O presidente do Equador, Daniel Noboa anunciou nesta terça-feira (12/03), através de suas redes sociais, o que descreveu como uma “aliança estratégica” com a empresa militar norte-americana Blackwater, conhecida por disponibilizar mercenários para governos e grupos privados em diversos países do mundo.
O acordo foi apresentado em uma publicação que contém uma foto em preto e branco onde aparecem o próprio Noboa e o dono e fundador da Blackwater, o ex-militar e empresário Erik Prince.
Na postagem, o mandatário equatoriano conta que “o crime organizado semeou o medo e acreditou que poderia operar impunemente. O tempo deles acabou. A ajuda internacional chegou ao Equador”.
“Em reunião com Erik Prince, fundador da Blackwater, estabelecemos uma aliança estratégica para fortalecer nossas capacidades na luta contra o narcoterrorismo e a proteção de nossas águas contra a pesca ilegal. Não há trégua. Não há como voltar atrás. Vamos em frente”, completou Noboa, em sua mensagem.
A “aliança” anunciada por Noboa surge em meio a questionamentos sobre a política do atual governo para combater o crime organizado. Também acontece em paralelo com uma acirrada campanha presidencial, na qual Noboa tenta a reeleição, em um segundo turno contra a candidata de esquerda Luisa González, do partido Revolução Cidadã.
Vale lembrar que Noboa venceu o primeiro turno, realizado no dia 9 de fevereiro, mas com uma vantagem de menos de 17 mil votos: 44,17% contra 44,01% de González.
As três pesquisas eleitorais difundidas durante a campanha do segundo turno mostram a candidata de esquerda em primeiro lugar, com vantagem variando entre 5% e 7%. O segundo turno das eleições presidenciais no Equador acontecerá no dia 13 de abril.
El crimen organizado ha sembrado miedo y ha creído que puede operar con impunidad. Se les acaba su hora. Empieza la ayuda internacional en el Ecuador.
En reunión con @realErikDPrince, fundador de Blackwater, hemos establecido una alianza estratégica para fortalecer nuestras… pic.twitter.com/9IDnzADqvg
— Daniel Noboa Azin (@DanielNoboaOk) March 11, 2025
Blackwater na Venezuela
O parceiro “estratégico” anunciado por Noboa possui um histórico de ações controversas em diversos países do mundo, e não é a primeira vez que aparece envolvido com um país da América do Sul.
Nos últimos anos, a Blackwater foi apontada como uma possível prestadora de serviços para grupos políticos que organizaram tentativas de derrubar governos na Venezuela, tanto no período de Hugo Chávez (1999-2013) quando no de Nicolás Maduro (2013 até a atualidade).
Em setembro de 2024, o ministro do Interior venezuelano, Diosdado Cabello, afirmou que a polícia local investigava o possível envolvimento da empresa militar numa operação pela qual tentaram introduzir no país um carregamento de mais de 400 fuzis e metralhadoras dos modelos Kalashnikov USA e M4A1.
“Essas armas estão sendo enviadas para operações que visam promover o terrorismo e atentar contra a nossa democracia”, afirmou Cabello, horas depois da apreensão das armas pelas forças venezuelanas.
Na ocasião, o ministro afirmou que o envolvimento da Blackwater na operação era uma das principais hipóteses trabalhadas na investigação, já que o empresário Erik Prince havia afirmado, dias antes, que suas tropas estariam se infiltrando no país para atacar a infraestrutura vital, especialmente na área de energia, e também para praticar assassinatos seletivos.
A declaração foi publicada nas redes sociais de Prince, acompanhada do nome da operação (“Ya Casi Venezuela”, ou “quase lá Venezuela”) e a mensagem “a Venezuela está a ponto de mudar de rumo”, junto com um relógio em contagem regressiva, que no dia 11 de setembro afirmava que faltavam cinco dias e 23 horas para que se produzisse a tal novidade prometida.
Esse episódio aconteceu cerca de 50 dias depois da vitória de Maduro nas eleições presidenciais da Venezuela, quando o atual presidente conquistou seu terceiro mandato, iniciado em janeiro passado.

Blackwater no Iraque
A Blackwater também é recordada por sua atuação em conflitos em outras regiões do mundo, especialmente no Leste Europeu e no Oriente Médio.
Um dos casos mais famosos envolvendo mercenários da empresa de Erik Prince aconteceu no Iraque, em 2007, e ficou conhecido como Massacre da Praça Nisour em Bagdá.
Na ocasião, um grupo de funcionários da Blackwater matou 17 civis iraquianos e feriu outros 20, em uma missão na qual alegaram ter atacado supostos terroristas. A Justiça dos Estados Unidos chegou a condenar quatro desses mercenários a penas de prisão, mas eles foram perdoados em dezembro de 2020 por um decreto do então presidente Donald Trump.
Com informações de TeleSur.