Os eleitores da Catalunha, comunidade autônoma do nordeste da Espanha, vão às urnas neste domingo (12/05) em eleições legislativas regionais com impacto nacional. Pela primeira vez, desde 2010, os separatistas estão em dificuldades. O Partido Socialista Espanhol (PSOE) do primeiro-ministro Pedro Sánchez espera mostrar que a Catalunha abandonou suas aspirações de se tornar independente, e tenta vencer o duelo contra Carles Puigdemont, líder da tentativa de secessão de 2017.
Política de perdão
Determinado a virar a página da crise política de 2017, o primeiro-ministro perdoou em 2021 os líderes independentistas catalães condenados à prisão. Ele também concordou no ano passado em adotar uma lei de anistia para todos os separatistas processados pelos tribunais, em troca do apoio de seus partidos à renovação de seu mandato de quatro anos.
A anistia deve ser votada definitivamente pelos deputados nas próximas semanas e permitir a volta à Catalunha de Carles Puigdemont, que fugiu da região em 2017 para se instalar na Bélgica e escapar a processos judiciais.
A medida gerou muita polêmica e levou às ruas a oposição de direita e extrema direita, que acusa Sánchez de ter se tornado “refém” dos partidos independentistas com o objetivo de se manter no poder.
Superado nas sondagens pelo candidato socialista Salvador Illa, Carles Puigdemont, presidente regional em 2017, acredita na possibilidade de de uma virada e de uma volta triunfante à Catalunha, uma vez ratificada a anistia, à frente da região. O separatista fez campanha no sul da França porque ainda está sob mandado de prisão na Espanha.
Puigdemont, líder do partido Junts per Catalunya (Juntos pela Catalunha) garantiu que se retiraria da política local em caso de derrota.
Minado por divisões, o movimento separatista não deve conseguir manter sua maioria. O Junts acusa o partido moderado Esquerda Republicana de Catalunha (ERC) de trair a causa. Liderado por Pere Aragonès, o atual presidente regional, o partido de esquerda está em dificuldades e perdeu muito terreno durante as eleições legislativas de julho passado, marcados por um aumento do poder dos socialistas.
O jogo das alianças é ainda mais difícil para os separatistas devido ao surgimento de um novo partido classificado na extrema direita, a Aliança Catalã, com o qual as outras siglas independentistas garantiram que não irão se aliar.
Socialistas como única opção
Em caso de vitória, os socialistas, que devem conseguir eleger cerca de quarenta deputados, enquanto a maioria absoluta é de 68, também terão de encontrar aliados para governar.
Uma das hipóteses é uma aliança com a extrema esquerda, que já é membro do governo em âmbito nacional, mas também com o ERC que abandonaria assim a ideia de uma unidade do movimento independentista.
“A vida política catalã é extraordinariamente turbulenta. O PSOE sempre teve uma força muito significativa na Catalunha, especialmente nas eleições nacionais. Mas entre 2011 e 2017, encontrou-se num estado de fragilidade que sem dúvida contribuiu para a aceleração do movimento independentista”, explica à RFI Benoît Pellistrandi, historiador especialista da Espanha contemporânea.
Nessa época, os socialistas foram substituídos “por outras opções, como o movimento centrista Ciutadans-Ciudadanos (Cidadãos), que nasceu na Catalunha, mas que entrou em colapso em âmbito nacional e catalão também”, completa.
“Para quem não quer ser separatista e também não quer ser muito de direita, não há muitas outras opções além de votar nos socialistas. E esta é sem dúvida a razão pela qual o Partido Socialista lidera hoje nas intenções de voto. Mas, por outro lado, ele lidera entre 28% e 30% dos votos, portanto representa um pequeno terço do eleitorado. E o que temos na Catalunha é, de fato, um eleitorado extremamente fragmentado”, analisa.