EUA querem reduzir regras bancárias impostas após colapso financeiro de 2008
Economista Ladislau Dowbor alerta que tal desregulamentação foi o que levou, em grande parte, à crise financeira de 2008
Autoridades do governo de Donald Trump pretendem mudar uma das regras criadas, após o colapso financeiro de 2008, para controlar o sistema bancário do país. É o que informou o jornal o Financial Times nesta quinta-feira (15/05).
Com apoio de Wall Street, do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, e do presidente do FED, Jerome Powell, a proposta visa afrouxar o índice de alavancagem suplementar (SLR), estabelecido em 2014. Esse fator indica o quanto as grandes instituições financeiras precisam ter, em termos de capital de alta qualidade, frente à alavancagem que praticam.
Como explicou o economista Ladislau Dowbor a Opera Mundi, essa “alavancagem é quantas vezes mais um banco pode emitir de crédito em relação às reservas que possui em caixa”. Pela regulação do Banco de Compensações Internacionais (BIS), disse o especialista, “as instituições financeiras não podem emitir mais do que nove vezes do que possuem”.
“Em parte, foi o que levou à crise financeira de 2008. A Lehman Brothers, uma das maiores instituições financeiras dos Estados Unidos, chegou a emitir créditos 27 vezes a mais do que tinha em caixa”, detalhou.

Federal Reserve / Flickr
As regras
As atuais regras foram impostas em 2014, durante as reformas da Basileia III, após a crise financeira global arruinar economias e desempregar populações em todo o mundo.
Atualmente, segundo o Financial Times, os oito principais bancos dos Estados Unidos são obrigados a ter um capital de nível 1 equivalente a pelo menos 5% de sua alavancagem total. Já os bancos da Europa, China, Canadá e Japão estão sujeitos a deter um capital de 3,5% a 4,25%.
Os lobistas das instituições financeiras, que defendem a flexibilização do SLR, pressionam pela redução para os índices internacionais. Outra opção apresentada seria excluir ativos de baixo risco, como os títulos do Tesouro e os depósitos dos bancos centrais, do cálculo de controle da alavancagem.
Eles argumentam ao jornal que as regras penalizam até mesmo instituições de crédito de baixo risco, como os títulos do Tesouro; e dificultam a capacidade de empréstimo dos bancos. A redução, sustentam, poderia levar a um aumento de 2 bilhões de dólares para os grandes credores.
Os riscos, no entanto, são patentes. Para Dowbor, a medida pode “liberar os bancos da prudência frente ao quanto eles emitem de crédito em relação às suas reservas, como aconteceu no passado, gerando novas crises”.
