Segunda-feira, 7 de julho de 2025
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A distribuição da ajuda humanitária às vítimas do terremoto da semana passada é um dos piores problemas enfrentados pelos haitianos e pode se transformar num sério problema de segurança.

Os carregamentos de ajuda estão se acumulando no aeroporto de Porto Príncipe, mas não existe um sistema para distribuí-los à população, com exceção dos helicópteros da marinha norte-americana e alguns caminhões de organizações internacionais como as Nações Unidas.

Seis dias após o terremoto, a população que vive ao relento, sem eletricidade, comida e água começa a dar sinais de tensão e revolta, constatou o Opera Mundi numa visita à cidade.

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“Não entendo por que é que a comida não chega. Queremos água, e não nos mandam nada”, disse desesperada, uma mulher que veio até o muro externo do aeroporto.

O que ela fez é o que os voluntários das organizações internacionais temem. Ou seja, que os haitianos famintos e revoltados entrem no aeroporto e se apoderem anarquicamente das caixas de comida, água e medicamentos.

Rui Ferreira/Opera Mundi



Militares norte-americanos organizam a água para distribuí-la aos haitianos

Neste momento, no Haiti, não existe nenhum tipo de organização. O governo colapsou com o terremoto e o presidente René Prevál só apareceu em público duas vezes, uma delas num encontro fortuito com um grupo de jornalistas na manhã de segunda-feira.

“Neste momento dependemos totalmente da comunidade internacional. Ela nos está ajudando, mas temos de ter um pouco de paciência porque o meu país está destruído, totalmente destruído”, disse o presidente.

No sábado, o contra-almirante Ted Branch, responsável pela logística de distribuição da ajuda humanitária, disse que não compreende as discrepâncias e a falta de cooperação entre as organizações humanitárias.

“Eu tenho todos os recursos de que precisamos, mas as organizações não nos deixam tocar em nada deles. Eles também não têm meios de fazer chegar a ajuda à população e isso é frustrante e perigoso”, disse.

No domingo, a reportagem assistiu à chegada de vários voos de ajuda humanitária vindos do Japão, Marrocos, Colômbia, Holanda e dos Estados Unidos. Com exceção dos norte-americanos e japoneses, que tinham equipes em terra, todos os outros aparelhos aterrissaram, descarregaram e foram embora, sem deixar ninguém para organizar a distribuição.

Atirando os mantimentos

A distribuição da água está sendo feita totalmente pelos pilotos dos helicópteros do porta-aviões Carl Vinson, e sem entrar em complicações. Eles, quando veem um carregamento de água, colocam-no a bordo e o levam para um determinado ponto da cidade, de acordo com um plano que desenharam nos primeiros dias após o terremoto.

Mas a distribuição nem sempre é fácil, porque quando vê os helicópteros descerem, a população literalmente corre até ele e trata de tomá-lo de assalto, apoderando-se do carregamento. Por isso, os pilotos agora optam por estabilizar o helicóptero a uns três metros do solo e atirar as caixas e a água pela porta.

Segundo fontes de algumas organizações internacionais, como Nações Unidas e Médicos Sem Fronteiras, a chegada nesta segunda-feira (18) do ex-presidente Bill Clinton a Porto Príncipe teria com objetivo criar uma estrutura de organização da distribuição para acabar com a anarquia.

Marco Dormino/ONU/EFE



Bill Clinton (fundo) dá entrevista no Hospital Geral de Porto Príncipe, onde pacientes aguardam no chão 

Um oficial da marinha norte-americana a bordo do Carl Vinson disse aos jornalistas, sob anonimato, que a menos que a ajuda chegue rapidamente à população, a tensão social pode aumentar dramaticamente e conduzir a uma revolta desesperada.

 * O repórter está a bordo do porta-aviões da marinha norte-americana USS Carl Vinson

Falta de distribuição da ajuda humanitária deixa haitianos revoltados

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