A administração de Barack Obama mantém-se irredutível na posição de limitar ao máximo os contatos com as autoridades golpistas hondurenhas, ao mesmo tempo em que insiste no regresso de Manuel Zelaya ao poder, confirmaram fontes norte-americanas ao Opera Mundi.
Esta semana, um grupo de políticos e empresários alinhados ao governo golpista de Honduras tentou viajar a Washington para convencer a administração de que o golpe de Estado foi uma tentativa de travar a influência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, na região, assim como a “expansão do comunismo” e a “ditadura”, como explicou Amílcar Bulnes, presidente da entidade nacional que agrupa os empresários, na segunda-feira (20).
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“Penso que [quando lhes explicarmos o que acontece] eles terão algum tipo de reação”, acrescentou.
Mas a recepção foi a mesma dada aos enviados do presidente golpista, Roberto Micheletti, quando ninguém os quis receber no início do mês em Washington e regressaram a Tegucigalpa de mãos vazias. “Nesse momento, dissemos claramente que não os receberíamos. Nada mudou desde então”, relatou ao Opera Mundi uma fonte do Departamento de Estado.
“Se voltarem a insistir, nossa resposta será a mesma”, acrescentou a fonte, que pediu anonimato devido ao período de transição pelo qual passa a equipe latino-americana do Departamento de Estado.
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Tática dos empresários
Se a estratégia de Micheletti vem sendo a de convencer as autoridades políticas dos Estados Unidos a apóia-lo, desta vez a tática dos empresários foi bater na porta daqueles que defendem o livre-comércio e sensibilizá-los para as consequências do prolongamento de um embargo comercial a Honduras, como exige a OEA (Organização de Estados Americanos), que suspendeu a participação do governo de Micheletti na entidade.
“Honduras é um pequeno país, pobre. Seria ruim se o mundo se vingasse neste país”, acrescentou Bulnes.
Mas o envio da delegação no início da semana não deu grandes resultados, e os representantes retornaram a Tegucigalpa ontem (23) somente com declarações de apoio de políticos republicanos, como os deputados federais pela Flórida, a cubano-americana Ileana Ros-Lehtinen e o norte-americano Connie Mack, cuja influência na administração Obama é limitada.
Mack confirmou ao Opera Mundi que cogita passar o final de semana em Tegucigalpa. “É importante recordar que a saída de Manuel Zelaya não foi um golpe de Estado. O Supremo Tribunal de Honduras, o procurador-geral e o povo de Honduras tinham razão quando enfrentaram Zelaya, que usurpou a lei e passou por cima da Constituição”, afirmou o deputado.
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“A nossa vida vai continuar. Apesar de tudo, nosso governo continuará até as próximas eleições de 29 de novembro. Vão ter de nos respeitar”, afirmou Micheletti durante reunião com empresários e fazendeiros, os dois setores econômicos que, junto ao Exército, apoiaram o golpe de Estado contra Zelaya.
De resto, o apoio do setor empresarial ao golpe foi mais além do simples suporte moral e traduziu-se também em subsídio financeiro.
Poucos dias depois do golpe, a Câmara de Comércio e Indústria de Tegucigalpa enviou a seus membros uma carta, à qual o Opera Mundi teve acesso, onde a presidente, Alina Flores, apela ao patriotismo e, de passagem, pede aos empresários que contribuam entre mil e três mil dólares para uma “estratégia de comunicações e cívica”.
“É preciso que o setor privado de Honduras tome uma ação urgente, orientada a apoiar a defesa da democracia e as liberdades sociais e políticas”, escreveu Flores na circular.
Para o presidente da Associação Nacional Industrial, Adolfo Facusse, os empresários preferem “as sanções internacionais ao regresso de Zelaya” porque isso equivaleria a “uma perda das liberdades, à ditadura e o comunismo”.
Visto para os EUA
Mas a manutenção do governo golpista também pode colocar em risco um bem precioso para os empresários latino-americanos: o visto para os Estados Unidos. Como recordou ao Opera Mundi um diplomata norte-americano, desde o primeiro mandato de George W. Bush existe uma lei que proíbe a concessão de vistos a pessoas acusadas em seus países de narcotráfico, corrupção, violações de direitos humanos ou de apoio a atos ditatoriais, golpes de Estado ou derrubes de democracias. E isso inclui a família completa.
Aparentemente, até agora, a administração de Barack Obama absteve-se de aplicar a lei aos golpistas hondurenhos.
Posição inalterável
No momento, a posição dos Estados Unidos mantêm-se inalterável e é a mesma que a secretária de Estado, Hillary Clinton, transmitiu por telefone a Micheletti no fim de semana passado.
“Ela disse claramente que haverá repercussões muito sérias nas relações bilaterais e para o governo hondurenho, se ele continuar a impedir a volta de Zelaya. Os Estados Unidos não apoiarão o envio de nenhum tipo de ajuda econômica ou financeira, enquanto as coisas se mantenham assim em Honduras”, acrescentou a fonte.
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Aparentemente, os Estados Unidos não estão sozinhos no embargo econômico, já que no princípio da semana a União Europeia anunciou que suspendeu o envio de 93 milhões de dólares em ajuda econômica ao país centro-americano.
Em visita a Buenos Aires, a comissária do Exterior da UE, Benita Waldner, afirmou que a situação é “uma crise que Honduras não pode se dar ao luxo”.
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