O ex-presidente do México Miguel de la Madrid (1982-1988) acusou seu sucessor Carlos Salinas de Gortari (1988-1994) de fomentar corrupção em benefício próprio, roubando fundos públicos e tendo contato com o narcotráfico por meio de seus irmãos, Raúl e Enrique. Ambos são do PRI (Partido Revolucionário Institucional), que governou o país de 1929 a 2000.
A denúncia, feita durante entrevista a uma rádio da cadeia MVS no dia 15 de abril e transmitida ontem (13), causou comoção no país e fez com que De la Madrid, hoje com 74 anos, desmentisse suas palavras poucas horas depois.
O ex-presidente diz na gravação ter ficado “muito decepcionado” por ter escolhido Salinas como sucessor. Segundo ele, o político “facilitava contratos do governo e tinha relacionamento próximo com os narcotraficantes”. Mas não disse com quais cartéis ele lidava ou para onde as quantias desviadas seriam levadas.
Em carta endereçada a meios de comunicação, De la Madrid negou as acusações, usando como desculpa a idade avançada. “Com relação à informação divulgada hoje pela jornalista Carmen Aristegui, desejo precisar o seguinte: atualmente me encontro em estado fraco de saúde, que não me permite processar adequadamente diálogos ou questionamentos, tal como consta nas gravações. Deixo claro que depois de escutar a entrevista, minhas respostas carecem de validez”.
Resposta
Em carta dirigida à jornalista, Carlos Salinas criticou a realização da entrevista. O ex-presidente expressou sua “dor e indignação” ao se inteirar das condições em que a entrevista foi realizada.
“Dor porque confirma sua desfavorável situação de saúde e a limitação de suas capacidades, e indignação pela falta de respeito que teve com ele e com a audiência, ao mostrar dessa forma alguém que conduziu a presidência da república em tempos complexos”.
Trama
Em 1994, o irmão de Salinas, Raúl, teve prisão decretada após a procuradoria mexicana acusá-lo pelo assassinato de José Francisco Ruiz Massieu, cunhado dos Salinas e secretário-geral do presidente.
Em resposta à prisão do irmão, Salinas se auto-exilou na Irlanda, em meio a acusações de corrupção e enquanto o país atravessava forte crise financeira. Em 1999, Raúl Salinas foi condenado em primeira instância a 50 anos de prisão pelo homicídio de José Francisco Ruiz Massieu, mas apelou. O caso continua aberto.
No fim de 2000, uma gravação clandestina de um diálogo telefônico entre Raúl e sua irmã, Adriana, reforçou a suspeita sobre a riqueza dos Salinas. Nela, Raúl fala de seu irmão, o ex-presidente, como o dono de milhões de dólares supostamente ilícitos ocultos em paraísos fiscais.
Em junho de 2008, as autoridades francesas determinaram que fossem restituídos 75,6 milhões de dólares ao governo mexicano, provenientes de contas de Raúl Salinas de Gortari na França.
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