Os líderes da União Europeia (UE) foram unânimes em afirmar que o bloco aposta por negociar com os Estados Unidos para evitar uma guerra comercial, mas reafirmaram que estão prontos para responder à altura caso as negociações não prosperem.
As declarações foram feitas nesta segunda-feira (04/02), em Bruxelas, no âmbito de uma reunião informal que as lideranças europeias realizaram entre esta segunda e terça-feira (03 e 04/02), tendo como tema principal segurança e defesa. Além dos representantes do bloco, participam do encontro o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e o secretário geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte.
A reunião foi convocada pelas ameaças do presidente norte-americano Donald Trump de reduzir sua participação na OTAN ou até abandonar a organização, caso os sócios não aumentem seus gastos em defesa. Como Trump também ameaça tarifar os produtos europeus caso a UE não aumente suas compras dos EUA, a reação do bloco a respeito do assunto tornou-se um tema subjacente.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a UE estava pronta para “um diálogo robusto, mas construtivo” com os Estados Unidos. Mas advertiu também que “quando atacada de forma injusta ou arbitrária, a UE responderá com firmeza”. Ela lamentou as “elevadas tarifas” impostas ao Canadá e ao México (que depois foram suspendidas) dizendo que “aumentam os custos empresariais e prejudicam trabalhadores e consumidores”.
‘Numa guerra comercial entre EUA e UE, quem vai rir é a China’
“Não existem vencedores de uma guerra comercial”, advertiu a chefe da diplomacia europeia Kaja Kallas. “Se os Estados Unidos e a UE começarem uma guerra comercial, quem vai rir será a China”, completou.
O chanceler alemão Olaf Scholz frisou que o bloco era forte o bastante para reagir a quaisquer taxas comerciais dos Estados Unidos, mas que “o objetivo deveria ser que as coisas resultassem em cooperação”.
“Se nossos interesses comerciais forem atacados, a Europa, como a verdadeira potência que é, terá que se fazer respeitar e, portanto, reagir”, disse o presidente Francês Emmanuel Macron.
A primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen também frisou a necessidade de negociações. “Nunca apoiei a ideia de lutar contra aliados, mas é claro que se os Estados Unidos impõem duras tarifas à Europa, precisaremos de uma resposta coletiva e contundente”.

Kaja Kallas, a chefe da diplomacia da União Europeia
Europa tem contra-ataque preparado há meses
“Estamos preparados para negociar com Trump, é um dos temas mais importantes atualmente. Não vou começar uma guerra, quero negociações”, frisou o primeiro ministro finlandês Pettiri Orpo assim que chegou à reunião.
A União Europeia criou, há meses, uma equipe de trabalho para analisar os possíveis cenários da volta de Trump à Casa Branca e elaborou uma série de planos de contingência, conforme revelado por uma fonte diplomática ao jornal El País.
Desde que o retorno de Trump se colocou como uma possibilidade real, o bloco montou um grupo de trabalho para estudar os possíveis cenários que o novo mandato poderia desenhar.
Em linhas gerais, o grupo sugere tarifar importações de produtos e setores norte-americanos em função do seu impacto na economia do país. A prioridade seria dada a produtos exportados por estados governados por republicanos, de forma que senadores e congressistas dos respectivos locais pressionassem Trump a reduzir seu protecionismo contra a Europa.
Comprar armamentos dos EUA como opção
Esta foi a receita usada durante o primeiro mandato de Trump. Então, quando ele taxou o aço e o alumínio. A UE aumentou suas tarifas à importação de motos Harley-Davison, de Wisconsin, o suco de laranja e o Bourbon.
Mas o bloco prefere chegar a um acordo com Trump do que adotar qualquer represália. Um dos caminhos discutidos seria ampliar as compras de gás natural liquefeito (GNL) dos EUA. O bloco também discute aumentar seu gasto militar ampliando os contratos com a indústria armamentista norte-americana, o que contribuiria para satisfazer a outra exigência de Trump.
O desafio para uma Europa economicamente debilitada é descobrir de onde tirar os recursos para isso. Não faltaram representantes da extrema direita no parlamento europeu sugerindo que os recursos deveriam sair de cortes em saúde ou educação.
EUA são o país que mais compra e que mais deve
Os Estados Unidos são o maior importador do mundo, mas também tem o maior déficit comercial. Em 2023, o o país comprou cerca de US$ 3 trilhões e vendeu cerca de U$ 2 trilhões, acumulando um déficit de U$ 1 trilhão. O maior déficit do país é com a China: US$ 208 bilhões em 2023.
Trump vê isso como uma fraqueza resultado de décadas transferindo a produção industrial para o exterior e está decidido a mudar a situação. Automóveis, produtos químicos e medicamentos são os principais produtos exportados pela UE e pelo Reino Unido para os Estados Unidos, sendo a Irlanda e a Alemanha os maiores parceiros comerciais europeus daquele país.