A eleição do último domingo (6) na Bolívia, em que o presidente Evo Morales foi reeleito, foi a primeira vez em que os os bolivianos que vivem fora do país puderam votar, escolhendo o presidente, o vice-presidente, 36 senadores e 130 deputados.
O pleito teve número recorde de eleitores não só dentro do país, mas também entre os imigrantes. Em São Paulo, a única cidade do Brasil que recebeu urnas, 13.199 bolivianos votaram em Evo, ou 95% de um total de 13.901 votos válidos, sendo que havia 18.616 inscritos. Houve ainda 74 votos em branco e 318 nulos, segundo a CNE (Corte Nacional Eleitoral boliviana). As cinco sessões eleitorais foram montadas em bairros onde há maior presença boliviana: Barra Funda, Bom Retiro, Brás, Canindé e Santana.
Para o vendedor de roupas boliviano Gumercindo Vil, que trabalha em uma loja no centro de São Paulo, é difícil que um governo consiga fazer mudanças que beneficiem os imigrantes nos próximos anos. Para ele, os resultados serão sentidos por quem ainda entrará no mercado de trabalho na Bolívia. “Eu vim porque o meu salário e as condições de trabalho eram ruins lá. A situação pode até melhorar, mas não sei se eu vou conseguir voltar para trabalhar e ficar bem onde eu morava. Vai melhorar muito para quem está se tornando jovem agora”.
Vil morava em Potosí, sudoeste da Bolívia, quando veio ilegalmente para o Brasil, há dois anos. Ele regularizou sua situação em agosto, durante a última anistia concedida aos imigrantes que vivem no Brasil. Sem entender bem a língua portuguesa, ele afirma que, a partir de agora, os imigrantes e a política nacional boliviana estarão mais próximos.
“As coisas serão diferentes: vamos exercitar nosso direito de cidadão ao voto, mas também vamos ficar atentos às mudanças que o Evo pode fazer por nós. Ele tem feito muitas promessas. Se cumprir, vai ajudar todo mundo, principalmente minha família que está lá”, disse, referindo-se às promessas de tentativa de aprovação de mais de 100 leis pela Assembléia Plurinacional, algumas referentes ao regime eleitoral e a um novo modelo econômico, controlado pelo Estado, e que reconhece a economia coletiva ou comunitária.
Alguns dos objetivos das mudanças são aumentar a democracia no país, por meio da “despolitização da Justiça”, promovendo eleição para juízes, e mudar as regras para as campanhas políticas, garantindo igualdade de acesso aos cargos eletivos. Na economia, o novo modelo defendido pelo governo pretende expandir o controle do Estado sobre a economia, investir na industrialização dos recursos naturais, na modernização e equipagem dos pequenos e médios produtores, dar prioridade ao mercado interno, com a exportação do excedente, e distribuir a riqueza.
Não há um número exato de quantos bolivianos vivem em São Paulo. A CNE e o Centro de Apoio ao Imigrante, ligado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), estimam 160 mil pessoas.
Já o aposentado Mario Ayala, que passou cinco horas em uma fila no Memorial da América Latina para votar, acredita que os imigrantes, por meio do voto, podem melhorar a situação dos familiares que ficaram no país. Eleitor convicto de Evo Morales, ele deixou Cochabamba para viver no Brasil na década de 1960, e, nas eleições anteriores, foi até a Bolívia para votar.
“Daqui e de qualquer lugar, os imigrantes podem fazer eco de sua intenção com seu voto. Às vezes, um voto parece nada, mas todos os patriotas estão aqui em massa para poder votar”, disse.
As 76 mesas de votação estavam programadas para permanecer abertas entre 8h e 17h, mas, como houve fila, o atendimento seguiu até a noite. Ainda no domingo, as cédulas foram enviadas para a Bolívia.
Padrões biométricos
Esta é a primeira eleição boliviana que utilizou o padrão biométrico. Foi necessário cadastrar todos os eleitores por meio de fotos e assinatura digital. Para participar, os imigrantes providenciaram documentos entre os dias 14 de setembro e 15 de outubro, em representações da CNE.
Dos 4.969.487 eleitores bolivianos, 169 mil vivem fora do país, em países como a Argentina (principalmente em Buenos Aires, Jujuy e Mendoza), a Espanha (Madri, Barcelona e Valença) e os Estados Unidos, além do Brasil (concentrados em São Paulo). Considerando que, pela regra anterior, a Bolívia tinha 3,8 milhões de votantes, o eleitorado cresceu cerca de 30%.
O registro biométrico de eleitores e a concessão do direito de votar a bolivianos que residem no exterior são resultados de um acordo entre parlamentares da oposição e do MAS, partido de Morales, fechado em abril deste ano. Na época, o Congresso boliviano discutia o texto da nova lei eleitoral do país.
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