A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) fez uma varredura nas primeiras horas desta quinta-feira (14/11) na Praça dos Três Poderes, em Brasília, local que foi palco de um atentado com explosões na noite anterior. De acordo com as investigações mais recentes, tratou-se de um suposto “autoextermínio” do lado de fora da sede do Supremo Tribunal Federal, no qual a única vítima teria sido Francisco Wanderley Luiz, que estava carregando explosivos.
Nas eleições de 2020, Luiz foi candidato a vereador pelo Partido Liberal (PL) de extrema direita na cidade de Rio do Sul, em Santa Catarina. Ele obteve 98 votos e não foi eleito.
Por redes sociais, fazia referência a explosões ao postar prints de conversas consigo mesmo no WhatsApp em que usa emojis de bombas e “desafia” a Polícia Federal a “desarmar a bomba que está na casa dos comunistas”. Em outras publicações, mostrava fotos em visita ao prédio do STF.
Ao noticiar o incidente, o jornal francês Le Monde considerou que “essa suposta tentativa de ataque contra uma grande instituição da democracia brasileira desperta memórias dos motins de extrema direita contra as sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário na mesma praça da capital em janeiro de 2023”.
O veículo apontou que a Justiça brasileira vem realizando investigações “sensíveis”, ao mencionar que o “poderoso ministro do STF” Alexandre de Moraes está à frente do caso de 8 de janeiro, “cujo espetáculo lembrou o ataque ao Capitólio por apoiadores de Donald Trump em 6 de janeiro de 2021 nos Estados Unidos”.
“Também está ocorrendo em um contexto particularmente forte: o presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva está sediando uma cúpula do G20 no Rio de Janeiro na próxima semana e uma visita de Estado do presidente chinês Xi Jinping a Brasília”, ressaltou.
O norte-americano The New York Times lembrou que Brasília presenciou um ato semelhante em dezembro de 2022, quando um apoiador do ex-presidente e então candidato presidencial Jair Bolsonaro tentou detonar uma bomba perto do aeroporto da capital federal, em protesto contra a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.
O veículo novaiorquino descreveu que “muitos brasileiros de direita veem o Supremo Tribunal Federal como uma ameaça à democracia, argumentando que está perseguindo vozes conservadoras”, e acrescenta que a Justiça brasileira realizou uma “repressão contenciosa à desinformação online e ameaças a instituições brasileiras”, prendendo também bolsonaristas que atacaram os Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
O jornal espanhol El País destacou que a Praça dos Três Poderes “foi o epicentro da tentativa de golpe de Estado liderada por milhares de bolsonaristas em janeiro de 2023”.
O periódico resgatou o episódio para enfatizar que “uma multidão de apoiadores do ex-presidente Bolsonaro entrou à força nas sedes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário”, e que centenas de extremistas que participaram do ataque “foram julgados e condenados a longas penas por tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes”.
O jornal britânico The Guardian apontou que o ataque de quarta-feira (13/11) provocou “preocupações de segurança” antes de o país receber os líderes globais que integram o G20. A cúpula está prevista para 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro, e contará com a presença de chefes de Estado como Joe Biden, dos Estados Unidos; Xi Jinping, da China; Javier Milei, da Argentina; Claudia Sheinbaum, do México; Emmanuel Macron, da França; entre outros.
O portal acrescentou que o incidente ocorreu no mesmo local do ataque de 8 de janeiro, quando “apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro saquearam os prédios para protestar contra sua derrota eleitoral”.
Já a emissora catari Al Jazeera indicou que a área atacada “tem sido alvo de violência política nos últimos anos”, ao lembrar que, em 8 de janeiro, milhares de manifestantes invadiram a Praça dos Três Poderes, “saqueando os prédios do governo”.
“O motim foi amplamente visto como um ataque à democracia, pois ocorreu poucos dias após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O próprio Lula descreveu o incidente como um ‘golpe’ e culpou seu antecessor, Jair Bolsonaro, por espalhar falsas alegações de interferência eleitoral antes de sua derrota”, destacou.