Ancara e Washington acordaram, nesta segunda-feira (27/07), em termos gerais, um plano para criar uma “zona livre” do EI (Estado Islâmico) na fronteira entre a Turquia e a Síria. Essa programação inclui a ação de aviões norte-americanos, insurgentes sírios e forças turcas, que criarão uma faixa com cerca de 100 km de extensão, da margem oeste do rio Eufrates, estendendo-se pela província síria de Aleppo.
A ideia é que a região livre do grupo terrorista seja controlada por sírios insurgentes moderados e que, segundo o governo turco, também poderia ser uma zona de segurança para deslocados sírios. Não será uma tarefa fácil, uma vez que na área estão as cidades de Dabiq e Manbij, lugares de grande importância simbólica para o EI.
Agência Efe
Turcos protestaram contra o governo neste domingo (26/07)
Os pormenores da ação ainda precisam ser definidos, como informou uma fonte da administração Barack Obama ao jornal The New York Times. Uma vez em prática, no entanto, o plano intensificaria significantemente a ação militar norte-americana e turca contra o Estado Islâmico.
Síria
A política divergente com relação à Síria é um desafio para a colocação em prática do plano. Isso porque os Estados Unidos estão focados em derrotar o Estado Islâmico e afirmam não querer atingir o presidente Bashar al-Assad. Já os insurgentes sírios têm como objetivo a derrubada do mandatário, assim como teria a Turquia.
Leia mais sobre crise na região:
Ativistas que iam prestar socorro a afetados pelo EI são mortos em atentado a bomba na Turquia
Acusada de 'colaboracionismo' pela esquerda curda, Turquia ataca EI pela primeira vez
Turquia eleva tom e ataca milícia separatista curda no Iraque; PKK anuncia 'fim de trégua'
Entre os principais desafios está ainda a criação de uma zona de exclusão aérea. Apesar de não estar formalmente no acordo, não está claro também se as forças pró-Assad, as que mais atacam o EI, serão ou não afetadas pela medida.
Além disso, o auxílio aéreo fornecido por milícias curdas sírias pelos Estados Unidos é outro ponto crítico do acordo com a Turquia, uma vez que eles também estão combatendo o Estado Islâmico e objetivam controlar a mesma região em questão. Não está claro se a zona de segurança afetará as áreas controladas pelos curdos, que também combatem o grupo jihadista e almejam o controle da mesma área. A tensão entre curdos e turcos escalou nos últimos dias e pode significar fim da trégua após três décadas.
Ofensiva contra os curdos
Hoje, combatentes curdos no norte da Síria acusaram o Exército turco de bombardear suas posições. No domingo, a Turquia realizou uma segunda noite de ataques aéreos contra acampamentos curdos no Iraque.
Agência Efe
Manifestação da comunidade curda em Paris contra os ataques ao PKK
Em um comunicado, a YPG (Unidade de Proteção do Povo), grupo curdo na Síria, afirmou que o Exército turco bombardeou as suas posições em uma aldeia nos arredores da cidade fronteiriça síria de Jarablus, que está sob o poder do Estado Islâmico. De acordo com o informe, as forças turcas têm como alvo a população curda e não o Estado Islâmico.
O ataque turco contra o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) foi criticado nesta segunda pela Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte). O secretário geral da organização, Jens Stoltenberg, afirmou que os ataques contra o PKK podem colocar em perigo o processo de paz com os curdos.
NULL
NULL
Ele ressaltou ainda que um ataque terrorista não deve obstaculizar os esforços para encontrar uma solução pacífica e política para o conflito.
Na mesma linha, o governo alemão também criticou os ataques. O ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, afirmou compreender a Turquia atacar “aqueles que são responsáveis pelos terríveis atentados dos últimos dias”, mas considerou que as hostilidades contra os curdos “tornarão ainda mais difícil uma situação já complicada”. E disse estar interessado “que o processo de paz siga adiante”, o que transmitiu hoje ao seu colega turco, Mevlüt Çavusoglu, em uma conversa telefônica.
Agência Efe
DIversos grupos curdos na Turquia acusam governo turco de ser responsável por atentado suicida na fronteira com Kobani
Nesta terça-feira (28/07), será realizada uma reunião do Conselho do Atlântico Norte, a pedido do governo da Turquia, que alegou sentir-se “ameaçada” pelos ataques terroristas recentes.
Os bombardeios recentes representam um novo capítulo de tensão entre o governo conservador turco e o PKK, colocando em xeque o processo de paz estabelecido em 2012. Com um longo histórico de conflitos, turcos e curdos protagonizaram uma guerra civil que teve início na década de 1980 e deixou 40.000 mortos.