Pouca gente se surpreendeu nos corredores da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) quando o seu presidente, Max Mosley, 69 anos, apareceu no vídeo de uma orgia com referências nazistas no ano passado. No papel de comandante de um campo de concentração, o inglês exibia ali suas raízes fascistas – filho de Oswald Mosley, amigo pessoal de Adolf Hitler. Ao lado de outro ultradireitista, o dono dos direitos da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, ele reina no lucrativo esporte desde 1993. Mas isso está perto de acabar.
Desgastes com as equipes da principal categoria do automobilismo mundial fizeram Mosley anunciar que não disputará a reeleição, em outubro. Vez ou outra ele dá declarações sugerindo que pode mudar de idéia, mas a disposição dos times da Fórmula 1 de deixar o campeonato e abrir uma nova categoria no automobilismo mundial parece séria.
“A FIA não precisa de grande coisa como presidente, precisa apenas de alguém normal”, disse ao Opera Mundi o jornalista Cláudio Carsughi, comentarista da rádio Joven Pan. “Se Mosley sair como promete, já estará ajudando bastante. Podem colocar qualquer um no lugar dele, já fará muita diferença não ter um dirigente autocrático e, acima de tudo, nazista como ele é”.
Primeiro candidato a se colocar contra Mosley, o finlandês Ari Vatanen confirmou que participará da disputa. Ele tem no seu currículo uma longa ligação ao automobilismo, tendo sido campeão mundial de rali em 1981. É também um dos maiores vencedores da história do rali Paris-Dakar, com os títulos de 1987, 1989, 1990 e 1991.
“Respondendo aos pedidos de muitos clubes membros da FIA, irei concorrer às eleições da FIA em outubro deste ano. Penso que chegou a altura de haver uma mudança”, afirmou o finlandês ao Autosport.com. “O meu principal objetivo será a reconciliação de diversas visões dentro da FIA e trazer transparência aos seus sócios. O dever de um presidente é defender bilhões de automobilistas e o nosso grande esporte”.
Voto de confiança
Na época do vídeo, em março de 2008, Mosley acabou ganhando um voto de confiança da FIA e permaneceu à frente da entidade. Disse que as insinuações de nazismo eram “completamente falsas”, mas não negou o encontro que teve com garotas de programa. Não resistiu, porém, às pressões das maiores equipes da F1 contra a série de mudanças que quis instituir a partir da próxima temporada.
“Se as grandes já estão sofrendo agora, com as ex-pequenas Brawn GP e RBR dominando o campeonato por causa de algumas mudanças, imagine se iam aceitar um teto para investimentos que não as permitisse voltar a ampliar a diferença sobre as novas rivais? A Fórmula 1 são as equipes, não a FIA e agora as equipes se deram conta disso”, comentou Carsughi.
A FIA é uma associação não lucrativa que representa interesses sobre automobilismo e uso de automóveis. Criada em 1904, ela organiza há 59 anos o seu campeonato mundial, a atual Fórmula 1. É com base nela que Mosley manteve seu prestígio apesar do passado e do presente obscuros. Tudo graças ao milionário Ecclestone, que compartilha com ele não apenas o interesse por carros.
Em entrevista ao jornal The Times na semana passada, o dirigente da F1 defendeu os regimes totalitários e teceu uma série de elogios a Hitler. “Apesar de que dizer isso pode ser terrível e que Hitler se deixou levar em um determinado momento e fez coisas que não sei se realmente queria fazer ou não, o certo é que estava em posição de mandar em muitos e conseguir que as coisas fossem feitas”, disse.
“No final, ele se perdeu. Então, não foi um bom ditador, porque ou ele sabia o que estava acontecendo e insistiu nisso, ou simplesmente foi condescendente. De qualquer maneira, não se comportou como um ditador”, comentou.
De acordo com Ecclestone, seu amigo Mosley seria um bom primeiro-ministro para a Inglaterra. Afinal, diz ele, o presidente da FIA sabe fazer as equipes obedecerem com seu estilo ditatorial.
Nenhum representante de equipe da Fórmula 1 fez comentários sobre as afirmações de Ecclestone.
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