EUA enviarão até 10 mil militares ao Haiti: para a Casa Branca, é também questão de política interna
EUA enviarão até 10 mil militares ao Haiti: para a Casa Branca, é também questão de política interna
O número de militares que os Estados Unidos vão enviar para ajudar nos trabalhos de resgate e reconstrução do Haiti, devastado pelo terremoto do dia 12, pode chegar “facilmente” a 10 mil homens, segundo fontes do Pentágono – uma ordem de grandeza comparável ao envio de tropas ao Afeganistão.
A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, chega hoje (16) ao Haiti, junto com o diretor da agência dos Estados Unidos para o desenvolvimento internacional (US-Aid), Rajiv Sah. O objetivo é comprovar e supervisionar o esforço do governo dos EUA para ajudar a nação caribenha após o terremoto.
Com essa viagem, Washington quer ressaltar que o Haiti tornou-se uma das primeiras prioridades da Casa Branca. Na quinta-feira, em discurso improvisado, o presidente Barack Obama anunciou um plano de ajuda de 100 milhões de dólares. Chamando a medida de “um dos maiores esforços de socorro da história recente” dos EUA, ele também ratificou o envio de milhares de soldados americanos.
Cerca de 3,5 mil militares da 82ª divisão aerotransportada já estão a caminho do país, saindo do Fort Bragg (Carolina do Norte), assim como o porta-aviões USS Carl Vinson. Além disso, 2,2 mil fuzileiros navais deveriam ser levados por três navios da Marinha do Comando Sul dos EUA.
EFE/Dilvugação
Soldados americanos ajudam a tripulação do helicóptero da Marinha para descarregar alimentos e remédios no aeroporto de Porto Príncipe
Funcionários do Departamento de Defesa disseram que o número total da tropa poderá chegar facilmente, ou até mesmo ultrapassar, 10 mil militares.
A secretária de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Janet Napolitano, anunciou ontem que os haitianos que residiam ilegalmente nos EUA quando ocorreu o terremoto no Haiti poderão usufruir do Status de Proteção Temporário (TPS), tendo a garantia de não serem deportados ao país de origem.
Conferência internacional
O TPS, que inclui uma licença de trabalho, é um benefício que Washington concede a pessoas que fogem de conflitos armados e desastres naturais, como ocorreu com países centro-americanos afetados por furacões e tremores. A secretaria de Segurança Nacional estima que entre 100 mil e 200 mil haitianos poderiam se beneficiar do TPS.
Hillary Clinton confirmou durante uma coletiva nesta sexta-feira (15) a organização de uma conferência internacional de doadores para ajudar na reconstrução do país caribenho. A iniciativa já tinha sido anunciada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, que destacou a participação de França, Estados Unidos, Brasil e Canadá.
Durante seu discurso, Sarkozy anunciou sua intenção de viajar pessoalmente à ilha “nas próximas semanas”. Seria a primeira vez na História que um presidente francês visitaria território haitiano.
Ligações profundas
O esforço norte-americano, que contrasta com o desempenho fraco de outros países ricos – Alemanha prometeu uma ajuda de 2 milhões de dólares – não é uma surpresa para os especialistas. O economista argentino Federico Villalpando, que trabalhou durante dois anos em Porto Príncipe num programa de cooperação econômica lembra que “Haiti é uma questão de política interna nos Estados Unidos”.
Além da proximidade geográfica, ele ressalta a “forte presença de haitianos, em grandes cidades”. Segundo o Escritório do Censo americano, em 2008 havia nos EUA um total de 532.060 haitianos – sem contar os nascidos neste país filhos de imigrantes haitianos. Eles se encontram em maioria na Flórida, Nova York, Nova Jersey, Massachusetts e Geórgia.
O economista argentino destaca que a condição de país mais pobre das Américas, e tão próximo dos EUA, o país mais rico do mundo, é também uma das razoes da mobilização rápida. As remessas dos imigrantes haitianos nos Estados Unidos constituem a primeira fonte de recursos da nação caribenha. Em 2007, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Haiti recebeu US$ 1,8 bilhão em remessas.
Intervencionismo militar
A decisão de Barack Obama de enviar tropas na ilha provocou algumas criticas nos Estados Unidos. Desde a invasão, em 1915, da ilha caribenha, durante o mandato do presidente americano Woodrow Wilson (1913-1921), Washington exerceu durante décadas um espécie de protetorado sobre Haiti. A própria saída do presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide, em 2004 foi provocada pelos Estados Unidos, com a ajuda da França.
“Haiti sofreu durante toda sua historia do intervencionismo de tropas estrangeiras: espanholas, francesas e americanas. Isso deixou um verdadeiro traumatismo no país”, diz Villalpando. “Mas estamos agora numa situação excepcional, não acho que ninguém vai criticar na ilha a chegada de soldados americanos, já que é uma necessidade para manter a segurança”, segue. “Isso é um debate para mais tarde”, conclui.
Pacto com o diabo
A intervenção americana também provocou os comentários do evangelista Pat Roberton, um dos pastores mais polêmicos e midiáticos dos EUA. Segundo ele, a tragédia no Haiti é o resultado de um “pacto com o diabo” da nação caribenha.
“Algo aconteceu há muito tempo no Haiti. Estavam sob domínio francês, na altura de Napoleão III, e juntaram-se e fizeram um pacto com o diabo”, afirmou no programa “700 Club”, do canal Christian Broadcasting Network (CBN). “Eles disseram: 'Vamos servi-lo se nos libertar do Príncipe'. E o diabo disse: 'Está combinado'. E os franceses foram expulsos. Os haitianos revoltaram-se e conseguiram libertar-se. Mas, desde então, foram amaldiçoados com coisas atrás de coisas”.
Robert Gibbs, o porta-voz de Obama, descreveu como “escandalosamente estúpida” a fala do evangelista. Ele qualificou também de “verdadeiramente imbecil” o comentário do apresentador de televisão, segundo o qual os norte-americanos não deveriam doar para ajudar o Haiti, pois já o fariam por meio de seus impostos.
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