Em vários aspectos, a caravana de torcedores chilenos já pode se considerar uma aventura exitosa. Os transandinos conseguiram realmente fazer sua seleção se sentir em casa – foram mais de 30 mil no Maracanã, para o jogo com a Espanha, onde além dos cerca de três mil que foram por terra, havia gente que veio de avião e até de navio, além de muitos chilenos residentes no Brasil que escolheram essa partida como a mais importante.
Victor Farinelli
Maré vermelha invadiu praia de Copacabana
Tão importante que uniu o país em um slogan: “Roja hay uma sola” (“Vermelha só tem uma”, em alusão ao fato de que os espanhóis também chamam sua seleção de “La Roja”, ou “A Vermelha”). A confiança nunca antes vista dos chilenos com relação à sua seleção empurrou a torcida à proposta de que o jogo desta quarta-feira (18/06) decidiria qual das duas seleções era a verdadeira “Roja”. Até a bancada do Partido Comunista Chileno entrou na brincadeira. Todos os deputados do partido, incluindo as ex-dirigentes estudantis Camila Vallejo e Karol Cariola, foram ao Congresso, para a sessão desta quarta-feira, com cartazes que diziam “Bancada Roja hay uma sola” (“Bancada Vermelha só tem uma”).
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Do lado de fora do estádio, a consigna agitou a rivalidade entre as duas torcidas, apesar de os chilenos também terem imposto no grito sua supremacia nesse aspecto. Eram tantos chilenos que até alguns brasileiros que foram ao Maracanã dispostos a torcer pelo time de Iniesta e Xavi acabaram virando a casaca em favor dos quase vizinhos sul-americanos.
Divulgação
Comunistas chilenos defenderam que bancada vermelha também só há uma
No caso dos chilenos que vieram na caravana, uma grande parte não conseguiu assistir o jogo no estádio. Muitos não tinham ingresso para ver a partida – a maioria dos caravaneiros só conseguiu entradas para o jogo de Cuiabá, contra a Austrália – e acabaram “chilenizando” a maioria dos bares nos arredores do Maracanã. Ximena Bilbao, uma das participantes da caravana que estava desde as 14h na Lanchonete dos Esportes, ao lado do Maracanã, disse que “a sensação aqui é como ver um jogo ao lado do Estádio Nacional, é emocionante estar no Rio de Janeiro e sentir que está no Chile, confesso que sinto um certo orgulho como chilena por participar disso”. Outro grupo se dirigiu à zona sul do Rio de Janeiro, onde os chilenos também foram evidente maioria na fan fest organizada pela Fifa na Praia de Copacabana.
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Invasão
A nota negativa da tarde ficou a cargo da invasão de cerca de 80 torcedores que ingressaram violentamente no estádio através da entrada para o centro de imprensa. A organização da Caravana Santiago-Brasil não descartou a participação de algum dos seus integrantes na invasão, mas assegurou que a ação foi planejada e executada em sua maioria por integrantes das torcidas organizadas do Colo-Colo e da Universidad de Chile, os dois clubes mais populares do país.
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Segundo Alberto Schmidt, um dos organizadores da caravana: “esses torcedores vieram por sua conta, e fizeram isso. Não sei se alguém da caravana, no afã por ver o jogo, também se juntou a eles, mas nossa recomendação foi para o pessoal sem ingresso assistir em um bar, ou ir a Copacabana. Alguns nem vieram e ficaram vendo o jogo no nosso acampamento, em Itaboraí, e eu mesmo vi o jogo em um bar aqui nas imediações”.
Victor Farinelli
Bares cariocas também foram “invadidos”
Classificação histórica
O placar de 2×0 conquistado pelos sul-americanos (com gols do ex-gremista Eduardo Vargas e do colorado Charles Aranguiz) não só serviu para patentear informalmente o apelido como também para garantir a classificação chilena para as oitavas de final e colocar esta geração de jogadores na história do futebol no país.
Pela primeira vez, o Chile consegue passar da primeira fase em duas copas consecutivas. Na África do Sul, em 2010, o país foi eliminado nas oitavas, perdendo por 3×0 para o Brasil, em Johanesburgo. O confronto poderia se repetir nesta edição, já que os classificados dos grupos A e B (de Brasil e Chile, respectivamente) se cruzam na próxima instância. Caso isso aconteça, seria a terceira copa seguida enfrentando o Brasil nas oitavas – a participação chilena anterior à copa africana foi em 1998, na França, outra eliminação diante da Canarinho, com goleada de 4×1, jogando no Parque dos Príncipes, em Paris.
A eliminação também foi histórica para a Espanha, que nos últimos seis anos ganhou duas Eurocopas e uma Copa do Mundo, mas que neste Mundial perdeu os dois jogos que disputou. Aos ser eliminada antes do fim da primeira fase, a performance espanhola se transformou no maior vexame realizado por um campeão – a França de 2002 e a Itália de 2010 também foram eliminadas na fase de grupos, mas somente após a terceira partida.