O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu hoje (14) a Barack Obama que estabeleça uma nova relação entre os Estados Unidos e a América Latina, incluindo uma aproximação com Venezuela, Bolívia e Cuba.
“Os Estados Unidos deveriam ter um olhar de colaboração com a América Latina, não de fiscal”, disse Lula em entrevista coletiva na embaixada brasileira em Washington, após encontro na Casa Branca com Obama.
O presidente assinalou que uma boa ocasião para estabelecer essa aproximação será a Cúpula das Américas, que reunirá líderes de todo o continente em Trinidad e Tobago, em abril.
Também opinou que os Estados Unidos não deveriam lutar contra as drogas na América Latina. Em vez disso, os próprios países da região deveriam tomar a iniciativa de colaborar entre si “para assumir o controle das fronteiras”.
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Lula afirmou que vai propor, na próxima reunião da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), a criação de um conselho para o combate ao narcotráfico. Também no âmbito da Unasul foi criado o Conselho de Defesa Sul-Americano, proposto pelo Brasil.
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“Nós temos que deixar de ser dependentes, porque agora todo o mundo espera que um país rico faça as coisas que nós mesmos devemos fazer”, enfatizou Lula. Após reunir-se durante quase uma hora com Obama, mais que o previsto, o presidente disse ter percebido “boa vontade” no novo presidente norte-americano a respeito da América Latina.
“Sou otimista”, afirmou. “As relações do governo Obama com o Brasil e a América Latina vão melhorar muito”.
Obama: muito a aprender
Em relação às relações bilaterais, Lula disse que a colaboração na área de biocombustíveis e mudança climática dará frutos imediatos. Além disso, anunciou que ele e Obama concordaram em estabelecer um grupo de trabalho conjunto para preparar as reuniões do G-20 (grupo dos países ricos e principais emergentes). A próxima será em 2 de abril, em Londres.
Barack Obama declarou, durante o encontro com Lula, que os Estados Unidos “têm muito a aprender com o Brasil” no campo das energias renováveis. Afirmou também que pretende usar seu vínculo com o Brasil para “fortalecer” a relação com toda a América Latina. E prometeu “redobrar” os esforços de seu país em prol das energias “limpas”.
Lula, por sua vez, convidou Obama a andar em um carro com motor flex quando for ao Brasil, o que acontecerá “em breve”, segundo o presidente brasileiro.
Crise econômica
Sobre a crise, outro assunto do encontro, Obama disse que não há conflito entre os EUA e a Europa quanto à agenda da cúpula do G-20. Ele afirmou que seu país colocará a reforma financeira “no centro” das prioridades e que o estímulo fiscal é só “um pé [dos quatro] do banquinho”.
A imprensa norte-americana informou nos últimos dias que o governo estaria mais interessado em novas medidas de estímulo orçamentário no exterior do que em realizar uma reforma da estrutura financeira internacional, algo que Obama negou hoje.
Lula, por sua vez, alertou para as repercussões da redução do crédito em nível internacional e para a saída do dinheiro dos mercados emergentes. “Se não fizermos o crédito voltar a fluir, a crise pode se agravar”.
Protecionismo
Os dois presidentes também abordaram o protecionismo, tema que preocupa o governo e o empresariado brasileiros, que se queixaram da cláusula Buy American no pacote de estímulo de Obama, que incentiva a compra de produtos nacionais.
Obama disse reconhecer a importância do comércio como motor econômico e afirmou que o “objetivo deveria ser pelo menos não regredir” na abertura comercial. Mas reconheceu que “pode ser difícil fechar um monte de acordos comerciais no meio de uma crise econômica”.
O clima entre os dois foi descontraído e marcado por brincadeiras. Lula disse a Obama que, dados os problemas herdados, “não gostaria de estar em seu lugar”.
“Parece que você tem falado com minha mulher”, respondeu Obama, que se desculpou em certo momento por se estender em uma resposta, como frequentemente faz.
“Na América Latina, não nos assustamos quando um presidente fala muito. Todos nós falamos demais”, disse Lula.
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