A pouco mais de um mês das eleições para o Parlamento Europeu, em 9 de junho, o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) está fazendo uma promessa aos eleitores: lutar contra “restrições à soberania nacional e a redistribuição de riqueza e bens por meio de regulamentações da União Europeia”. Em seu programa eleitoral, diz que pretende convencer outros partidos europeus a fim de atingir esse objetivo.
Mas depois de todos os escândalos envolvendo a AfD nos últimos meses, está cada vez mais difícil achar uma sigla na Europa que queira formar uma bancada com os ultradireitistas alemães. A lista de polêmicas inclui políticos suspeitos de receber fundos ilegais da Rússia, bem como um assessor acusado de espionagem para o regime autoritário da China.
Sobretudo, a relação com o partido de extrema direita francês Reunião Nacional (RN), liderado por Marine Le Pen, tem sido tensa há meses. Citando fontes internas do partido, o jornal suíço Neue Zürcher Zeitung reportou que o RN está considerando deixar o “Identidade e Democracia”, grupo político de extrema direita dentro do Parlamento Europeu, após as eleições.
A extrema direita europeia e Putin
Os escândalos da AfD preocupam Le Pen e complicam seus planos de se tornar presidente da França. Afinal, vínculos com radicais, com o governo autocrático do presidente russo Vladimir Putin e com um espião chinês não se encaixam em sua estratégia presidencial. Em 2017, ela apareceu orgulhosamente ao lado de Putin e aceitou um empréstimo milionário de um banco com laços estreitos com o Kremlin.
Mas agora a direita francesa está buscando distância desses escândalos. E Le Pen fez questão de deixar isso claro à líder da AfD, Alice Weidel.
Em uma reunião entre as duas neste ano em Paris, a política francesa teria exigido um compromisso por escrito da alemã de nunca permitir que os supostos planos de expulsão de migrantes da Alemanha se tornassem parte do programa do partido.
Na Itália, a extrema direita também não parece querer ser associada à AfD. Em janeiro de 2024, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, declarou que havia “diferenças irreconciliáveis” entre seu partido de extrema direita Irmãos da Itália e a sigla ultradireitista alemã.
Segundo a premiê, essa divergência tem a ver com as relações com a Rússia. Embora a pós-fascista Meloni seja considerada linha dura no que diz respeito à política interna e à migração, em termos de política externa ela é orientada para a aliança transatlântica com os Estados Unidos, ao contrário da AfD.
AfD busca se distanciar de polêmicas
A própria AfD está abalada com seus escândalos. No início da campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, a liderança do partido ordenou que seu principal candidato, Maximilian Krah, não participasse do pleito. A lista de acusações, suspeitas e rumores que cercam o político se tornou longa demais: um assessor dele acabou de ser preso sob suspeita de espionagem para a China.
Segundo relatos da imprensa, Krah foi interrogado pelo FBI em Nova York sobre dinheiro procedente da Rússia. E a promotoria pública em Dresden, no leste da Alemanha, iniciou duas investigações preliminares contra ele por suspeita de pagamentos ilegais da Rússia e da China. Krah rejeita todas as acusações e prometeu cooperar com as autoridades de segurança.
O número dois da lista de candidatos da AfD também está em apuros. Petr Bystron também é suspeito de receber pagamentos ilegais da Rússia. A suspeita é ainda mais séria no caso dele: a imprensa divulgou gravações de áudio nas quais Bystron supostamente reclamava que o dinheiro foi pago em notas altas demais.
À medida que se espalham os escândalos, a liderança do partido é repreendida até dentro de suas próprias fileiras. Sylvia Limmer, atual eurodeputada da AfD, criticou que um político controverso com contatos na China tenha sido indicado como candidato principal: “As evidências eram suficientemente conhecidas”, afirmou.
Sem fim à vista para os escândalos
Mas o fim dos escândalos da AfD parece estar longe. O ministro da Justiça alemão, Marco Buschmann, prevê novos casos de espionagem num futuro próximo: “temos que assumir que haverá mais revelações nos próximos meses”, disse ele à emissora de televisão ARD.
Além de Maximilian Krah e Petr Bystron, há outros membros controversos do partido na lista de campanha para as eleições europeias.
O promissor candidato Siegbert Droese, anos atrás, chegou a posar com a mão no coração em frente ao bunker conhecido como Wolfsschanze (toca do lobo), um quartel-general onde Adolf Hitler traçou planos para a guerra o Holocausto. Droese também já fez campanha com um carro da AfD que tinha como placa os símbolos típicos do líder nazista.