O ex-presidente da Bolívia e líder do Movimento ao Socialismo (MAS), Evo Morales, convocou uma marcha para esta terça-feira (17/09) na cidade de Caracollo, em Oruro, até o sul da capital La Paz. A manifestação tem como objetivo exigir o reconhecimento do Congresso do partido que o ratificou para voltar a ter sua candidatura habilitada nas eleições presidenciais.
De acordo com Morales, os protestos também refletem o “descontentamento do povo em relação a um governo [de Luis Arce] que protegeu a corrupção, que nunca fez nada para resolver a crise, que endossou a extensão ilegal de magistrados”. O ex-presidente acusa o atual mandatário Luis Arce de usar os poderes Judiciário e Eleitoral para bloquear a sua candidatura.
Em dezembro de 2023, o Tribunal Constitucional Plurinacional (TCP) do país determinou que o líder de esquerda estava proibido de concorrer à Presidência da Bolívia em 2025. Nesse sentido, Morales tenta reverter o impedimento por meio de manifestações populares e da eleição de novos juízes eleitorais que revisariam a decisão contra ele.
No último domingo (15/09), durante seu programa Evo es Pueblo, o ex-presidente boliviano afirmou que a marcha seria uma recuperação da chamada “revolução democrática cultural”.
Para esta terça-feira, a Promotoria de Justiça pediu às autoridades nacionais e locais, além dos setores que sustentam os protestos, “que mantenham a calma e evitem ações que possam levar a atos de violência e maior conflito no país”.
Bloqueio de grupos indígenas
Na segunda-feira (16/09), indígenas bolivianos aliados a Morales bloquearam a estrada para o Lago Titicaca, dando início à semana de protestos contra o atual mandatário Luis Arce.
De acordo com a organização a Administração de Rodovias da Bolívia (ABC, por sua sigla em espanhol), grupos indígenas dividiram a rota em quatro trechos até o Lago Titicaca, um caminho compartilhado entre o país e o vizinho Peru.
O vice-ministro de Segurança Cidadã, Roberto Ríos, disse ao canal estatal Bolivia TV que as forças policiais “garantirão o livre trânsito, o direito à saúde, ao trabalho, entre outros”, tratando-se de uma manifestação pacífica.
Em comunicado, os grupos indígenas garantiram que os protestos vão permanecer “até que seja alcançada a renúncia do governo incapaz e corrupto de Luis Arce e (seu vice-presidente) David Choquehuanca, e novas eleições gerais sejam convocadas”.
Arce fala em ameaça à democracia
O atual presidente da Bolívia, Luis Arce, acusou Morales no último domingo de tentar dar um golpe de Estado por meio de marchas e bloqueios nas rodovias.
“Tenho a responsabilidade histórica de denunciar ao país e ao mundo o que pode acontecer nos próximos dias na Bolívia, por sua responsabilidade […] Começará nos próximos dias uma marcha para depois avançar ao bloqueio nacional das estradas, que terminará em uma tentativa de golpe de Estado contra um governo popular”, afirmou o mandatário em discurso ao país.
“Você quer arruinar milhões de bolivianos. Não queira pisar na Constituição que você mesmo promulgou. Pare de ameaçar as pessoas com bloqueios. Pare de queimar a democracia”, acrescentou.
Em resposta, Morales usou suas redes sociais para chamar seu herdeiro político de “desesperado e confuso”.
Arce já foi aliado de Morales, chegando a atuar, inclusive, como seu ministro da Economia entre 2006 e 2019. No entanto, ambos se distanciaram dentro do MAS, especialmente desde o final de 2021. Suas diferenças se aprofundaram no ano passado depois que o atual presidente não compareceu a um Congresso do partido, no qual Morales foi ratificado como líder do MAS e eleito “candidato único” para as eleições presidenciais de 2025.
Tentativa de golpe
Em junho, o ex-comandante do Exército boliviano Juan José Zúñiga liderou uma tentativa de golpe contra o governo de Luis Arce. Com tanques grupos militares armados, os golpistas cercaram a Praça Murillo em La Paz, local no qual está situado o Palácio Presidencial do país.
No dia anterior à quartelada, Zúñiga havia sido afastado do cargo que ocupava desde 2022. A decisão da Presidência foi tomada após o militar de alta patente se opor publicamente a uma possível candidatura do ex-presidente Evo Morales para a disputa das eleições de 2025.
Em declarações, ele chegou a dizer que Morales “não pode mais ser presidente deste país” e afirmou que estaria disposto a oferecer a vida “pela defesa e unidade da pátria”.
A tentativa foi frustrada após Arce encarar o ex-general e dar posse a novos comandantes militares, sendo eles: José Wilson Sánchez Velasquez, no Exército; Gerardo Zabala Alvarez, na Força Aérea, e Wilson Ramírez, na Marinha.
(*) Com Brasil de Fato e Deutsche Welle