Quarta-feira, 26 de março de 2025
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O governo de Donald Trump nos Estados Unidos cancelou programas que apoiavam ativistas de oposição, presos políticos e grupos religiosos em Cuba, Nicarágua e Venezuela. Uma análise do Departamento de Estado concluiu que tais projetos não estavam alinhados com as prioridades das agências e não eram do “interesse nacional”.

Com isso, só a imprensa de oposição em Cuba, que se autodenomina “imprensa independente”, perdeu uma quantia de US$ 1,5 milhão. Uma postagem da Casa Branca no X citou esse como um exemplo dos “programas ridículos” que foram cortados.

Apenas três dos 95 programas administrados pelo Instituto Republicano Internacional (IRI) não foram cancelados, mas estão pausados por 90 dias até a conclusão de uma avaliação sobrea continuidade do projeto. O financiamento vinha a partir da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Os três que foram mantidos estão focados no apoio à oposição venezuelana.

Outros programas do IRI estão em situação incerta já que dependem de fundos do Congresso para a Fundação Nacional para a Democracia (NED), que também teve suas verbas congeladas. A situação é a mesma no Instituto Nacional Democrata (NDI, da sigla em inglês), que também depende de verbas da USAID.

A maioria dos funcionários de todos os organismos norte-americanos que trabalhavam com esses tipos de programas foi colocada sob licença administrativa.

Republicanos não vêm resultados no apoio à oposição

Em uma audiência no Senado, republicanos argumentaram que não havia sentido manter programas que buscavam interferir nos países e não obtinham resultados satisfatórios, ou seja, a mudança de governo.

Há décadas, os programas de “promoção da democracia”, que eram de financiamento à oposição em países com governos contrários aos interesses norte-americanos, são elementos importantes da política externa dos Estados Unidos. Da mesma forma, o financiamento à mídia.

Nos últimos 20 anos, a USAID investiu bilhões de dólares em organizações não governamentais e veículos de comunicação para moldar narrativas acordes com os seus interesses em regiões estratégicas. Tudo sob a fachada de luta contra a censura e apoio à liberdade de imprensa e à mídia “independente”. É o que mostra uma reportagem da TelesurTV.

De acordo com um relatório da USAID, desde 2010, US$ 3,2 bilhões foram destinados pela agência a programas de “fortalecimento mediático” em 70 países, com ênfase no leste europeu, América Latina e África. Em todos os casos, o financiamento à organizações como Internews, International Center for Journalists ou Freedom House ocorrem para defender os países de “regimes autoritários”.

Wikimedia Commons
O senador republicano Rick Scott defende o fim do financiamento à oposição em Cuba, Venezuela e Nicaragua por ineficiente

20 anos financiando veículos para controlar a narrativa

Mas só recebem apoio os veículos alinhados com as prioridades da política externa norte-americana. Dessa forma, o jornal nicaraguense Confidencial, por exemplo, que deu ampla cobertura aos protestos de 2018, apresentando-o como luta pela “mudança de regime”, recebeu amplo financiamento.

Na Venezuela, ao menos uma dúzia de veículos de comunicação recebem apoio da USAID para criticar o governo. Muitos, como NTN24 Venezuela, Caraota Digital e ViviPlay, estão sediados na Colômbia, Espanha ou Estados Unidos.

Sua cobertura foca na “crise humanitária” e “repressão política”, mas quase não mencionam as consequências das sanções impostas pelos Estados Unidos. Assim também funciona nos veículos de Cuba, onde até o apagão recente chegou a ser apresentado como consequência de má gestão e não do bloqueio.

O relatório da USAID vazado pelo WikeLeaks mostrou que a entidade treinava jornalistas em “padrões éticos e técnicas inovadoras”. Ao menos 30 veículos de mídia digital e organizações jornalísticas em países como Colômbia, Venezuela, Nicarágua, Cuba e México receberam fundos da agência entre 2020 e 2024. Não foi por acaso que a Caracas acusou a USAID de apoiar a tentativa de golpe da extrema direita. 

Na Ucrânia, a USAID investiu US$ 15 milhões no Media Deep Dive (2021-2023) focado em “desmentir propaganda russa”. O projeto excluiu todos os meios que denunciaram o histórico de corrupção do governo ucraniano ou os interesses da indústria armamentista dos EUA na guerra.

USAID financiava ONGs em mais de 30 países

O subsídio dos EUA à mídia ucraniana é anterior à guerra, mas se intensificou a partir dela ela. Segundo a reportagem da TeleSUR, 90% das notícias procedentes da Ucrânia estão sob influência desse financiamento.

O relatório da USAID menciona “repressão” aos profissionais na Venezuela, China e Rússia, mas omite os abusos e a falta de liberdade de imprensa em países aliados, como Israel e Arábia Saudita. Da mesma forma, veículos financiados pela agência jamais investigam assuntos que não interessam aos Estados Unidos, como a base militar de Guantánamo (Cuba), a de Okinawa (Japão) ou o impacto da extração de lítio na Argentina por empresas norte-americanas.

A USAID, segundo seu próprio relatório, financiava mais de 6.200 jornalistas em 707 veículos e 279 ONGs mediáticas em mais de 30 países. Para 2025, o Congresso havia destinado US$ 268,3 milhões a “veículos independentes”. Inclusive empresas como Associated Press, BBC e New York Times figuravam entre os beneficiários.