A crescente violência na fronteira do México com os Estados Unidos está preocupando o governo norte-americano. A cada dia que passa, ganha mais força a ideia de uma intervenção no país vizinho para que o avanço dos cartéis de droga seja travado. A proposta é criar um “plano Colômbia” para o México.
A preocupação norte-americana parte da percepção de que o México é um Estado “fracassado”, sem meios nem vontade de enfrentar o fenômeno, tanto por incapacidade política como militar.
Segundo fontes consultadas pelo Opera Mundi, existe um estudo do Pentágono que conclui não apenas isso, mas também que uma solução inevitável seria o envio de tropas para a fronteira e a “cooperação entre os dois Exércitos”.
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Narcotráfico resiste ao governo mexicano e se expande pelas Américas
Na semana passada, o almirante Michael Mullen, chefe da Junta de Chefes de Estado Maior, realizou uma visita de dois dias ao México e à Colômbia. Antes de partir, esclareceu, em declarações à imprensa, que em relação à situação na fronteira, “andamos procurando formas de ajudá-los a enfrentar este tipo de ameaça”.
Suas declarações foram antecedidas por outras mais precisas, por parte do secretário da Defesa, Robert Gates. “O Exército dos Estados Unidos se encontra em boa posição para oferecer ao México tanto treino militar como recursos ou informações, para que se possa combater com eficiência os cartéis da droga”, disse.
“A verdade é que temos um problema sério. Por isso, penso que começamos a nos ver numa posição em que podemos ajudar os mexicanos mais do que fizemos no passado, e que estão a ponto de desaparecer velhas reticências dessa cooperação entre os militares dos dois países”, acrescentou o alto funcionário da administração.
Colômbia
Em fevereiro, discursando na Universidade de Princeton, em New Jersey, Mullen disse que a colaboração dos Estados Unidos com a Colômbia é um bom exemplo de trabalho conjunto, que deveria ser copiado no México.
“Acho que o caso colombiano é um exemplo muito bom de um programa bastante amplo, e não só militar, desenhado para apoiar um amigo num momento em que, sem dúvida, está muito próximo de ser um estado fracassado”, disse o general norte-americano.
E acrescentou: “Penso que [o plano Colômbia] é um modelo instrutivo de como devemos trabalhar do outro lado da fronteira, no México, onde o problema das drogas está gerando todas estas mortes. Queremos oferecer nossa colaboração”.
Nessa ocasião, Mullen felicitou o presidente Álvaro Uribe por ter incluído os militares na execução do plano Colômbia, que permitiu “a recuperação de mais de um terço do território nacional que estava fora do seu controle. O que o presidente e seus militares conseguiram é admirável”, considerou Mullen.
O general norte-americano não está só quando defende uma maior participação dos Estados Unidos no combate ao narcotráfico mexicano.
O ex-embaixador do seu país na Cidade do México, Tony Garza, é da mesma opinião. “Os Estados fracassados não têm nem um Executivo, nem um Poder Judiciário ou Legislativo que funcione. Também não tem, como demonstrou o presidente Felipe Calderón, uma vontade política para acabar com os cartéis multinacionais que ameaçam a segurança regional, nem têm a coragem para travar uma batalha até vitória”, considerou o ex-embaixador, numa entrevista ao diário Houston Cronicle.
Quem compra
Por outro lado, Garza não nega que a gênese do narcotráfico mexicano esteja no lado norte-americano. “O México não estaria passando por esta situação se não fosse pelo mercado norte-americano. Mais uma razão para participarmos nessa luta ao lado dos mexicanos”, explica.
O presidente Calderón está de acordo. Numa entrevista ao jornal Le Monde, recordou que se não fosse pelo elevado consumo ao norte da fronteira, “não teríamos este problema”. De qualquer modo, garantiu o presidente, apesar da dureza da luta contra o narcotráfico, “não há um só ponto do território nacional fora do controle do Estado”.
Apesar de que a situação na fronteira dos dois países piora dia a dia, uma maior intervenção num assunto interno do México não é bem recebida. Nem no México nem nos Estados Unidos.
Como recordou à cadeia CNN en Español o ex-general mexicano Luis Garfias, os mexicanos tradicionalmente têm dificuldade em abrir as portas do seu país aos militares norte-americanos.
“A nossa história comum está cheia de incidentes e mal entendidos. É por isso que nunca aceitamos este tipo de colaboração. O México sempre foi contrário à entrada de tropas estrangeiras em seu território”, afirmou o general, que foi membro da Comissão Interamericana de Defesa.
Alarmismo
Nos Estados Unidos, outro que desaconselha a participação de tropas norte-americanas no combate ao narcotráfico mexicano é Peter Hakim, presidente de Diálogo Interamericano, um centro de análise privado, com sede em Washington.
“A ameaça não deve ser ignorada, mas o certo é que o sistema democrático mexicano não está ameaçado pela atividade criminosa nem as instituições do país estão em risco”, afirmou Hakim, no relatório anual de recomendações políticas para a região, enviado ao presidente nesta terça-feira (10).
Segundo o diretor de Diálogo Interamericano, “o México não está sob risco de vir a ser um Estado fracassado”, contudo, “as interpretações nesse sentido, alarmistas e profundamente erradas por parte dos militares e das agências de espionagem norte-americanas, são cada vez mais comuns”.
E o perigo, aponta Hakim, é que “podem conduzir a percepções políticas desencaminhadas, o que tornará ainda mais difícil a cooperação em temas de segurança entre os Estados Unidos e o México”.
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