caos; entenda
Órgão liderado pelo bilionário exigiu que trabalhadores prestassem contas de seus empregos ou seriam demitidos; autoridade de RH do governo disse que resposta não é obrigatória
O escritório de gestão de pessoal dos EUA (OPM na sigla em inglês), principal agência de recursos humanos do governo norte-americano, informou que os funcionários federais do país “não devem se sentir obrigados” a responder os emails do Departamento de Eficiência Governamental (Doge) enviados no último final de semana para que justificassem seus empregos.
Os trabalhadores, que ocupam posições conhecidas como a de um funcionário público no Brasil, são alvo de demissão em massa pelo Doge, órgão liderado pelo bilionário Elon Musk, cujo objetivo é o corte de gastos do governo norte-americano.
Após o presidente dos EUA, Donald Trump, pressionar Musk a ser “mais agressivo” nos cortes orçamentários, o empresário de extrema direita anunciou no último sábado (22/02) o envio dos emails e ameaça de demissão caso os mais de dois milhões de funcionários não respondessem a mensagem dentro de 48 horas.
“De acordo com as instruções do presidente Donald Trump, todos os funcionários federais em breve receberão um email solicitando compreender o que realizaram na semana anterior. A falta de resposta será considerada como uma demissão”, afirmou Musk em uma publicação na rede social X, que é de sua posse.
A exigência do Doge levou à atualização de um processo judicial iniciado por advogados de funcionários federais que tentam impedir a demissão em massa. Segundo a defesa dos trabalhadores, Musk “violou a lei” ao emitir o pedido no email.
O maior sindicato federal dos EUA e um dos integrantes do processo contra as demissões, a Federação Americana de Funcionários do Governo (AFGE) enviou uma carta ao OPM, classificando o pedido de Musk como “não apenas inapropriado, mas prejudicial às funções do governo”.
Our letter to OPM ⤵️ pic.twitter.com/ks8PJUSPJA
— AFGE (@AFGENational) February 23, 2025
“Funcionários federais se reportam às agências que os empregam por meio de cadeias de comando estabelecidas. Eles não se reportam ao OPM, “Doge” e definitivamente não a Elon Musk”, declarou o sindicato por meio das redes sociais.

Pressionado por Trump para ser “mais agressivo” nos cortes orçamentários, Musk ameaçou funcionários federais dos EUA
Crise interna
A ordem do Doge provocou “caos instantâneo em todo o governo”, segundo o jornal britânico The Guardian. “A própria liderança nomeada por Trump em agências federais responderam [ao email] de maneiras totalmente diferentes”, segundo o periódico.
Já a imprensa norte-americana relatou que funcionários de diferentes órgãos do governo norte-americano tiveram instruções diversas sobre como retornar a mensagem e até mesmo a necessidade de respondê-la.
Enquanto trabalhadores da Administração da Previdência Social, do Departamento de Saúde e Serviços Humanos e de Transporte foram instruídos a responder a requisição, o Departamento de Defesa e o Departamento Federal de Investigação (FBI) orientaram seus funcionários a não retornarem à mensagem.
As ordens do FBI para ignorar a mensagem do Doge foram inclusive emitidas pelo diretor Kash Patel, aliado de Trump.
Após o recuo do OPM, Trump declarou na última segunda-feira (24/02) em apoio ao email: “eles [Doge] estão tentando descobrir quem está trabalhando para o governo, estamos pagando outras pessoas que não estão trabalhando, e para onde está indo o dinheiro”.
Mais uma vez pressionado pelo presidente, Musk anunciou no X que os funcionários que não responderam à solicitação “terão outra chance”, mas que “não responder uma segunda vez resultará em demissão”.
O New York Times analisou a situação como “o primeiro teste real da investida de Elon Musk na burocracia federal”. “Pela primeira vez desde o início do retorno de Trump ao poder, os funcionários do governo pareciam estar se defendendo de uma emboscada”, escreveu a publicação.
(*) Com informações de New York Times e The Guardian
