Distantes cerca de 80 quilômetros da Faixa de Gaza, os palestinos que vivem na Cisjordânia acompanham aflitos o desenrolar dos ataques de Israel e não podem se manifestar livremente.
A população na Cisjordânia vem sendo intimidada pela polícia do Fatah, partido político oriundo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), e poucos se arriscam a sair nas ruas para protestar. A informação é de Yasser Napoleão Khadel, de 28 anos, que nasceu no Rio de Janeiro, tem cidadania palestina, mora em São Paulo e é filho de mãe brasileira e pai palestino
Desde o começo do conflito, Khadel se comunica diariamente com os pais, residentes na cidade de Hizma, próxima a Jerusalém. Mas não tem contato com parentes e amigos em Gaza, pois não há meios de comunicação, devido à falta de eletricidade. Ele conta que as pessoas têm medo de organizar manifestações.
“Dizem que o Hamas dividiu os palestinos, mas na verdade, o Fatah é quem se recusa a aceitá-los. Os policiais do Fatah impedem que os palestinos da Cisjordânia apóiem o Hamas e os palestinos de Gaza”, afirmou em entrevista ao Opera Mundi.
A foto desta reportagem mostra seguranças palestinos resguardando manifestação de estudantes da
universidade Ber Ziet, em Ramallah, na Cisjordânia.
A divisão entre os dois partidos políticos se acentuou após as eleições legislativas realizadas em 2005, vencidas pelo Hamas, grupo palestino baseado em Gaza. Segundo Khadel, a interrupção de 12 anos de governo do Fatah (1993-2005) se deveu a um “cansaço” da população com a antiga liderança. “Hoje, o Hamas é visto por muitos como a única alternativa à opressão israelense”.
Na opinião dele, “todo o povo palestino compartilha do sentimento de indignação com o que está acontecendo e quer ajudar, de alguma forma”. Formado em engenharia da computação, Khadel conta que foi expulso da Cisjordânia em 2002 por Israel, pelo fato de não ter nascido em território palestino, apesar de constar em seu passaporte a dupla cidadania.
Medo de ser baleado
“Quando freqüentava a faculdade em Hizma, todos os dias saía de casa com a incerteza se iria voltar ou não. Precisava passar por postos de controle do Exército israelense [checkpoints] e temia ser preso ou alvejado”, contou.
Em 2005, ele visitou pela primeira vez Gaza, após a abertura da fronteira do território com o Egito. “Fui para rever alguns amigos e encontrei uma cidade completamente debilitada pelo cerco israelense. Lá existem construções parecidas com sobrados, chamadas de “mukhaim”, construídas pela ONU, em 1948, para alojar aqueles que haviam perdido suas casas. Parece uma grande favela”, relatou. “Em cada um dos apartamentos, vive uma média de sete pessoas. Então, a cada bombardeio, morrem muitos de uma só vez”.
A esperança de Khadel é que haja um cessar-fogo imediato, para que mais “vidas inocentes” sejam poupadas, tanto do lado palestino quanto do israelense. “Todos nós somos humanos. Não há raça ou religião quando se trata de vidas humanas. Se isso estivesse acontecendo com os judeus, me sentiria da mesma forma”.
Ele acredita que a operação israelense só intensificará a luta por um estado autônomo palestino, pleiteado há décadas. “Tenho certeza de que o povo lutará até o último momento, porque não temos nada a perder a essa altura”.
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