Em entrevista ao programa 20 Minutos, nesta quarta-feira (19/02), o jornalista Mario Santucho afirmou que o escândalo das criptomoedas pode afetar fortemente o governo e a popularidade do presidente da Argentina, Javier Milei, mas que isso não deve terminar com a aprovação do impeachment do mandatário no Congresso do país.
Segundo ele “ainda teremos que ver até onde pode chegar esta crise política. Minha impressão, no dia de hoje, é que isso não ver terminar com a destituição do presidente, por vários motivos, mas principalmente porque há uma discussão sobre qual é o conteúdo desse estelionato, e esse é um debate que ainda está sendo feito”.
A justiça argentina investiga possíveis vínculos entre Milei e empresários criadores da criptomoeda $LIBRA, e como essa suposta ligação poderia explicar o escândalo descoberto na última sexta-feira (14/02), que teve origem em uma mensagem postada pelo presidente argentino em suas redes sociais. Além disso, foi apresentado um pedido ao Congresso do país para iniciar um processo de impeachment contra o presidente, caso seu envolvimento no crime seja comprovado.
“É uma discussão interessante, assim como foi interessante a discussão no Brasil sobre até onde vão os poderes de uma plataforma digital e sua relação com o Estado, a discussão sobre a soberania, é uma discussão política de primeira ordem. Creio que neste caso (do Milei) acontece algo parecido, com relação às criptomoedas, e também com respeito à regulação do mundo financeiro. É preciso analisar o que isso tudo significa”, analisou Santucho.
Em seguida, o jornalista e editor da Revista Crisis frisou que “há uma discussão, por exemplo, sobre se isso que aconteceu (o escândalo de Milei com as criptomoedas) seria ou não algo muito comum, particularmente no mundo das criptomoedas, onde não há nenhum tipo de regulação estatal”.

“Tanto é assim que Milei e os demais envolvidos no caso argumento que ‘isso é um estelionato porque o próprio mecanismo é um estelionato’, e comparam isso com o que acontece nos cassinos, que aqueles que investiram (na criptomoeda promovida por Milei) o fizeram como quem aposta em um cassino, e que sabe que vão perder, ou que há uma possibilidade enorme de perder”, ressalta.
Santucho explica que “há toda uma discussão sobre se o atuar do Milei (no caso) foi criminoso ou não. Certamente é algo imoral, certamente é algo que um presidente não pode fazer, é uma loucura que um presidente participe de uma operação deste tipo, mas é preciso determinar se é uma ação criminosa ou não. Isso vai depender um pouco da Justiça”.
Ao finalizar, o jornalista disse que “seria interessante que algum juiz ou juíza faça um trabalho como o que o Alexandre de Moraes vem fazendo no Brasil, mas aqui na Argentina há uma grande incógnita sobre se aparecerá alguém com essa vontade política, sabendo que terá que ter coragem de brigar contra as plataformas, e eu, em um princípio, acredito que não há juízes na Argentina com essa vontade política”.
“Por outro lado, também é preciso acrescentar, como elemento mais político, que o Milei estava em um bom momento político antes desse caso, tanto em sua popularidade, segundo os números apresentados pelas pesquisas, quanto por sua capacidade de estabilizar a economia de alguma forma, ainda que seja uma forma muito sui generis, a partir de princípios neoliberais, mas é algo que acaba sendo aceito por uma parte da sociedade”, concluiu.