Evento-teste para a Copa do Mundo, a Copa das Confederações reúne os campeões continentais, o país-sede e o detentor do título mundial. Mas se a competição, encerrada com a vitória do Brasil no domingo, serve como vestibular para o principal torneio do futebol, a África do Sul ficou perto de ser reprovada por dirigentes, jogadores e jornalistas.
Tornaram-se constantes as reclamações sobre baixo interesse do público, que não podia pagar pelos ingressos, sobre flanelinhas guardando estacionamentos particulares e, acima de tudo, sobre a frágil segurança pública no país – em especial fora dos dias de jogos, nos quais o Exército saía às ruas para proteger o público.
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Os primeiros incidentes que levantaram dúvidas sobre a organização foram supostos roubos nos hotéis das seleções brasileira, em Pretória, e da egípcia, em Joanesburgo. No caso dos campeões africanos, as suspeitas recaíram sobre prostitutas – que, inclusive, foram registradas como amigas na portaria do Hotel Protea Wanderers. Depois da festa, desapareceram 2,4 mil dólares.
Já no caso brasileiro, o problema foi envolvido em uma questão diplomática, para minimizar o fato de o chefe da delegação ter dito publicamente que a África do Sul não tinha condições de realizar um bom mundial.
Disposta a evitar novos atritos com a organização da primeira Copa do Mundo no continente mais pobre do mundo, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), atribuiu a culpa ao próprio lateral-esquerdo Kléber e ao fisioterapeuta Odir Carmo, que teriam sido descuidados. O presidente da entidade, Ricardo Teixeira, evitou ao máximo incidentes com os donos da casa, que poderiam ampliar as preocupações com o mundial de 2014.
Seriam apenas incidentes isolados se vários torcedores e jornalistas não tivessem se queixado de roubos e de ataques. Não por falta de aviso que muitos deles se deram mal. “Teve jornalista estrangeiro que foi assaltado porque não notou que depois das 21h pouca gente sai do hotel andando”, disse ao OperaMundi o repórter Alexandre Sinato, do UOL. “Muita gente está acostumada com evento de primeiro mundo e não fica tão esperto na hora de se cuidar. Eles até sabem que aqui não é a Alemanha (sede do último Mundial), mas entre saber e tomar as medidas certas para se precaver é outra coisa”.
É esse também o sentimento do chefe da delegação do Brasil na África do Sul, coronel Antonio Carlos Nunes de Lima, presidente da Federação Paraense de Futebol – em um gesto diplomático para com Belém, que foi preterida por Manaus na escolha das cidades sede para a Copa do Mundo de 2014.
“Não daria aprovação para isso aqui. Depois das seis da tarde existe toque de recolher, não se vê mais ninguém nas ruas. Estou realmente preocupado. Parece uma cidade em guerra permanente. Nem mesmo nós, que temos escolta da polícia, somos respeitados. Não tem como sair depois do jogo para comemorar a vitória em um bar. Estava pensando em trazer minha família para a Copa, mas já não sei se vou fazer isso”, disse a jornalistas.
Estádios vazios
Apesar disso, ao contrário do que acontece nos estádios brasileiros, não foi a violência que afastou torcedores dos jogos da primeira fase do torneio. Em um país onde o futebol é o esporte da maioria negra, que é também mais pobre, a Fifa, entidade que comanda o esporte globalmente, teve de distribuir ingressos a escolas e instituições nas cidades-sede para que os estádios ficassem mais cheios.
As entradas custavam entre 10 e 200 dólares. As mais baratas eram quase três vezes mais caras que as da liga local – que disputa espaço com o críquete e o rúgbi, esportes preferidos dos brancos.
Exceto pelos jogos da dona da casa e pela final, com público de 52 mil pessoas que assistiram à virada do Brasil sobre os surpreendentes Estados Unidos por 3×2 em Joanesburgo, todas as outras partidas não tiveram lotação completa. Algumas, como as de seleções menos tradicionais como Iraque e Nova Zelândia, tiveram estádios praticamente às moscas.
Grande novidade para os europeus: flanelinhas
Causou revolta em jornalistas europeus o fato de haver flanelinhas pedindo dinheiro no estacionamento da imprensa no estádio Loftus Versfeld, em Pretória, após a partida Brasil 3 x 0 Itália na primeira fase do torneio.
Na entrevista coletiva do dia seguinte organizada pelo Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2010, jornalistas da mídia estrangeira questionaram a capacidade de o país fornecer segurança aos milhares de torcedores que irão aos estádios sul-africanos no ano que vem.
“Acho que há exagero nisso. Eles (jornalistas do 1º mundo) não entendem que isso é um país de terceiro mundo e que o fato de as pessoas pedirem dinheiro na rua é algo normal, não propriamente um assalto”, afirmou Danny Jordaan, presidente do COL.
“Essa Copa das Confederações não é diferente das outras. Não é a primeira vez que reclamam de ter perdido dinheiro em hotel. Isso acontece sempre, em qualquer país. Estamos provando que somos capazes de criar um ambiente seguro para a Copa”, disse.
A Copa do Mundo de 2010 será a primeira em solo africano e começa no dia 11 de junho.
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