O prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, atravessa um mau momento. Há três meses, formou um corpo policial cujos principais funcionários foram acusados pela Justiça de dirigir uma rede de espionagem que incluiu dirigentes judeus, legisladores da oposição, secretários do governo, seus próprios familiares e, segundo o juiz responsável pela investigação, até a presidente Cristina Kirchner e o marido e antecessor, Néstor Kirchner.
O juiz Norberto Oyarbide ordenou ontem (17) a detenção, já consumada, do ex-comissário Jorge Palacios, o primeiro chefe dessa corporação chamada de Polícia Metropolitana, acusado de ser um dos líderes da rede de espionagem, que inclui também o seu sucessor, o ex-comissário Osvaldo Chamorro. O magistrado também anunciou a decisão convocar para depor tanto Macri quanto o secretário de Segurança, Guillermo Montenegro.
Uma das principais promessas de campanha de Macri foi cuidar da insegurança na capital da Argentina. Diante da negativa do governo federal de lhe ceder parte do controle da Polícia Federal em Buenos Aires, anunciou a criação da Polícia Metropolitana.
O primeiro inconveniente surgiu quando Macri anunciou que o chefe seria o ex-comissário Palacios, sobre quem pesava uma acusação de encobrir a investigação do atentado contra a sede da Amia (Associação Mutual Israelita), em 1994, que deixou 85 mortos e pelos menos 151 feridos. O prefeito resistiu até que a Justiça confirmou a acusação, aí não teve outro remédio a não ser aceitar a renúncia. Mas não acabaram os problemas.
Macri designou então o número 2 de Palacios, o também ex-comissário Chamorro, enquanto a força policial começava a se armar para ocupar as ruas. Mas veio à tona uma nova investigação judicial, sobre escutas ilegais em dirigentes do sindicato de professores portenhos e, sobretudo, no representante da Associação de Familiares de Vítimas do Atentado à Amia, Sergio Burnstein. O encarregado destas escutas era Ciro James, que havia deixado a Secretaria de Educação para integrar a Polícia Metropolitana.
Macri e seus funcionários tentaram se livrar do escândalo acusando James de ser um infiltrado da Polícia Federal que participava de uma operação política encomendada pelo governo de Cristina Kirchner para desacreditar a força policial. Não teve êxito. A investigação demonstrou que James, Palacios e agora Chamorro atuavam em conjunto.
O secretário Montenegro assegura que aquilo que está sendo descoberto não faz parte de uma estratégia política de Macri, e que os acusados agiram por vontade própria. “Sou o responsável político por tudo o que está acontecendo”, disse.
Para Sergio Burstein, Macri “defendia tanto estas designações porque não ignorava o que estava acontecendo”. “Isso é a Gestapo em Buenos Aires”, comparou.
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